Política
Herdeiro político do avô, Campos foi deputado, ministro e governador
Presidenciável morreu aos 49 anos vítima de acidente aéreo quando seguia para cumprir agenda na Baixada Santista


“O político mais brilhante que conheci”, disse, pouco antes de morrer, no mês passado, Ariano Suassuna (foto abaixo). O escritor pernambucano referia-se ao conterrâneo Eduardo Campos, político que viu crescer na casa ao lado da qual vivia na Rua do Chacon, ícone da ebulição cultural do Recife nos anos 1940. Suassuna era vizinho de Miguel Arraes (1916-2005), governador de Pernambuco por três mandatos e avô de Campos, que vivia na casa ao lado.
Candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos morreu na quarta-feira 13 vítima de um acidente aéreo quando a aeronave de pequeno porte na qual viajava caiu em uma área residencial de Santos, litoral paulista.
Herdeiro político do avô, o presidenciável acumulou extensa trajetória: foi deputado federal, ministro e governador de Pernambuco por dois mandatos (2007 a 2013). Era filho da deputada Ana Arraes e do poeta Maximiano Campos. Seu avô, exilado na Argélia pela ditadura até 1979, é até hoje figura política mitificada no interior do estado. Contou com o próprio Campos chefiando seu gabinete e morreu no mesmo dia que o neto, há exatos nove anos.
Em campanha por todo o País, o candidato à Presidência buscava projeção nacional para vencer a disputa de 2014. Nascido no Recife e conhecido em Pernambuco – onde tinha 58% de popularidade –, Eduardo Henrique Accioly Campos cursou Economia na Universidade Federal de Pernambuco, onde deu início à sua militância política como presidente do Diretório Acadêmico em 1985. No ano seguinte, tornou-se oficial de gabinete da Secretaria de Governo da Prefeitura do Recife na gestão Jarbas Vasconcelos (1986-1988) e participou ativamente da campanha para reeleger o avô ao governo de Pernambuco.
Depois de militar pelo PMDB, filiou-se ao PSB em 1990. Pela legenda chegou ao Congresso Nacional como deputado estadual em 1994, com 133 mil votos. Iniciou o mandato em fevereiro de 1995, licenciando-se em seguida para exercer o cargo de secretário estadual de Fazenda, no terceiro governo de seu avô em Pernambuco.
Foi nessa época em que se viu envolto na CPI dos Precatórios, organizada no Senado para investigar a emissão irregular de títulos por estados e municípios, a pretexto de pagamentos de dívidas judiciais. Convocado a depor no Congresso Nacional em março de 1997, confessou haver utilizado o dinheiro para saldar dívidas, mas negou qualquer irregularidade no processo, pois a lei que autorizava o uso do saldo tivera a sanção do próprio Senado. As investigações foram encerradas em julho de 1997.
Reelegeu-se em 1998 como o deputado mais votado de Pernambuco, com um total de 173.657 votos. Em 2002, foi eleito para seu terceiro mandato como deputado federal, mais uma vez como o mais votado no estado.
Tornou-se um dos principais articuladores do governo Lula, ajudando a mobilizar a base governista para aprovar a Reforma da Previdência e assumindo, em 2004, o Ministério da Ciência e Tecnologia. No ano seguinte, assumiu a presidência nacional do PSB depois da morte de seu avô, no dia 13 de agosto de 2005.
Licenciou-se do cargo para concorrer ao governo de seu estado natal em 2006 e viu seu nome associado à “máfia das sanguessugas” em denúncia do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), sub-relator da CPI que investigava o caso. Segundo a denúncia, na época em que era ministro teria compactuado com irregularidades nas licitações para a compra de ônibus para o programa de inclusão digital. Campos contestou as acusações e disse tratar-se de uma tentativa de prejudicá-lo na corrida eleitoral. Venceu a disputa pelo governo de Pernambuco no segundo turno.
Em 2010, candidatou-se a novo mandato e foi reeleito com 82,84%, a maior votação proporcional entre todos os candidatos do País.
Campos disputava a eleição presidencial pela coligação PSB-PPS, tendo como vice a ex-senadora e ministra do Meio Ambiente Marina Silva (acima), que não conseguiu o número suficiente de assinaturas para a criação da Rede, legenda pela qual pretendia disputar a corrida presidencial. Casado com a economista Renata Campos, deixa cinco filhos: Maria Eduarda, João Henrique, Pedro Henrique, José Henrique e Miguel.
Será enterrado no Recife, no mesmo túmulo do avô Miguel Arraes.
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