Economia

O preço das commodities não vai explodir

Nem aqui nem em lugar nenhum

O preço das commodities não vai explodir
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Sim, o País se manifesta. Na exata forma de sua crescente incivilidade. O retrato, como saído de foco e alma precisos de um Sebastião Salgado, mostra mixórdia, reivindicações desconexas, cartazes ininteligíveis, grupos esparsos desideologizados.

Resultam prolíferos em servir às arcaicas manobras das folhas e telas cotidianas, mas inócuos em amenizar qualquer mazela. Pelo contrário, aumentam-nas, em jornadas para muitos já suficientemente duras.

Divertem-se, tenho certeza, e emulam os tantos animados com os lampejos de junho de 2013, quando se pensou repetirmos Maio de 1968, os 100 mil do Rio de Janeiro, as Diretas-Já.

O Gigante acordou, quer mudanças. Dinheirinho no bolso não basta. E o resto da dívida social não paga, quando vem? Hélas, a Academia poderá sair da modorra e voltar a pensar.

Sorry, mas a periferia somos todos. Desaprendemos até mesmo copiar o que se faz lá fora.

Ah, para por aí, meu caro. Ainda não percebeu? Queremos é saber do agronegócio, seca nos canaviais paulistas, gases emitidos por bovinos em suas relações com as mudanças climáticas, a “inflação dos alimentos”, que neste mês deu um descanso ao assombro dos olhares de William e Patrícia.

Confesso ainda não ter sido tocado em minha vaidade por essa ânsia com o tema, nesta CartaCapital. No entanto, a ele me curvo abrigado sob um guanandi nativo brasileiro, na casa, sítio e fábrica de adubo orgânico de meu amigo Gilberto, agrônomo da Esalq, beirando a fronteira entre os municípios de São Pedro e Piracicaba, em São Paulo.

Quando se quer fazer forte e macho, o guanandi; quando se quer fazer delicada e laboriosa fêmea, a jacareúba. Tanto faz. No léxico brasileiro e sua estupenda regionalização, a Calophyllum brasiliense Cambess comporta mais de 70 nomes.

Madeira da boa. Valiosa. Foi muito usada na construção de mastros para os navios das frotas portuguesas. Tanto que a Coroa determinou seu uso exclusivo por lei, dando origem à classificação “madeira-de-lei”.

Como as leis, apesar de tantas, são pouco respeitadas nesta Federação de Corporações, o guanandi nativo está ameaçado de extinção, no estado de São Paulo.

Em plantações comerciais, destinadas a futuro corte, para atingir 30 metros, o guanandi pode levar de 20 a 25 anos. Madeira-de-lei, igual aos mogno e cedro, trará alta receita e custos equivalentes aos dos eucaliptos e pinus, árvores de valor dez vezes menor.

Mas, guanandi, Rui? Por quê? Uai, porque fui à propriedade de meu amigo Gilberto conhecer a produção de adubos orgânicos, compostagens, condicionadores de solo, terra vegetal com húmus, e acabei sendo apresentado à jacareúba (uso agora o termo no feminino, lembrando os deliciosos blogs e colunas aqui escritos por moças).

Não teria outro assunto, ó pá? Claro que sim.

De tanto comprar soja e abarrotar seus armazéns, a China anda fazendo triangulação do produto com os EUA, complicando o raciocínio dos analistas de tendências; a safra brasileira de grãos, devido ao clima seco em algumas regiões, poderá não chegar aos 200 milhões de toneladas, ainda assim será recorde; o café mantém a demanda, mas não acredito em grande quebra na colheita ora começada, nem na sustentação dos preços em nível atual.

Querem mais? A compra de adubos químicos e minerais continua crescendo em taxas elevadas, pouco investimos em produção de matérias-primas, e dependemos 70% de importações. Pergunto: e por que não nos mantermos assim?

Outra: nem aqui nem em lugar nenhum, os preços das commodities agrícolas explodirão. Elevações nos preços dos alimentos continuarão pontuais e sazonais.

Pouquinho mais? Foi-se muito fundo na redução do plantio das duas safras de milho e o preço do grão que alimenta bicho irá aumentar.

Ah, o Brasil continuará levando ferros institucionalizados no comércio internacional, em 2014/15.

Tudo muito chato, né? Mas vocês pediram. Ou não?

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