Educação
Estudante da USP é expulso após fraudar cotas raciais e sociais
Julgamento é o primeiro do tipo na história da universidade, em 193 anos de existência. O jovem tem 10 dias para apresentar recurso contra decisão


Um estudante da Universidade de São Paulo (USP), do curso de relações internacionais, foi expulso da instituição após fraudar as cotas raciais e sociais. A decisão foi tomada após julgamento do caso pelo comitê da universidade, que votou de maneira unânime pelo cancelamento da matrícula. O jovem tem 10 dias para apresentar recurso questionando a decisão. Julgamento é o primeiro da história da universidade em 193 anos de existência, dada a fundação da Faculdade de Direito em 11 de agosto de 1827.
No momento da entrada na universidade, Braz Cardoso Neto declarou ser pardo, ter descendência negra e ser de baixa renda, mas falhou com a comprovação, segundo entendimento dos membros do comitê. O grupo chegou a receber do jovem fotos de pessoas negras que ele alegou serem seus avós, mas não informações que comprovassem o parentesco. Além disso, a ascendência não é critério para inclusão na política de cotas da universidade.
No âmbito da cota social, o jovem informou renda mensal de R$ 4 mil reais para quatro pessoas, sendo três responsáveis por essa composição e uma dependente. No entanto, conforme investigação do comitê, o estudante viajava para o exterior com frequência e, ainda de acordo com colegas, usava um carro particular como meio de transporte. À universidade, o jovem tinha dito que utilizava transporte público. Já sobre a viagem recente à Miami disse ter sido um presente à mãe.
A decisão do comitê da universidade tomou como base uma denúncia encaminhada pelo Coletivo de Negras e Negros do Instituto de Relações Internacionais da USP, que anexou fotos para contestar as informações apresentadas pelo estudante. Braz atestou a veracidade das imagens relacionadas.
Ainda de acordo com a autodeclaração alegando ser pardo, os membros do comitê dizem reconhecê-la, mas atestam que somente a cor da pele não categorizam expressão racial parda. O estudante entrou na universidade pelo edital do Sisu de 2019, que esclarece que “as cotas raciais destinam-se aos pardos negros e não aos pardos socialmente brancos, conclusão que demanda a observação da cor da pele associada às demais marcas ou características que, em conjunto, atribuem ao sujeito a aparência racial negra”.
No entendimento do comitê, exposto em um relatório, a comissão aponta que da mesma maneira que a ascendência branca não resguarda negros de sofrerem racismo, a ascendência negra não imputa a experiência do racismo ao estudante.
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