Economia

A economia, vista da área econômica do governo

Há alguns sinais ainda tênues de que talvez o governo flexibilize um pouco seu estilo de decidir tudo a portas fechadas, sem ouvir ninguém, e de dar maior peso à figura de Guido Mantega

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Na semana passada, durante a reunião de Davos, corriam soltos os boatos sobre a demissão do ministro da Fazenda Guido Mantega. No mesmo momento, na reunião fechada com 70 dos maiores empresários globais, a presidente Dilma Rousseff se fazia acompanhar por ele, Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e Alexandre Tombini, do Banco Central.

A não-presença do presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) Luciano Coutinho é sintomática. Há pelo menos sete meses Luciano não é recebido por Dilma. Provavelmente será a próxima grande dor-de-cabeça do governo.

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Pela repercussão dos correspondentes, a reunião foi bem sucedida.

Três horas antes, Dilma havia discursado para o plenário do World Economic Forum. Na reunião fechada, recusou-se a repetir o discurso e abriu para o diálogo, de uma forma descontraída que cativou seu público.

Houve perguntas específicas sobre etanol, petróleo, indústria farmacêutica, algumas questões macroeconômicas e sobre segurança na internet, com Dilma tomando a frente nas respostas, respondendo de improviso mas mostrando domínio sobre os temas.

O momento de maior entusiasmo foi quando Dilma anunciou a intenção de criar uma agenda para reduzir a burocracia e a cultura do selo.

Não se tem notícia de nenhuma iniciativa dessa ordem no governo, nem na Fazenda nem no Planejamento. Mas pela repercussão positiva junto aos empresários, acredita-se que em breve será criado um grupo de trabalho para tratar do assunto.

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Há alguns sinais ainda tênues de que talvez o governo flexibilize um pouco seu estilo de decidir tudo a portas fechadas, sem ouvir ninguém.

De alguns meses para cá, por exemplo, o Secretário de Política Econômica Márcio Holland foi incumbido de auscultar permanentemente o mercado e as empresas, para subsidiar as decisões de governo.

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Há a intenção, também, de mostrar que Mantega não é um mero “sim, senhora”, como o mercado supõe. Creditam-se a ele as mudanças na lei de concessões. Em vez de limitar a margem de lucro, flexibilizou-se, e a competição entre as empresas se incumbiu de reduzi-la a níveis razoáveis.

Também teria sido dele a sugestão de, no episódio de redução das tarifas de energia, modificar os cálculos de indenização das empresas do setor elétrico, vistos inicialmente como desastrosos para o setor.

Segundo essa visão, Guido teria coragem de discordar quando julga necessário e teria suficiente intimidade com a presidente para poder debater decisões, sabendo dos seus limites.

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Internamente, na Fazenda, há igualmente uma visão benevolente de Arno Augustin, o secretário do Tesouro. Seria competente, mas não saberia se comunicar. Essa visão otimista não é unânime nem na Secretaria do Tesouro.

Em dezembro, quando foi comunicar a Dilma seu pedido de demissão, o presidente da EPL (Empresa de Projetos e Logística) Bernardo Figueiredo teria protagonizado uma cena hilária com Dilma. Disse-lhe: “Presidente, vou fazer como o Arno: concordo com tudo o que a senhora disse antes e, mais ainda, concordo integralmente com sua mudança de opinião”.

A reação de Dilma foi uma sonora gargalhada.

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