Política

Projeto sobre taxação de fortunas está pronto para ser votado em Comissão do Senado

Senador Plínio Valério pediu agilidade na tramitação da proposta com olhos nas ações de combate à crise do coronavírus

Projeto sobre taxação de fortunas está pronto para ser votado em Comissão do Senado
Projeto sobre taxação de fortunas está pronto para ser votado em Comissão do Senado
Senador Plínio Valério (PSDB-AM) - Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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Parte da solução para a crise econômica decorrente da pandemia de coronavírus pode estar na taxação de grandes fortunas. É o que propõe o projeto de lei complementar (PLP 183/2019) do senador Plínio Valério (PSDB-AM), que está pronto para ser votado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal – o que ainda não tem data para acontecer.

Segundo a proposta, o novo imposto incidiria sobre patrimônios líquidos superiores a R$ 22,8 milhões, com alíquotas que vão de 0,5% a 1% A expectativa, de acordo com o autor da proposta, é de arrecadação anual de R$ 70 a 80 bilhões. “Vou pedir ao vice-presidente [do Senado], Antônio Anastasia (PSD-MG), para agilizar sua inclusão na pauta de medidas urgentes a serem deliberadas durante o estado de calamidade pública”, disse o autor, via Twitter.

Relator do projeto na comissão, Major Olímpio (PSL-SP) se diz favorável ao texto, mas fez uma mudança significativa em relação à proposta original: tornou o imposto temporário, com duração de apenas dois anos. “Apesar de bem construída e fundamentada a proposta, pelo momento de saúde pública vivido, acredito que a instituição permanente desse tributo poderá ser debatida em outro momento, com uma discussão mais ampla”, analisou Olímpio.

Além disso, Olímpio dividiu a destinação dos recursos que, ao invés de serem destinados exclusivamente para o Fundo Nacional de Saúde (FNS), também beneficiarão o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, sendo 50% da arrecadação direcionada ao FNS e 25% para cada um dos demais.

Entenda o projeto

O projeto de lei 183/2019 considera “grande fortuna” o patrimônio líquido que exceder o valor de 12 mil vezes o limite mensal de isenção do Imposto de Renda, atualmente em R$ 1.903,98. Dessa forma, seriam taxados fortunas acima de R$ 22,8 milhões, em três faixas de tributação: 0,5% de imposto para quem declara entre R$ 22,8 milhões e R$ 38 milhões, 0,75% quem tem entre R$ 38 milhões e R$ 133,2 milhões e 1% para os milionários com patrimônio superior.

Cada alíquota incide sobre a parcela do patrimônio prevista na respectiva faixa de tributação. Por exemplo: uma pessoa física com patrimônio de R$ 150 milhões deve pagar 0,5% sobre R$ 15,2 milhões (diferença entre R$ 38 milhões e R$ 22,8 milhões — primeira faixa); 0,75% sobre R$ 95,2 milhões (diferença entre R$ 133,2 milhões e R$ 38 milhões — segunda faixa); e 1% sobre R$ 16,8 milhões (diferença entre R$ 150 milhões e R$ 133,2 milhões — terceira faixa). O valor final do Imposto de Grande Fortuna (IGF) é a soma dessas três parcelas.

De acordo com o projeto, pessoas físicas e jurídicas devem pagar o tributo. Quem mora no exterior contribui apenas sobre o patrimônio existente no Brasil. O imposto também incide sobre o espólio das pessoas físicas. Segundo o texto, cada cônjuge ou companheiro de união estável será tributado individualmente, mas o projeto admite a possibilidade de cobrança por metade do valor do patrimônio comum. Bens e direitos registrados em nome de filhos menores são tributados com os dos pais.

Além disso, o projeto prevê alguns bens isentos de incidência do IGF, como o imóvel de residência do contribuinte (até o limite de 20% do patrimônio), os instrumentos de trabalho (até 10% do patrimônio), os direitos de propriedade intelectual ou industrial e os bens de pequeno valor, além de possibilidade de abatimento de outros impostos, como o  Territorial Rural (ITR) e o de Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), entre outros.

Expectativa alta

Caso seja aprovada a iniciativa, o senador Plínio Valério acredita que uma soma bilionária chegue aos cofres públicos para ajudar a crise do coronavírus. “O presidente da Fenafisco [Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital], Charles Alcântara, diz que o Brasil tem 206 bilionários com fortuna de mais de R$ 1,2 trilhão. Eles pagam proporcionalmente menos impostos que a classe média e os pobres. Se taxasse o patrimônio trilionário dessas famílias em 1%, seria possível arrecadar R$ 80 bilhões”, escreveu.

Enquanto aguarda para ser votada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, a proposta de imposto sobre grandes fortunas do senador do PSDB está sendo submetida ao crivo da população por meio da internet – e com bastante sucesso. Até a última quinta-feira 26 à tarde, a consulta pública sobre o projeto de lei já havia recebido o apoio de mais de 262 mil usuários e a reprovação de pouco mais de 5 mil.

*Com informações da Agência Senado

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