Política
Cerca de 20% das exportações brasileiras vêm de áreas desmatadas ilegalmente
Para chegar à conclusão, pesquisadores avaliaram 815 mil propriedades rurais, principalmente na Amazônia e no Cerrado
Um estudo publicado nesta quinta-feira 16 na revista americana científica Science aponta que aproximadamente 20% das exportações de soja e carne bovina do Brasil à União Europeia (UE) provêm do desmatamento ilegal. A afirmação é feita pelo artigo “As maçãs podres da agroindústria brasileira”, elaborado por 12 investigadores do Brasil, Alemanha e Estados Unidos.
Segundo os pesquisadores, o estudo tomou como base um software de alta potência que lhes permitiu analisar 815 mil propriedades rurais e identificar áreas de desmatamento ilegal, principalmente na Amazônia e no Cerrado.
“Entre 18% e 22%, possivelmente mais, das exportações anuais do Brasil para a União Europeia são fruto de desmatamento ilegal”, afirma o líder do projeto e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raoni Rajão.
Ainda que a constatação seja negativa, os autores afirmam que o País tem a capacidade de se tornar uma “potência ambiental mundial capaz de proteger seu ecossistema e, ao mesmo tempo, alimentar o mundo”.
Como exemplo, os pesquisadores citam que 80% dos agricultores seguem o Código Florestal e afirmam que o uso do novo software poderia ajudar a “tomar medidas rápidas e decisivas contra os infratores”.
Em um trecho, o estudo afirma que “maçãs podres do agronegócio brasileiro destroem a floresta para saciar o apetite europeu” e reiteram a necessidade do País tomar decisões políticas pela preservação, não descartando a responsabilidade do mercado europeu.
Os pesquisadores apontam que cerca de dois milhões de toneladas de soja cultivadas em propriedades onde foi registrado desmatamento ilegal, principalmente no Cerrado, teriam como destino a União Europeia.
Os autores avaliam como o País vem caminhando em uma direção oposta à da preservação, com políticas que favorecem o desmatamento, caso da
grilagem de terras, que tem o apoio do Bolsonaro e prevê a abertura das reservas indígenas e áreas de proteção ambiental para atividades de mineração e agricultura.
A pesquisa vem à tona em um momento de forte resistência europeia pela ratificação do acordo de livre comércio assinado no último ano entre a UE e o Mercosul, devido ao avanço no desmatamento na Floresta Amazônica desde a chegada de Jair Bolsonaro à presidência no Brasil.
Dados oficiais mostram que a Amazônia brasileira registrou um recorde semestral de desmatamento, uma área de 3.070 km² entre janeiro e junho. Isso representa um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano passado, estabelecendo um recorde desde o início da série, em 2015.
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