Sociedade
Prefeitura de São Paulo repudia ação da Polícia Civil na Cracolândia
Em nota, a prefeitura afirma que ação repressiva pode prejudicar continuidade da Operação Braços Abertos
A Prefeitura de São Paulo repudiou a ação do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), da Polícia Civil, realizada nesta quinta-feira 23 na região da Cracolândia. Em nota assinada pela Secretaria de Comunicação, a administração municipal afirmou ter sido surpreendida pela “ação policial repressiva”.
“A Prefeitura repudia esse tipo de intervenção, que faz uso de balas de borracha e bombas de efeito moral contra uma multidão formada por trabalhadores, agentes públicos de saúde e assistência de pessoas em situação de rua, miséria, exclusão social e grave dependência química”, disse a nota.
Na semana passada, a administração de Fernando Haddad (PT) iniciou a Operação de Braços Abertos, por meio do qual tenta reabilitar os dependentes químicos que vivem na região. A operação municipal desmontou os barracos erguidos nas calçadas nas ruas Helvétia e Dino Bueno, no centro da capital paulista, ofereceu hospedagem em cinco hotéis da região, a contratação para serviços de varrição e zeladoria com carga horária de quatro horas diárias, mais duas de qualificação e salário de 15 reais por dia de trabalho, além do fornecimento de três refeições gratuitas. O modelo não prevê o desligamento dos atendidos caso faltem ao trabalho, mas busca garantir a oportunidade de retomada de uma vida digna e despertar o desejo de transformação no usuário.
“Agentes da Prefeitura trabalham há seis meses para conquistar a confiança e obter a colaboração das pessoas atendidas. A administração reafirma seu empenho na solução deste problema da cidade e manifesta sua preocupação com este tipo de incidente, que pode comprometer a continuidade do programa”, acrescentou a nota.
De acordo com a Polícia Civil, a ação teve início durante uma ação de policiais do 6º DP, que estariam à paisana na região para prender um traficante de drogas e filmar sua atuação. No momento da prisão, afirma a Polícia Civil, um policial foi cercado e agredido por parte dos usuários de crack que frequentam a região com “pauladas e pedradas”. Segundo sua assessoria, foi solicitado o reforço do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), que usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha na repressão. Cerca de 30 pessoas foram presas e seriam submetidas a um “pente fino” para “saber quem é quem”, segundo a assessoria. Entre os detidos está o traficante que era alvo da ação inicial.
A Polícia Civil diz que a ação desta quinta-feira era de praxe e, portanto, não precisava de autorização de escalões superiores ou mesmo do governo do Estado, a quem está submetida. Desde o início do ano, a Polícia Civil diz ter prendido 33 traficantes de drogas na região.
Leia a íntegra da nota da Prefeitura:
A administração municipal foi surpreendida pela ação policial repressiva realizada hoje na região da Cracolândia pelo Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), da Policia Civil.
A Prefeitura repudia esse tipo de intervenção, que fez uso de balas de borracha e bombas de efeito moral contra uma multidão formada por trabalhadores, agentes públicos de saúde e assistência e pessoas em situação de rua, miséria, exclusão social e grave dependência química. A “Operação de Braços Abertos” é uma política pública municipal pactuada com o governo estadual, que preconiza a não-violência e na qual a prisão de traficantes deve ser feita sem uso desproporcional de força.
Agentes da Prefeitura trabalham há seis meses para conquistar a confiança e obter a colaboração das pessoas atendidas. A administração reafirma seu empenho na solução deste problema da cidade e manifesta sua preocupação com este tipo de incidente, que pode comprometer a continuidade do programa. E expressou essa posição diretamente ao Governo do Estado.
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