

Opinião
O lampejo feminista
Quem se conscientiza da opressão de gênero se sente mais empoderada


Morro de vergonha, mas confesso que já falei “eu não sou feminista, sou feminina”. Isso era quando eu não entendia o que era feminismo, e ainda achava que feminilidade era algo obrigatório e necessariamente positivo (não é obrigatório, e também não é necessariamente negativo, mas essa é outra conversa).
Quando eu era jovem, feminismo era uma palavra muito feia. Quando virei feminista, há uns bons dez anos, a palavra ainda era muito mal vista. Mas recentemente meu coração, que andava cansado de tentar explicar para as pessoas que feminismo é nada mais nada menos do que uma luta por justiça social pautada em gênero, anda cantando de emoção com tanto feminismo acontecendo pela internet. Eu imagino que esses últimos meses de 2015 venham sendo o #lampejofeminista de muita gente.
O meu aconteceu ao ler “O Relatório Hite – Um Profundo Estudo Sobre Sexualidade Feminina”, da pesquisadora e ativista norte-americana Shere Hite. Ao ler a compilação e análise de centenas de relatos de mulheres que falavam francamente sobre questões espinhosas envolvendo suas vidas sexuais me dei conta, pela primeira vez, de que não estava sozinha. E aquilo foi muito libertador.
Saber que existiam muitas mulheres, e todo um movimento que estava interessado em extrair e expor verdades que nos oprimem e sobre as quais nos ensinaram a ficar bem caladas foi um alívio tão grande que nunca mais voltei atrás.
Entender o feminismo é parecido com tomar a pílula vermelha do Morpheus, o personagem de Laurence Fishburne em Matrix: uma vez que aquela informação foi assimilada, é impossível não ver as coisas de outra forma. A feminista estadunidense Gloria Steinem famosamente disse: “A verdade vai te libertar, mas antes ela vai te deixar furiosa”. E é verdade.
Por mais furiosas que estejamos, o caminho é a libertação das normas opressoras de gênero que insistem em nos colocar em lugares de submissão.
O #lampejofeminista causa desconforto e conforto ao mesmo tempo, mas não conheço ninguém que o tenha tido e não se sinta mais empoderada desde então. Esta foi uma breve história do meu. E o seu, qual foi?
*Publicado originalmente no site #CasadaMãeJoanna. A foto é do Femma Registros Fotográficos
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