Política
O embate de ideias econômicas nas eleições
Economistas ligados às três principais candidaturas à Presidência se encontraram em evento na última quinta-feira. Saiba o que cada um defendeu


Na última quinta-feira o Seminário da ANBB (Associação Nacional do Banco do Brasil) “Repensando Estrategicamente o Banco do Brasil”, juntou três economistas ligados aos candidatos à Presidência: Alexandre Rand Barros representando o PSB; Mansueto de Almeida representando o PSDB; e Márcio Pochmann o PT.
A prioridade dos liberais – Mansueto e Rands – são os acertos institucionais; dos desenvolvimentistas – Pochmann -, o plano de desenvolvimento estratégico.
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As críticas dos liberais são focadas em princípios de gestão.
Tem que haver responsabilidade fiscal, clareza sobre os gastos públicos, sobre o custo dos subsídios e previsibilidade na economia.
Não conseguem desenvolver uma visão sistêmica da economia. Rand mencionou estudos próprios sobre os fatores que mais impactam o desenvolvimento e a competitividade. Deu educação. Logo, todo foco tem que ser na educação, como se fosse uma variável autônoma e suficiente. Aliás, Rands deveria ter poupado os presentes da discussão sobre se BC independente é proposta de esquerda ou direita; se melhorar a mobilidade urbana é esquerda ou direita. Um primarismo indesculpável!
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Mansueto, por sua vez, mostra que as políticas sociais necessitam de recursos crescentes; e recursos dependem do crescimento. Para crescer tem que haver previsibilidade. Bastará superávit primário para haver crescimento e atendimento de todas as demandas.
Obviamente, como todas os economistas dessa linha, Mansueto está preocupado em calcular o superávit primário (excluindo juros) e os custos dos maiores e dos menores programas sociais (o que é ótimo). Mas o maior custo do orçamento brasileiro – os juros – não entra nas suas contas.
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De seu lado, Pochmann tem uma visão histórica apurada, defende a ampliação do papel do Estado na economia –e relega para terceiro plano aspectos ligados à própria prestação de contas pública. Como se visão estratégica prescindisse de boa gestão fiscal, de regras claras para a economia e de limites para o voluntarismo do governante.
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Ora, ambas as escolas de pensamento têm vícios recorrentes, que se repetem a cada ciclo. Atribui-se aos liberais a falta de visão estratégica e sistêmica da economia; aos desenvovimentistas os abusos das intervenções personalistas.
No caso do liberalismo, o governo FHC repetiu todos os vícios históricos, com sua falta de visão estratégica, o pouco cuidado para definir a competitividade da economia, o fato de considerar taxa de juros como variável independente.
No caso dos desenvolvimentistas, os últimos anos foram pródigos na explicitação de vícios históricos, com o absurdo dos “campeões nacionais” do BNDES, a concessão de subsídios ao consumo sem obedecer a nenhuma planejamento, a falta de transparência nos custos das políticas públicas e das contas fiscais..
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No atual estágio de desenvolvimento social brasileiro, não se admitem mais políticas personalistas, de gabinetes e falta de controles e transparência.
Com o desafio de ganhar produtividade para garantir a geração de empregos de qualidade, não se pode julgar que o mercado, por si, encontrará o caminho. Há que se ter uma diretriz clara, para impedir a dispersão de esforços e recursos.
Enfim, deixar de usar o carimbo ideológico para práticas que são comuns a todas as políticas públicas virtuosas.
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