Sociedade
Líder católico classifica aborto em criança estuprada como “crime hediondo”
Presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, diz que interrupção de gravidez não se justifica


O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, publicou uma mensagem nesta segunda-feira 17 em que se diz contra o procedimento de aborto que uma criança de 10 anos foi submetida após ser estuprada por seu tio em São Mateus, no Espírito Santo.
Segundo o líder católico, a interrupção da gravidez é um crime hediondo e que “não se justifica diante de todos os recursos existentes e colocados à disposição para garantir a vida das duas crianças”.
“Lamentável presenciar aqueles que representam a Lei e o Estado com a missão de defender a vida, decidirem pela morte de uma criança de apenas cinco meses”, completa Azevedo.
O caso
O crime ganhou repercussão no país após a menina comparecer no último dia 7 em um hospital reclamando de dores abominais. Ela descobriu que estava grávida de cinco meses e relatou que desde os quatro anos sofria abusos sexuais do seu tio, um homem de 33 anos.
Pela gravidez ser fruto de um estupro, a menina tinha o direito garantido pela Constituição de passar por um processo de aborto. O caso gerou revolta de militantes de extrema-direita que acusaram a menina e o médico de assassinato.
O acusado foi preso nesta terça-feira em Betim, Minas Gerais, e será encaminhado ao Complexo Penitenciária de Xuri, em Vila Velha, na Grande Vitória.
Veja a mensagem na íntegra:
“Em oração, peço a Deus consolação para todos os envolvidos nessa desafiadora e complexa situação existencial, que feriu de morte a infância, consternando todo o país. O precioso dom da vida precisa ser, incondicionalmente, respeitado e defendido. Ante a complexidade do ocorrido, devemos ser humildes, reconhecendo as limitações humanas, e sempre compassivos- sejamos sinais do amor de Deus.
Lamentável presenciar aqueles que representam a Lei e o Estado com a missão de defender a vida, decidirem pela morte de uma criança de apenas cinco meses, cuja mãe é uma menina de dez anos. Dois crimes hediondos. A violência sexual é terrível, mas a violência do aborto não se justifica, diante de todos os recursos existentes e colocados à disposição para garantir a vida das duas crianças. As omissões, o silêncio e as vozes que se levantam a favor de tamanha violência exigem uma profunda reflexão sobre a concepção de ser humano.”
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