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Centro de doenças dos EUA tira do ar orientações sobre cloroquina
Antes, o CDC noticiava em seu site que havia médicos usando o remédio no tratamento da covid-19; agora, ele só pede prudência


O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos resolveu reduzir a quantidade de informações sobre o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina no tratamento da covid-19 em seu site, disse a Reuters na quarta-feira 08. As orientações anteriores davam as indicações de uso aos médicos e até a dosagem recomendada pela agência, mas, agora, o medicamento não aparece na página principal de aconselhamento aos profissionais de saúde.
O medicamento, que é usado usualmente com pacientes com malária, tem sido amplamente debatido sobre o nível de pesquisa que existe para a aplicação dele em pacientes com coronavírus. Até o momento, há indicações para que, caso a caso, o médico avalie o uso da substância em pacientes mais graves.
A mudança no site da agência americana vai de encontro à visão científica. “Não existem drogas ou outras terapias aprovadas pela Administração de Alimentos e Drogas para prevenir ou tratar a Covid-19”, diz o texto da página principal direcionada aos médicos. “Os procedimentos clínicos atuais incluem prevenção da infecção e medidas de cuidado e suporte, incluindo oxigenação suplementar e ventilação mecânica quando indicado”, diz o site.
A cloroquina foi anunciada pelo presidente Donald Trump como um remédio proeminente contra o coronavírus, apesar da falta de base científica na época. Inspiração constante para as decisões de Jair Bolsonaro, o remédio também tem sido usado pelo presidente brasileiro como uma possível “cura” para a infecção.
O jornal americano The New York Times chegou a divulgar uma reportagem que associa os interesses de Trump na produção em larga escala da cloroquina aos negócios com a gigante farmacêutica Sanofi, que detém a patente do medicamento e tem, como o dono de sua empresa holding, um dos maiores doadores ao partido Republicano.
Além dos EUA, pesquisadores europeus também discutem sobre os efeitos da droga. O médico francês Didier Raoult publicou um novo estudo sobre um derivado da cloroquina que, segundo ele, confirma a “eficácia” do tratamento contra o novo coronavírus, ao contrário do que afirmam diversos especialistas.
O estudo abrange 80 pacientes, 80% deles com uma “evolução favorável”. Segue um estudo anterior que incluiu 20 paciente, que gerou críticas pela metodologia utilizada. Outros médicos apontam a amostragem tomada pelo francês como insuficiente para dar respostas ao tratamento da covid-19. Os especialistas criticam o fato de a pesquisa não incluir nenhum grupo de controle (pacientes que não recebem o tratamento estudado) e que, por isto, é impossível estabelecer uma comparação para determinar se o tratamento provocou a melhora.
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