Fim da terceira semana de quarentena aqui na Espanha. Escolas fechadas, lojas fechadas, restaurantes fechados. Apenas serviços essenciais operando, o que inclui supermercados, farmácias e agências bancárias. Quase não se vê ninguém nas ruas.
O país inteiro parou, somente aguardando que o pior da pandemia de coronavírus passasse. Além das óbvias e devastadoras consequências econômicas, o efeito mais traumático é sem dúvida o das vidas perdidas: na última contagem, 13 mil mortos dentre 135 mil infectados. Famílias despedaçadas, muitas vezes sem nem terem o direito de se despedirem de seus entes amados, proibidos de visitá-los nas UTIs e tampouco sem velórios. Adoecem, são internados e simplesmente somem de suas vidas.
Entretanto, sem as duras medidas adotadas pelo governo espanhol, este cenário poderia ter sido muito pior.
Após três semanas, começamos a ver índices um pouco mais animadores. A curva de contágio tem começado a diminuir e de mortos também e, nestes últimos dias, iniciaram-se debates de como será o retorno à vida normal.
A primeira constatação é que a vida normal não existe mais, e esta é uma conclusão que muitos de nós chegamos durante o isolamento. Como voltar à vida de antes?
Para mim, isto soa impossível.
A vida comunitária tardará a ser resgata. Shows, bares e baladas lotadas deixarão de existir por um bom tempo, isto até termos uma vacina ou algum tratamento eficaz contra o coronavírus.
Tudo indica que o retorno será gradual, pouco a pouco. Primeiro, alguns passeios ao ar livre, depois alguns estabelecimentos voltando a operar, enquanto aqueles que integram os grupos de risco ainda provavelmente deverão continuar isolados.
Será um retorno lento e em incremental, para que pouco a pouco nos habituemos a esta nova realidade.
Confesso que o mais difícil para mim nem sequer é o fato de permanecer em casa dias e dias a fio, mas não ter uma data-limite, não saber exatamente quando isto terminará.
Contudo, o simples fato de estarmos discutindo a possibilidade do relaxamento da quarentena, mesmo que remota, de podermos aos poucos retornar às nossas atividades, já é animador.
A segunda constatação é que todos vamos mergulhar num mar de incertezas. Empregos foram liquidados, empresários não sabem como será o dia seguinte. A Espanha que a tantas penas lutou para se recuperar da última crise econômica e que ainda carrega as marcas da perda de poder econômico e qualidade de vida, terá de se reerguer uma vez mais. Mesmo assim, a população exibiu um verdadeiro espírito cívico e está unida, embora estejamos todos separados em nossos lares, todos aguardando.
São muitas as dúvidas sobre o que encontraremos do lado de lá, mas temos pelo menos uma certeza: este momento vai passar, como todos os demais.