Sustentabilidade
Ex-secretários pressionam Biden a analisar plano de proteção para a Amazônia
O New York Times detalhou a articulação para convencer o presidente a firmar compromisso com as propostas


Uma coalizão de ex-secretários e consultores para o clima e meio ambiente dos Estados Unidos se organiza para fazer com que o presidente Joe Biden analise o “Plano de Proteção da Amazônia”, um documento de recomendações de políticas diplomáticas, financiamentos e relacionamentos envolvendo governos e entidades relacionadas à floresta.
A informação foi publicada na última sexta-feira 29 pelo jornal The New York Times. Segundo a reportagem, o grupo enviou ao governo uma carta de intenções acerca da preservação da Amazônia, com foco em acordos comerciais, regulações financeiras e compromissos de corporações em relação à origem lícita da carne e outros produtos.
Fazem parte do grupo dois chefes da Agência de Proteção Ambiental pertencentes a governos republicanos, o ex-representante especial de Barack Obama para mudanças climáticas, dois ex-secretários do governo de Bill Clinton para assuntos globais, e o chefe da delegação americana nas negociações do Protocolo de Kyoto, assinado em 1997.
Uma dos objetivos da coalizão é fazer com que Biden pressione grandes empresas a pagar pela redução de um bilhão de toneladas de gases estufa até 2025.
Outra frente mira os produtos de exportação dos países amazônicos, em especial para o agronegócio brasileiro: restrições à importação de madeira oriunda de exploração ilegal já existem, mas ainda não há a mesma regulação à soja e carne.
No plano, o grupo afirma que um “relacionamento construtivo com o Brasil será vital”: “O Brasil é um aliado importante dos Estados Unidos, um parceiro de comércio e poder regional, e sua população está muito preocupada com as mudanças climáticas e o futuro da Amazônia. A diplomacia americana deve sempre respeitar os interesses legítimos do Brasil”, diz o texto.
Há também destaque para parcerias com a sociedade civil “em conformidade com as leis dos EUA e do Brasil”, mas prevalece a intenção de pressionar o País a apresentar soluções sólidas, com risco de perder o apoio dos americanos em planos como a entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“Ao mesmo tempo, o governo [americano] deve agir decisivamente para reduzir a demanda de bens que levem ao desmatamento ilegal e prejudiquem o clima. É legítimo e razoável levar em consideração a performance do Brasil quando os EUA considerarem políticas relacionadas ao país, incluindo a inserção na OCDE, futuras vendas militares, novos acordos comerciais e outros”. Leia o documento na íntegra [em inglês].
Biden não deve “cometer bullying”, diz ex-embaixador
Um porta-voz de John Kerry, representante de Biden para assuntos internacionais do clima, afirmou ao NYT que a proteção da Amazônia “seria um aspecto importante da diplomacia do clima dos Estados Unidos”.
A questão é uma das mais sensíveis na relação ainda não iniciada de Biden com o presidente Jair Bolsonaro, que apoiou expressamente a tese de que Donald Trump teria ganhado a eleição.
Após uma mensagem “amistosa” publicada nas redes sociais no dia da posse do presidente americano, o máximo de interação entre os dois foi uma risada de Biden ao ser questionado sobre quando teria sua primeira conversa com Bolsonaro.
Um ex-embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, afirmou ao The New York Times que, para ele não irá “bancar o valentão” com o País em relação às pautas climáticas e de conservação, mas sim apelar a uma diplomacia que “convença o Brasil de que existem razões para se envolver novamente com o mundo”.
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