Política

Petroleiros alertam que falta de acordo com Petrobras ameaça abastecimento

Paralisação chega ao 13º dia e já mobiliza 20 mil petroleiros em 113 bases do Sistema Petrobras

Petroleiros alertam que falta de acordo com Petrobras ameaça abastecimento
Petroleiros alertam que falta de acordo com Petrobras ameaça abastecimento
Petroleiros enfrentam batalha judicial para manter greve contra demissões na Petrobras. Foto: Reprodução/Facebook
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Os petroleiros chegam ao 13º dia de greve nesta quinta-feira 13 com anúncio de ampliação das paralisações. Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), já são 113 bases do Sistema Petrobras, em 13 estados do país, com mais de 20 mil petroleiros mobilizados. Na quarta-feira 12, a FUP contabilizava 108 unidades paralisadas.

De acordo com a organização, estão em greve 53 plataformas, 23 terminais, 11 refinarias, 7 campos terrestres, 7 termelétricas, 3 Unidades de Tratamento de Gás (UTGs), 1 usina de biocombustível, 1 fábrica de fertilizantes, 1 fábrica de lubrificantes, 1 usina de processamento de xisto, 2 unidades industriais e 3 bases administrativas.

De um dia para o outro, houve adesões de três plataformas na Bacia de Campos, entre os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. A FUP diz que 33 das 39 plataformas da região entraram na greve. Em Manaus, no estado do Amazonas, também aderiram trabalhadores das termelétricas Jaraqui e Tambaqui, informa a organização.

Em greve desde 1º de fevereiro, os petroleiros cobram a suspensão da demissão de mil trabalhadores na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), previstas, segundo a FUP, para terem início na sexta-feira 14. Eles também exigem o cumprimento de outros pontos relacionados ao Acordo Coletivo de Trabalho. Segundo os trabalhadores do setor, a gestão da Petrobras tem se recusado a negociar.

Na quarta-feira 12, representantes da categoria se reuniram com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Segundo os dirigentes, Maia e Alcolumbre se comprometeram a buscar uma saída para o impasse, em conjunto com o governo e com a direção da estatal.

A FUP também informou que, no encontro, queixou-se de que a gestão da Petrobras está “retalhando a empresa”, transformando ativos em subsidiárias para, assim, privatizar a estatal sem autorização legislativa. Em junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a privatização de empresas do Estado sem a permissão do Congresso Nacional, mas autorizou que subsidiárias possam ser vendidas.

Nesta quinta-feira 13, a FUP afirmou, em comunicado, que gestores da estatal podem provocar desabastecimento no país.

“O objetivo do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, é colocar a população contra nós, trabalhadores, culpando os grevistas por um possível desabastecimento que venha a ocorrer. Se isso acontece, a culpa é da intransigência dos gestores. Por isso, alertamos a população para que fique atenta. A direção da Petrobras poderá provocar de forma premeditada desabastecimentos em algumas regiões do país”, escreveu a Federação.

FUP Alerta a População: Intransigência da Gestão da Petrobrás pode causar desabastecimento!

Posted by Federação Única dos Petroleiros on Thursday, February 13, 2020

Em 4 de fevereiro, o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra, determinou que os sindicatos de petroleiros mantenham 90% dos trabalhadores em serviço durante a greve da categoria. A decisão decorreu após ação movida pela Petrobras. Os sindicatos também ficaram proibidos de impedir o livre trânsito de bens e de pessoas nas refinarias e plataformas da estatal.

No processo, a Petrobras informou que a Fafen foi comprada da mineradora Vale, em 2013. Depois da aquisição, segundo a estatal, os resultados da subsidiária apontaram falta de sustentabilidade no negócio e, portanto a continuidade operacional não se mostra “viável economicamente”.

Em 6 de fevereiro, o TST determinou sanções às entidades sindicais por descumprimento da decisão de manter 90% dos trabalhadores na ativa. O Tribunal determinou multa diária de 500 mil reais por sindicato e afirmou que a greve tem “conotação política e não econômica direta”. A Justiça também impôs bloqueio cautelar das contas bancárias e suspensão do repasse mensal às entidades sindicais, além de autorizar a Petrobras a contratar emergencialmente pessoas ou serviços.

Posteriormente, a decisão de Ives Gandra foi revista pela Seção Especializada em Dissídios Coletivos (SDC) do TST, que havia decidido, em 31 de janeiro, que a justiça trabalhista não poderia impedir a greve. Na visão da Petrobras, a decisão da Seção minou o poder de Ives Gandra de limitar as paralisações.

A Petrobras, então, recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir que a decisão de Ives Gandra fosse validada. Na quarta-feira 12, o presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, atendeu ao pedido da Petrobras e validou, provisoriamente, a decisão de Ives Gandra. Segundo Toffoli, a greve “tem o potencial também de impactar negativamente a economia brasileira” e pode “desestabilizar a posição do país tanto no cenário econômico nacional quanto internacional”.

Em comunicado, a FUP afirmou que vai pedir reconsideração sobre a decisão de Toffoli. Segundo a Federação, a greve está cumprindo todos os procedimentos legais e não há desabastecimento de combustíveis provocado pela paralisação. Além disso, alega que não existe, por parte dos petroleiros, impedimentos para o livre trânsito de bens e de pessoas no âmbito da estatal e de suas subsidiárias.

Nesta quinta-feira 13, a FUP organiza uma passeata no centro do Rio de Janeiro, em solidariedade à greve dos petroleiros e contra as privatizações em curso no país.

Procurada, a Petrobras afirmou que as unidades segue operando em condições adequadas de segurança, sem impacto para a produção até o momento. A empresa informa que está descontando dos dias não trabalhados dos grevistas, porque “os empregados não realizaram o trabalho para o qual são contratados”.

Confira a nota da estatal.

As unidades seguem operando em condições adequadas de segurança, com equipes de contingência formadas por empregados que não aderiram à greve, e contratações temporárias autorizadas pela Justiça. Não há impacto na produção até o momento.

A Petrobras está realizando o desconto dos dias não trabalhados dos empregados que aderiram ao movimento grevista. O desconto será realizado porque não houve a contraprestação do serviço, ou seja, os empregados não realizaram o trabalho para o qual são contratados.

A companhia também está contratando empresas com experiência na operação e manutenção de unidades de produção de petróleo e gás offshore, para suprimento de mão de obra especializada e certificada para atuar em suas plataformas próprias enquanto durar o movimento grevista.

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