Cultura
Lucas Santtana faz chamamento à luta em clipe documental
‘Ninguém Solta a Mão de Ninguém’ integra o oitavo álbum do músico baiano


Objetivo. No ponto. Assim é o novo clipe do baiano Lucas Santanna, Ninguém Solta a Mão de Ninguém, em ritmo de documentário e um alerta à democracia. “É uma música que coloca todos os pingos nos is em relação a esta quase ficção que estamos vivendo, onde a mentira se torna realidade todos os dias. O clipe é documental propositalmente para nos trazer a presença do real, das lutas quem não são apenas de agora, e também para servir como mais um chamamento”, diz Lucas Santtana.
O trabalho é coletivo e capitaneado por Joana do Prado, João Wainer, Ju Borgez e Juliana Curi. “As ideias vieram deles”, diz Lucas.
A gravação da música conta com Jaloo, Juçara Marçal e Linn da Quebrada e integra seu oitavo álbum solo. “Convidei porque entendi durante a gravação que o refrão teria que ser cantado em grupo. E admiro muito o trabalho deles.”
A atriz Aysha Nascimento faz participação especial no videoclipe representando Juçara Marçal.
A letra de Lucas Santtana em Ninguém Solta a Mão de Ninguém acena para um movimento de resistência em meio às arbitrariedades que se viu ao longo do ano:
“Quando a fera fere e mata alguém
Só porque difere de gênero, tem
Algo enrustido, algo enrustido
Quando descrimina a pele de alguém
E não preza a mina de onde cê vem
Faz um ebó pra ele, um ebó pra ele
Ninguém solta a mão de ninguém
Olho no olho, gente por gente
Cuidar de cada um dentro de nós
Quando acelera, atropela alguém
Envenena o ar e expõe seu desdém
Pega a bicicleta, pega a bicicleta
Se derruba a mata e atira em alguém
Que cuida da floresta como mais ninguém
Faz um rapé pra ele, um rapé pra ele
Ninguém solta a mão de ninguém
Olho no olho, gente por gente
Cuidar de cada um dentro de nós
Se criminaliza o direito de alguém
De ter moradia e uma terra também
Movimenta ele, movimenta ele
Esse alguém sem nome sou eu e você
Se juntar não some, faz aparecer
Nome e sobrenome, nome e sobrenome”
Sobre o oitavo álbum
O novo trabalho do cantor e compositor Lucas Santtana se chama O Céu é Velho Há Muito Tempo. “Esse álbum nasceu após as últimas eleições e o que vem se desenhando após ela. Tem uma primeira parte bem política, uma segunda parte de canções que saem da vida pública para a esfera privada, dos afetos, dos amores, dos amigos e por fim uma parte mais amorosa mesmo.”
Ele afirma que a política no álbum tem a ver com as decisões e escolhas que levam aos caminhos escolhidos. “Maneiras de ver o mundo, de lidar com as questões que ele traz. Então é um álbum político nesse sentido. Dá política que começa em nós mesmos.”
Em comparação aos outros trabalhos, ele considera uma virada de página. “Este é o meu primeiro álbum onde as palavras estão em primeiro plano. Nos outros as letras dividiam o mesmo espaço que o som.”
A carreira do músico é marcada pela ousadia em mesclar sons e expressões. E esse último registro não foi diferente, apesar do tom forte no vocabulário.
“Para mim, o exercício sempre foi escutar o mundo, as pessoas e me escutar dentro disso. Digo, estar centrado e honesto em relação ao que estou vivendo e sentindo. Meus discos são 100% sinceros e me orgulho disso.”
Esse processo de criação é um desafio, pois o modismo “sopra os ventos o tempo todo, cada hora de um lugar. Mas a grande onda do futuro sempre está por vir”.
Lucas Santtana é um exemplo de trabalho contra a maré mercadológica, mas de forma propositiva, atual e bem executada.
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