Sociedade
Ato termina com tiros de borracha e depredação
PM culpa manifestantes, mas ação policial truculenta desencadeou o quebra-quebra no centro da capital paulista


Pela terceira vez em quatro manifestações contra o aumento da passagem de trem, metrô e ônibus em São Paulo, a Polícia Militar se antecipou aos black blocs e, com tiros de borracha e bombas de efeito moral, dispersou o protesto faltando poucos metros para acabar a marcha. A ação surpreendeu os manifestantes e desencadeou um quebra-quebra promovido por black blocs pelas ruas do centro.
Até o fechamento da reportagem, quatro manifestantes haviam sido levados para o 2º Distrito Policial, um deles ferido na cabeça. Um repórter de O Estado de S. Paulo foi atingido na perna por uma bala de borracha, mas passa bem.
O protesto saiu às 18h do Theatro Municipal com um roteiro que passaria pela Prefeitura, Secretaria de Transportes e Câmara Municipal de São Paulo antes de acabar na Praça da República. Com poucos black blocs e gritos tímidos contra a polícia, a manifestação ganhava contornos de que terminaria pacificamente, como a de terça-feira (20) no Tatuapé, zona leste da cidade.
O clima só ficou tenso em frente à Câmara, quando uma black bloc ateou fogo em uma bandeira do Brasil. Com calma, manifestantes e polícia afastaram a garota e se encaminharam para a última parte da marcha. Depois de ganhar a Rua Coronel Xavier de Toledo e se aproximar da Rua São João, um barulho de bomba e um clarão surpreendeu os manifestantes, que tentaram convencer a PM a garantir a conclusão do ato.
Sem diálogo, os policiais levantaram seus escudos e partiram para cima da imprensa e de quem protestava. Logo, mais bombas de efeito moral e tiros de bala de borracha espalharam manifestantes pelas ruas estreitas do centro.
Foi então que os black blocs entraram em cena. Até então escondidos, passaram a arrancar as lixeiras dos postes e a atirar o lixo no chão. Com um pedaço de madeira, atacaram a fachada do cinema Marabá. As pedras serviram para estilhaçar a fachada de uma agência do Bradesco.
Membro da Ong Observadores Legais – que acompanha a ação da polícia em manifestações populares -, Josias Filho considerou “ilegal” a intervenção policial. “Aparentemente, o tiro partiu da PM. O protesto estava pacífico.”
Segundo a versão da polícia, manifestantes teriam disparados rojões de um prédio na rua Conselheiro Crispiniano, mas não houve testemunhas civis.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.