Mundo
“Atuação militar russa é declaração de guerra”, diz premier ucraniano
Com tropas russas na Crimeia, Ucrânia fechou espaço aéreo para aviões não comerciais e ordenou mobilização militar completa


Atualizado às 12h44 de domingo 2
A Ucrânia ordenou neste domingo 2 uma mobilização militar completa em resposta à movimentação de tropas russas na região da Crimeia, que faz parte do território ucraniano. As tensões aumentaram consideravelmente no sábado 1, quando o parlamento russo autorizou o uso de tropas no país vizinho. Com isso, a Ucrânia anunciou o fechamento do seu espaço aéreo para aviões não comerciais, as Forças Armadas foram colocadas em atenção, os reservistas estão sendo mobilizados e treinados, e a segurança de locais chave no país, como plantas de energia nuclear, foi aumentada.
O primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, afirmou que o país está a “beira de um desastre” e que a atuação russa é “uma declaração de guerra contra o meu país”. “Pedimos que Putin retire suas tropas da Ucrânia e honre acordos bilaterais. Se ele [Putin] quer ser o presidente que iniciou uma guerra entre dois países vizinhos e amigos, ele está muito próximo de atingir seu objetivo.”
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) está em conversas de emergência para lidar com a crise no leste europeu. A organização afirmou que as ações da Rússia na Crimeia “ameaçam a paz e a segurança na Europa”.
No sábado, os Estados Unidos exigiram o fim imediato da intervenção russa e a Ucrânia pediu apoio internacional em uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU. Kiev alertou que inúmeros soldados russos chegavam à península autônoma da Crimeia.
A embaixadora norte-americana na ONU, Samantha Power, classificou a decisão do Parlamento russo de “perigosa e desestabilizadora” e acusou Moscou de atuar sem base legal. “Viola o compromisso da Rússia de proteger a soberania, integridade territorial e independência da Ucrânia”, afirmou. “É tempo de cessar a intervenção russa na Ucrânia. Os militares russos devem se retirar”, alertou Power.
“Estamos certos de que a Rússia não fará uma intervenção, e de que isto significaria a guerra e o fim da relação entre os dois países”, declarou o primeiro-ministro, Arseni Yaseniuk.
Conversa entre Obama e Putin
No sábado, o presidente dos EUA, Barack Obama, conversou por telefone com Vladimir Putin, presidente da Rússia. Segundo a Casa Branca, Obama disse ao colega que a Rússia violou leis internacionais com sua incursão na Crimeia e alertou sobre as represálias dos EUA e seus aliados. Ele expressou sua preocupação “com a clara violação” à “soberania ucraniana e à integridade territorial”.
Obama disse a Putin que as ações dele eram uma violação da Carta da ONU e do acordo militar russo de 1997 com a Ucrânia. “Os Estados Unidos pedem à Rússia que reduza as tensões com a retirada de suas forças a suas bases na Crimeira e que se abstenha de interferências em qualquer lugar da Ucrânia”, disse o comunicado da Casa Branca.
Putin respondeu que a Rússia tem direito de “proteger seus interesses e a população de língua russa” na Ucrânia, segundo comunicado do Kremlin. O líder russo evocou “a verdadeira ameaça que pesa sobre a vida e a saúde dos cidadãos russos no território ucraniano” assim como “as ações criminais dos ultranacionalistas apoiados pelas atuais autoridades em Kiev”.
Pedido da Ucrânia
Na sessão de emergência do Conselho de Segurança, o embaixador ucraniano na ONU, Yuriy Sergeyev, pediu que o órgão faça “todo o possível para deter a agressão da Federação Russa”. Segundo ele, as tropas russas entraram na Ucrânia ilegalmente como um “ato de agressão contra o estado” e “o número deles vem aumentando a cada hora”. Sergeyev também pediu o envio de observadores internacionais.
Autoridades em Kiev acusam a Rússia de ter enviado 6 mil soldados adicionais à Crimeia. Dezenas de homens armados pró-russos com traje de combate patrulham os arredores de edifícios oficiais na capital da Crimeia, Simferopol, onde também tomaram o controle do parlamento, aeroportos e uma base militar.
O embaixador russo criticou o apoio ocidental aos protestos que levaram à saída do presidente ucraniano Viktor Yanukovytch e afirmou que Putin ainda não tomou uma decisão quanto ao uso de tropas. “Repito, como Eliason disse corretamente, precisamos manter o sangue fria”, disse o Vitali Churkin.
Com informações AFP.
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