Opinião

Moro não fez um pronunciamento, mas uma “delação premiada”

O ministro demissionário entregou em detalhes a tentativa de interferência política de Bolsonaro na PF. Moverá as peças do impeachment?

Moro não fez um pronunciamento, mas uma “delação premiada”
Moro não fez um pronunciamento, mas uma “delação premiada”
Sergio Moro e Jair Bolsonaro. Foto: Marcos Corrêa/PR
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São gravíssimas as declarações do ministro demissionário Sérgio Moro. Tão graves e detalhadas que um amigo classificou o pronunciamento do “paladino” da Justiça de delação premiada. Ao descrever pormenores de suas conversas com Jair Bolsonaro, seus embates em torno da dispensa ou não do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ele não só alimenta a fogueira em torno das conversas a respeito do impeachment do ex-capitão como limita o grau da ingerência real que o ocupante do Palácio do Planalto pretendia exercer no órgão.

O substituto de Valeixo, ao menos nos primeiros meses, estará sob vigilância completa e escrutínio dos poderes e da mídia. Qualquer movimento em falso e virá o terremoto. Imagine uma substituição em massa dos superintendentes estaduais, conforme insinuou Moro.

Para muitos, após as revelações do ex-ministro, a simples nomeação de um substituto daria margem para a caracterização de obstrução de Justiça, crime passível de perda de mandato. Para outros, Moro se vê obrigado a provar as suas afirmações. O ex-ministro gravou o presidente? Há testemunhas das conversas? Como na Operação Lava Jato que comandava, bastará a palavra de um “réu” contra outro? Ao saber das intenções de Bolsonaro e não ter avisado aos órgãos de controle dos desmandos, não teria Moro prevaricado?

As perguntas não acabam aqui. O que significaria a insistência de Bolsonaro em substituir o superintendente da PF em Pernambuco? Seria uma tentativa de transformar o órgão em polícia política para perseguir os governadores do Nordeste, elevados à posição de inimigos por conta dos delírios autoritários do ex-capitão, e outros adversários?

Moro confirmou a impressão geral: a empreitada de Bolsonaro, iniciada, segundo o ex-ministro, no segundo semestre do ano passado, tinha por objetivo proteger os filhos de investigações por corrupção ou por atentados contra a democracia. Fica exposta mais uma faceta do ex-capitão. Diante da morte de mais de 3 mil brasileiros em decorrência do coronavírus – vítimas desdenhadas por ele (“não sou coveiro”, “todo mundo vai morrer um dia” etc.) -, Bolsonaro só está preocupado em salvar a pele dos rebentos, dos “garotos”, dos “seus”.  Surpreende que 52% da população ainda considere que ele tenha condições de governar o País. Ou que uma franja de lunáticos acredite cegamente em seus “compromissos com o povo”.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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