Henry Bugalho

henrybugalho@gmail.com

Henry Bugalho é curitibano, formado em Filosofia pela UFPR e especialista em Literatura e História. Com um estilo de vida nômade, já morou em Nova York, Buenos Aires, Perúgia, Madri, Lisboa, Manchester e Alicante. Por dois anos, viajou com sua família e cachorrinha pela Europa, morando cada mês numa cidade diferente. Autor de romances, contos, novelas, guias de viagem e um livro de fotografia. Foi editor da Revista SAMIZDAT, que, ao longo de seus 10 anos, revelou grandes talentos literários brasileiros. Desde 2015 apresenta um canal no Youtube, no qual fala de Filosofia, Literatura, Política e assuntos contemporâneos.

Opinião

Como voltar à vida de antes? Para mim, soa impossível

São muitas as dúvidas sobre o que encontraremos do lado de lá, mas temos pelo menos uma certeza: este momento vai passar

Como voltar à vida de antes? Para mim, soa impossível
Como voltar à vida de antes? Para mim, soa impossível
Espanha. Foto: AFP
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Fim da terceira semana de quarentena aqui na Espanha. Escolas fechadas, lojas fechadas, restaurantes fechados. Apenas serviços essenciais operando, o que inclui supermercados, farmácias e agências bancárias. Quase não se vê ninguém nas ruas.

O país inteiro parou, somente aguardando que o pior da pandemia de coronavírus passasse. Além das óbvias e devastadoras consequências econômicas, o efeito mais traumático é sem dúvida o das vidas perdidas: na última contagem, 13 mil mortos dentre 135 mil infectados. Famílias despedaçadas, muitas vezes sem nem terem o direito de se despedirem de seus entes amados, proibidos de visitá-los nas UTIs e tampouco sem velórios. Adoecem, são internados e simplesmente somem de suas vidas.

Entretanto, sem as duras medidas adotadas pelo governo espanhol, este cenário poderia ter sido muito pior.

Após três semanas, começamos a ver índices um pouco mais animadores. A curva de contágio tem começado a diminuir e de mortos também e, nestes últimos dias, iniciaram-se debates de como será o retorno à vida normal.

A primeira constatação é que a vida normal não existe mais, e esta é uma conclusão que muitos de nós chegamos durante o isolamento. Como voltar à vida de antes?

Para mim, isto soa impossível.

A vida comunitária tardará a ser resgata. Shows, bares e baladas lotadas deixarão de existir por um bom tempo, isto até termos uma vacina ou algum tratamento eficaz contra o coronavírus.

Tudo indica que o retorno será gradual, pouco a pouco. Primeiro, alguns passeios ao ar livre, depois alguns estabelecimentos voltando a operar, enquanto aqueles que integram os grupos de risco ainda provavelmente deverão continuar isolados.

Será um retorno lento e em incremental, para que pouco a pouco nos habituemos a esta nova realidade.

Confesso que o mais difícil para mim nem sequer é o fato de permanecer em casa dias e dias a fio, mas não ter uma data-limite, não saber exatamente quando isto terminará.

Contudo, o simples fato de estarmos discutindo a possibilidade do relaxamento da quarentena, mesmo que remota, de podermos aos poucos retornar às nossas atividades, já é animador.

A segunda constatação é que todos vamos mergulhar num mar de incertezas. Empregos foram liquidados, empresários não sabem como será o dia seguinte. A Espanha que a tantas penas lutou para se recuperar da última crise econômica e que ainda carrega as marcas da perda de poder econômico e qualidade de vida, terá de se reerguer uma vez mais. Mesmo assim, a população exibiu um verdadeiro espírito cívico e está unida, embora estejamos todos separados em nossos lares, todos aguardando.

São muitas as dúvidas sobre o que encontraremos do lado de lá, mas temos pelo menos uma certeza: este momento vai passar, como todos os demais.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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