Sociedade

Aumento no preço do diesel eleva clima de greve entre caminhoneiros, diz Abrava

Wallace Landim reage a anúncio da Petrobras sobre reajustes no diesel e na gasolina: ‘Deixa a categoria com nervos à flor da pele’

Aumento no preço do diesel eleva clima de greve entre caminhoneiros, diz Abrava
Aumento no preço do diesel eleva clima de greve entre caminhoneiros, diz Abrava
Caminhoneiros protestam na Rodovia Presidente Dutra, em Seropédica, Rio de Janeiro, em 2018. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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A elevação do preço do diesel anunciada pela Petrobras “aumenta a temperatura” dos movimentos grevistas entre os caminhoneiros, segundo avaliação do presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores, Wallace Landim, o “Chorão”. Em entrevista a CartaCapital nesta terça-feira 26, ele diz que a Abrava ainda não decidiu se vai aderir à greve marcada para 1º de fevereiro, mas afirma que os trabalhadores da categoria estão na “UTI” e precisam fazer algo para que suas reivindicações sejam atendidas.

 

A declaração ocorre após a Petrobras comunicar que elevou os preços da gasolina e do diesel na venda às distribuidoras. A alta é de 5% para a gasolina (dez centavos), chegando a 2,09 reais por litro, e de 4,4% para o diesel (nove centavos), somando 2,12 reais por litro. Como os novos valores dizem respeito à venda das refinarias às distribuidoras, eles não equivalem ao preço pago pelo consumidor final. Até chegar ao último comprador, há o acréscimo de tributos federais e estaduais, custos para aquisição e mistura obrigatória de biocombustíveis e das margens brutas das distribuidoras e dos postos revendedores.

A Petrobras diz que o preço está abaixo da média mundial e que segue as variações do exterior. Para Landim, no entanto, cada alta no preço deixa a categoria com “os nervos à flor da pele”. Como solução, ele pede redução na tributação dos derivados de petróleo.

“Com certeza, aumenta o clima [de greve], a temperatura”, afirma. “Por mais que o aumento seja nas refinarias, a gente sabe que eles vão repassar.”

Wallace Landim, presidente da Abrava, criticou o governo Bolsonaro em vídeo à categoria. Foto: Reprodução

Para Landim, o aumento do diesel se soma a outras queixas dos trabalhadores, como o piso mínimo de frete, ou seja, custo mínimo operacional para o transporte de carga. O tema é tratado na Lei 13.703/2018, criada no governo de Michel Temer após a greve naquele ano, mas, segundo o presidente da Abrava, o texto não é cumprido, e o valor trabalhado na prática está abaixo do custo operacional. Nessa situação, portanto, os caminhoneiros estariam “pagando para trabalhar”.

Segundo a lei, novos reajustes do piso de frete devem ser publicados a cada seis meses, a cada 20 de janeiro e 20 de julho. No último dia 19, a Agência Nacional de Transportes Terrestres publicou um reajuste que aumenta os valores entre 2,34% e 2,51%. O percentual é considerado muito baixo pela categoria. Landim questiona o motivo de o governo não ter feito o cálculo em conjunto com o grupo de pesquisa em Logística Agroindustrial Esalq-Log, que teve o contrato encerrado nesse serviço de consultoria à ANTT.

Landim também se queixa do projeto de lei batizado de BR do Mar, o PL 4.199/2020, que já foi aprovado na Câmara dos Deputados e espera votação no Senado este ano. Proposto pelo Ministério da Infraestrutura, o texto favorece o transporte de carga por navios com incentivos tributários, o que poderia prejudicar os rendimentos dos caminhoneiros. O líder da categoria diz ter conversado com parlamentares para inserir travas e proteger esses trabalhadores, mas, durante a votação, parlamentares governistas suprimiram as emendas que tinham esse propósito. Ele afirma ainda não ter conseguido aprovar os mesmos incentivos tributários aos caminhoneiros. Em vídeo à categoria, declarou que os caminhoneiros foram “traídos” pelo governo.

O presidente da Abrava diz que não se alinha a movimentos paralelos entre os trabalhadores que, segundo ele, chamam as paralisações sem ter conhecimento das causas. Também expressa preocupação com o cenário de pandemia, o que torna o ambiente diferente em relação à greve em 2018. Ele tem conversas previstas com representantes do setor nos estados nos próximos dias para verificar a adesão à greve, que viria crescendo a cada dia. Na próxima semana, há a expectativa de um encontro com senadores, especialmente com o relator da BR do Mar, Nelsinho Trad (PSD-MS).

“O que eu estou passando para eles é o seguinte: estou junto com a categoria. O que a categoria deliberar, estou junto com eles”, declarou. “E eu deixo um recado para o presidente da República: nós somos o Brasil, e ele precisa escutar o Brasil. É triste e deplorável a situação do transporte rodoviário de carga.”

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