Sustentabilidade

Salles revoga despacho que anistiava invasores da Mata Atlântica

Nas redes, o ministro afirma que revogou o ato para aguardar decisão de processo que tramita no STF

Salles revoga despacho que anistiava invasores da Mata Atlântica
Salles revoga despacho que anistiava invasores da Mata Atlântica
Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles Foto: Marcos Corrêa/PR
Apoie Siga-nos no

O ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles revogou, nesta quinta-feira 04, um despacho publicado em abril que alterava o marco legal de reservas na Mata Atlântica e permitia que invasores de terras não fossem punidos se tivessem ocupado o local até 2008 – o que contraria uma lei específica para o bioma, um dos mais devastados do Brasil.

A decisão de Salles, na época, foi baseada apenas em um parecer da Advocacia-Geral da União, que usou do Código Florestal, lei federal de 2012, para dar passe livre àqueles que invadiram territórios até o dia 22 de julho de 2008. No entanto, ao contrário do que determina o Código, a Mata Atlântica sempre esteve sob a tutela de uma lei específica, que só “anistiava” invasores e concedia tutela sobre a região ocupada com a data máxima de 26 de setembro de 1990.

A alteração cancelaria milhares de infrações legais que ainda correm na Justiça e, por consequência, daria legitimidade a terras ocupadas de maneira clandestina. Ela foi contestada pelo Ministério Público Federal.

 

“O ato administrativo coloca em risco o que resta da Mata Atlântica no território brasileiro, cerca de 12% da cobertura original. Isso porque, ao reconhecer as propriedades rurais instaladas em áreas de proteção ambiental até julho de 2008, permite o cancelamento de milhares de autos de infração ambiental por desmatamento e incêndios provocados em áreas de preservação do bioma.”, afirmou o órgão em um pedido de ação civil pública.

Nas redes sociais, Salles publicou que a medida judicial em trâmite irá definir “de uma vez por todas” se o Código Florestal será considerado em relação a discussões referentes à Mata Atlântica. “Diante dessa ação, revogamos o despacho que acolhia o parecer vinculante, para aguardar a decisão no processo”, escreveu.

Na reunião ministerial do dia 22 de abril, que foi divulgada no âmbito das investigações sobre possíveis interferências do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal, o ministro fala em querer aproveitar o momento da pandemia de coronavírus para alterar legislações ambientais, já que a imprensa, em tese, não estaria atenta às mudanças propostas. Na ocasião, mencionou o decreto sobre a Mata Atlântica, reclamando das ações judiciais que surgiriam diante da flexibilização à destruição do bioma.

“Então, para isso, precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), de ministério da Agricultura, de ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação”, disse.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo