

Opinião
Bolsonaro e seus 30%: “Ele é bom. Precisamos dar-lhe tempo!”
Desde funcionários de fábrica até plantadores de alho no Triângulo Mineiro juntam a história de Lula a Bolsonaro. Claro que indevidamente


Os mais idosos, de alto risco pois, poderão lembrar-se do quanto esta Federação de Corporações perdeu oportunidades de ser importante potência econômica, social e cultural ao subjugar-se ao que de pior existe em suas elites.
Poderia tratar disso historicamente, mas deixo isso a vocês, jovens, a quem caberá mudar esses rumos farsescos. Se em folgada quarentena (a minha está em 70 dias), e notáveis como são, poderão aproveitar para estudarem e lerem Freyre, Holanda, Caio Prado, Ignácio Rangel, Chauí, Souza Martins, tantos outros antigos, ou atuais, como Belluzzo, Luís Nassif, Laura Carvalho, Ricardo Carneiro, outros.
Nem que sejam as resenhas. Fáceis e úteis. Para galhofas também me esqueçam, ando meio em finitude clássica, e tem meninada boa por aí. A Werneck, Adnet, Duvivier, Porchat, Benvindo Sequeira.
Só perderiam para aqueles que fundaram e mantiveram “O Pasquim”, semanário alternativo, de 1969 a 1991, auge da repressão, sem nada perdoarem, desde política, economia, cultura e sociedade justa. Na pilhéria, não boba como a maior parte da atual, mas contundente, às vezes ao ponto da irresponsabilidade.
Fui colecionador. Edições semanais seguidas, hoje esmigalhadas por traças cruéis, assassinas da cultura, como o coronavírus é de nossas vidas.
Algo que lá admirava: a coragem de quebrar o pau entre si. Não precisavam rotular “réplica” ou “tréplica”, apenas escreviam, malhavam uns aos outros. Alvos e leitores entenderiam. Lembro de uma discussão, quase concurso. Que descobríssemos, tempos menos corretos, quem seria a bicha do “Pasquim”. Se controvérsias nascessem na redação, não havia o menor problema em ser exportada aos leitores.
Excelências literárias e liberais lá escreviam. Pesquisem. Felizmente, alguns ainda estão por aqui, outros perdemos. Tenho suas antologias, talvez esgotadas. Releio-as com frequência. A inteligência se sobressaía até mesmo sobre o excelente e corrosivo humor.
Diferente do hoje em dia, lá era possível divergir na pancada. Agora, todos educados, pisamos em ovos ao discordar do que diz a intelectualidade em nomes privilegiados.
Se quiserem saber pouco mais de O Pasquim.
Sei que teríamos uma exposição, no SESC Ipiranga, comemorativa dos 50 anos, de fundação de O Pasquim. Creio ter sido adiada pela pandemia.
E por que uso este espaço no site em acordes pasquinianos? Cômodo seria escrever sobre os planos do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e do vice-presidente, “Mourão Arame Fardado”, que pretendem lançar o “Plano Ambientalismo de Resultados”.
Cada uma …! Como se tivéssemos esquecido Medeiros e seu sindicalismo de resultados. Estes, sabemos para que bolsos foram.
Leio com atenção a última edição impressa de CartaCapital, onde Ciro Gomes confessa a Mino Carta: “Lula mente, é um mentiroso compulsivo, (…) no poder o PT produziu a pior crise econômica do Brasil”. O eterno rival esquece como Lula saiu “da pior crise mundial desde 1929”.
Se Lula mente, não sei, eu, por exemplo, minto. Sabemos de suas mágoas e pretensões, mas é só isso? Alguém, honesto, jogará nas costas do PT tal crise?
Mais: reconhecida a competência de Esther Solano, em coluna e entrevista, nenhum contraponto à sua descoberta de que o secular Acordo de Elites, se resume a negros e mulheres. Estariam homens brancos e pobres excluídos do perfil da população brasileira? Fala, IBGE!
Na entrevista dada a Sergio Lirio, a socióloga, após estudar por três anos a inconformidade com o governo do ex-capitão, reduz a um “nunca vi tanta decepção”.
Mesmo, doutora? Verdade, amigo redator-chefe? Decepção? Onde? De quem? Conversam fora das magníficas metrópoles Sul, Sudeste, Centro-Oeste? Ou em quaisquer áreas de atividades agrárias do país? Seria importante, então, que seus repórteres saíssem à procura de tal decepção.
Não aconselho acreditarem nos tais 30%. Pelo menos, não enquanto este idoso de alto risco pôde cumprir suas Andanças Capitais e conversar, ouvir, bebericar, mesmo no Nordeste, comendo rim de bode e bebendo Caribé, para constatar que ainda é grande a esperança no Mito. Somos brasileiros bobinhos, não?
Em 2003, início de Lula e PT, também foi assim. O tal um terço. O PSDB acreditou nisso e, a cada crise, ficou oito anos até ver chegar a 85%. Imaginem se Lula, como o Regente Insano Primeiro (RIP), tivesse as Forças Armadas para garanti-lo?
Lula nunca pode contar com Forças Armadas, milicianos, pelo contrário, um analfabeto, que não falava inglês, nordestino, metalúrgico do ABCD paulista, sem um dedo e sindicalista. Logo a decepção viria.
Não é o que vejo ou ouço sobre RIP. Desde funcionários de fábrica até plantadores de alhos no Triângulo Mineiro juntam a história de Lula a Bolsonaro. Claro que indevidamente.
Professora Esther vê incrível decepção. Não tome como galhofa, mas a decepção será sua.
Ouvirá: “Judiciário, Congresso, governadores, Globo, PT, vírus … ele é bom. Precisamos dar-lhe tempo!”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Governo Bolsonaro transfere dinheiro do Bolsa Família para propaganda
Por Giovanna Galvani
Crise de governo Bolsonaro dificulta “saída pela diálogo”, dizem especialistas
Por RFI
Rejeição ao governo Bolsonaro cresce e 58% dizem ser favoráveis a impeachment
Por CartaCapital