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Dois terços dos brasileiros acreditam em fake news sobre vacinas

Redes sociais se revelaram mais recorrentes que o Ministério da Saúde ou médicos como fonte de informação, aponta estudo

Dois terços dos brasileiros acreditam em fake news sobre vacinas
Dois terços dos brasileiros acreditam em fake news sobre vacinas
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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O Brasil sofre com uma epidemia de informações falsas. De acordo com uma pesquisa realizada pela ONG Avaaz, em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), 67% dos brasileiros acreditam em ao menos uma fake news sobre vacinação, sendo que as mentiras chegam principalmente via redes sociais.

Ao menos 48% das 2 mil pessoas entrevistadas pelo Ibope para o estudo – maiores de 16 anos, em todos os Estados – disseram que redes ou canais como Facebook, YouTube, Instagram e WhatsApp são suas principais fontes de informação em relação às vacinas. Essas fontes se revelaram mais recorrentes que o Ministério da Saúde ou médicos.

O impacto disso na saúde pública do país é claro: 57% dos que deixaram de se imunizar recentemente citaram como causa uma informação que os médicos apontam como sendo incorreta.

De acordo com Nana Queiroz, coordenadora de campanhas da Avaaz, a discussão sobre o tema é normalmente contaminada pelo extremismo político. Nesse sentido, ela ressalta que o problema não deveria ser encarado como sendo de esquerda ou direita. O ideal, neste caso, seria unir a sociedade brasileira por se tratar de uma questão de saúde pública.

“As grandes plataformas precisam mostrar correções às pessoas expostas a essas desinformações. E se não o fizerem por iniciativa própria, o governo precisa garantir que o façam. É uma questão de saúde pública”, afirma.

Embora a maioria dos entrevistados (87%) tenha respondido nunca ter deixado de se vacinar ou de imunizar crianças sob seus cuidados, o índice é preocupante devido ao restante da estatística: os 13% que disseram o contrário representam um contingente superior a 21 milhões de pessoas, contando toda a população acima de 16 anos.

As respostas mais comuns entre esses 13%, segundo a pesquisa, foram “não achei a vacina necessária (31%)”; “medo de ter efeitos colaterais graves após tomar uma vacina (24%)”; “medo de contrair a doença que estava tentando prevenir com a vacina (18%)”; “por causa das notícias, histórias ou alertas que li online (9%)” e “por causa dos alertas, notícias e histórias de líderes religiosos” (4%).

Para o presidente da SBIm, Juarez Cunha, os números explicitam falta de conhecimento prévio para julgar adequadamente o que é correto e o que é incorreto.

“Nós, profissionais da saúde, sociedades de especialidades e autoridades, precisamos ter a mesma disponibilidade para ensinar e esclarecer o que é demonstrado por quem dissemina inverdades. Se não nos empenharmos, é possível vislumbrar um cenário perigoso. O retorno do sarampo já demonstrou isso”, diz Cunha.

Problema importado dos EUA

A pesquisa também concluiu que o discurso antivacinação, bastante presente na sociedade brasileira, é uma característica basicamente importada dos Estados Unidos. Após o Ibope apontar indícios de que notícias falsas sobre vacinas influenciam os brasileiros, a Avaaz conduziu uma investigação para apurar quais são e de onde vêm essas notícias.

Ao analisar mais de 1.600 links, a ONG indica que quase metade das fake news é proveniente de sites publicados originalmente em inglês, nos Estados Unidos. O site Natural News, por exemplo, é a fonte original de 32% da amostra e representa quase 70% do conteúdo não brasileiro.

“Além disso, há evidências de que o Natural News esteja servindo de inspiração para sites e influenciadores brasileiros que passaram a vender produtos naturais e ‘curas milagrosas’ ao lado de artigos antivacinação e que inspiram desconfiança na ciência tradicional”, revela Nana Queiroz.

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