Política

Governo ordena retorno imediato de médicos do INSS às atividades presenciais

ANMP e Fenasps rechaçam política de reabertura das agências da Previdência Social

Governo ordena retorno imediato de médicos do INSS às atividades presenciais
Governo ordena retorno imediato de médicos do INSS às atividades presenciais
O secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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O governo federal ordenou o “imediato retorno ao atendimento presencial” para os peritos médicos federais e os supervisores médico-periciais em dezenas de agências da Previdência Social, de acordo com publicação do Diário Oficial da União (DOU) nesta sexta-feira 18.

 

As agências do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) reabriram na segunda-feira 14, mas servidores se recusam a retomar as atividades presenciais por causa da pandemia do coronavírus. O governo alega ter feito inspeções nas salas de atendimento de perícia médica das agências para verificar as condições de trabalho.

No Diário Oficial, o secretário especial da Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, e o secretário de Previdência, Narlon Gutierre Nogueira, argumentam que a atividade da perícia médica federal é caracterizada como atividade essencial. Em seguida, as autoridades listaram dezenas de unidades do INSS em que as atividades presenciais devem ser retomadas imediatamente.

“Tornam pública a convocação dos Peritos Médicos Federais e Supervisores Médico-Periciais com exercício localizado nas Agências da Previdência Social para o imediato retorno ao atendimento presencial, em complementação às convocações já realizadas pelos canais institucionais próprios”, escrevem.

Em entrevista à GloboNews, Bruno Bianco disse que “quem não voltar estará sujeito às legislações funcionais”. O secretário afirmou que a ordem do governo “não é ameaça”, mas avisou que “quem não voltar vai, infelizmente, levar falta”.

Em resposta, a Associação Nacional dos Peritos Médicos Federais (ANMP) diz que não vai considerar as vistorias feitas pela Secretaria de Previdência e o INSS, chamadas de “checklist fraudulento”. A entidade afirma que vai assumir por conta própria a realização de “revistorias”, em dias e horários ainda não definidos.

Em nota, a ANMP diz que as agências consideradas aptas serão imediatamente liberadas para a categoria retornar ao trabalho. Já as inaptas, escreve a organização, serão alvo de um relatório a ser entregue ao INSS, solicitando as melhorias devidas. Nesses locais, os profissionais afirmam que não comparecerão.

“Devido ao impasse causado pela ruptura de diálogo da Secretaria de Previdência com a Perícia Médica Federal, foi necessário tomar esta atitude visto que a população estava sendo prejudicada pela irresponsabilidade e falta de governança do Ministério da Economia, que está colocando em risco a vida de milhares de pessoas”, diz nota.

Reabertura é genocida e irresponsável, diz Fenasps

Também está mantida a orientação de greve sanitária para os demais servidores das agências do INSS, segundo informa a Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps). Na quinta-feira 17, a entidade publicou uma nota em que classifica a reabertura das unidades como “política genocida e irresponsável”.

Os sindicalistas afirmam que foram realizadas audiências com o INSS nos dias 4, 11 e 14 de setembro. Nas reuniões, a administração do Instituto “foi categórica em afirmar que está mantido o calendário de reabertura das agências”, diz a Federação.

“A Federação, nas audiências, destacou a política absurda do Governo Federal em relação à pandemia da Covid-19, praticamente ignorando a necessidade da manutenção do isolamento social como medida eficaz de controle até que haja uma vacina efetiva”, argumenta.

A Fenasps diz que a média de atendimentos no período anterior à pandemia era de 3 milhões de segurados por mês. A reabertura das agências, portanto, levaria a um aumento do número de contágio e de mortos por Covid-19.

A Federação diz ainda que muitas agências não contam com a instalação correta de anteparos de acrílico nos guichês, para proteger os servidores. Além disso, dizem que o protocolo do governo não prevê testagem em massa dos funcionários, nem ampla higienização dos locais de trabalho.

Nesse cenário, apenas um percentual entre 10% e 30% das agências teriam condições de reabrir. Assim, a Federação prevê alto deslocamento da população e formação de aglomerações em filas nos centros urbanos.

Segundo a Fenasps, há uma adesão parcial da categoria à greve sanitária, mas como o governo não abriu as agências como pretende, ainda não é possível mensurar o impacto da mobilização.

Membro da diretoria da organização em São Paulo, Cristiano Machado defende como solução a concessão automática dos benefícios do INSS aos segurados, para manter o isolamento social e, ao mesmo tempo, não deixar a população sem atendimento.

Machado diz que boa parte dos requerimentos hoje é feita pela internet. Porém, alguns benefícios necessitam do atendimento presencial, como para realização de perícia médica, checagem que tem como finalidade verificar se um solicitante tem direito ou não a um benefício.

“Nesses casos, nós defendemos a concessão automática do benefício e a manutenção do trabalho remoto durante a pandemia, como medida necessária para manter o isolamento social e evitar que as pessoas se dirijam à agência”, diz Machado. “Seria necessário o INSS conceder os benefícios mediante apresentação de atestados médicos por canal remoto, e num segundo momento convocar as pessoas para fazer a perícia presencial.”

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