Política
Recuo do recuo: Bolsonaro decide agora participar de alguns debates
O candidato não sabe se vai a três ou cinco dos sete encontros que acontecerão até o fim do primeiro turno


Jair Bolsonaro voltou atrás. Após o presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebbiano, informar à mídia que o candidato estava propenso a não mais participar dos debates com presidenciáveis, o deputado afirmou na tarde desta quinta-feira 23 que pretende comparecer a três ou cinco do sete encontros programados até o fim do primeiro turno.
Em rápida entrevista a jornalistas, Bolsonaro se confundiu. Inicialmente afirmou que iria a três debates de televisão (Record, SBT e Globo). Repórteres lembraram ao candidato que são cinco os encontros programados. Além das três emissoras citadas, a TV Gazeta e a TV Aparecida anunciaram a organização de debates.
“Então são cinco”, emendou. “Aparecida me interessa, sim, público cristão. Os outros candidatos vão ficar de saia justa lá”.
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O presidenciável alega que os debates o afastam do contato direto com os eleitores, mas decidiu rever a desistência por causa da repercussão ruim de sua decisão. Bebbiano afirmou: “Encheram tanto o saco dele que ele falou ‘vou a todos os debates, porra, pare de me perguntar’”.
A participação nos debates foi colocada em xeque em consequência do fraco desempenho de Bolsonaro nos confrontos anteriores. Pesquisas qualitativas mostram uma profunda decepção de eleitores propensos a votar no deputado que assistiram ao embate entre candidatos na Band e na Rede TV.
Nos grupos de indecisos monitorados pelas campanhas, o presidenciável “derrete”, segundo informações obtidas por CartaCapital. Sua dificuldade em apresentar propostas de forma clara e a fuga constante das perguntas dos adversários chamaram a atenção. Emerge a imagem de despreparo.
No debate da Band, o primeiro do calendário eleitoral, Bolsonaro acabou ofuscado por Cabo Daciolo, do Patriotas, e sua “denúncia” de que Ciro Gomes integrava um grupo que planejava transformar a América Latina em uma república socialista, a Ursal. Sentado durante a maior parte do tempo, contido, Bolsonaro acabou em segundo plano.
No encontro da Rede TV, seu machismo acabou exposto de forma contundente por Marina Silva na discussão sobre igualdade de salários entre homens e mulheres. Pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira 22 mostra que Bolsonaro encontra sua maior dificuldade entre o eleitorado feminino: 43% das eleitoras declararam que não votariam nele “de jeito nenhum”.
Até o momento firme nas pesquisas, em um patamar que oscila entre 17% e 22% das intenções de votos, Bolsonaro só precisa evitar muita marola e resistir à pressão para chegar ao segundo turno. Suas chances de crescimento parecem limitadas, enquanto a possibilidade de perder apoiadores não é desprezível, principalmente por causa da máquina a favor do tucano Geraldo Alckmin, que mira o mesmo eleitorado. Quanto mais quieto, melhor para os seus objetivos.
A ausência daria, porém, aos adversários a possibilidade de reforçar a imagem de um candidato que teme a exposição pública por não ter a mínima ideia de como governar o País. Para quem é visto como um político que não tem medo e é autêntico, a falta nos debates cairia muito mal.
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