Cultura

É sopa!

Alberto Villas narra a dura saga de quem tenta traduzir receitas de produtos estrangeiros com a ajuda do Google

Foto: ©AFP / Emmanuel Dunand
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Adoro entrar em supermercados no estrangeiro. Estrangeiro é o que chamávamos todos os lugares que não eram Brasil. O estrangeiro ficava longe e tudo lá era muito diferente. A língua, a hora, a moeda, as pessoas, o clima e os supermercados.

Supermercado no estrangeiro me faz lembrar a mãe de um amigo meu que chegou um dia em Paris onde o filho amargava um exílio, isso lá nos anos 70. Ela foi ao supermercado e voltou intrigada:

– Não sei por que vocês se queixam tanto de saudade das coisas do Brasil. Fui a um supermercado no Boulevard Sébastopol e encontrei Coca-Cola, Fanta, Ovomaltine, arroz Uncle Bens, sucrilhos Kellogs, caldos Maggi, sopas Knorr, aveia Quaker… está cheio de produtos brasileiros! Mal sabia ela que o que queríamos era uma paçoquinha chamada Amor.

Tenho manias que muitas pessoas não entendem. Gostar de Yoko Ono, por exemplo. Ter em casa os trinta e dois discos dela – do Two Virgins ao Yokokimthurston – e ouvir sempre que estou só. Comer biscoito Maizena com Ketchup é outra, mas deixa isso pra lá. Mania mesmo eu tenho é de entrar em supermercados no estrangeiro e comprar sopas e molhos em pacotinho.

Uma vez em Berlim encontrei um corredor inteiro do supermercado que era só de molhos, acredito eu que eram mesmo molhos. Paramos diante de um pacote amarelinho de Maggi que nos mostrava que aquilo era um “Zwiebel-Sahne Hähnchen”. Fácil, né? Uma tarja azul nos esclarecia ainda que ali dentro tinha 400g de “hähnchenbrust” e 250ml de “sübe sahne”. Como a embalagem trazia a foto de um molho cobrindo filés de frango, não tivemos dúvida, foi pra sacola.

Em casa, minhas filhas tiveram a idéia de traduzir no Google os três passos para se preparar aquele pó que, quando abrimos o pacote vimos ser amarelado. O primeiro passo era: “Geflügelfleisch nebeneinander in eine Auflaufform legen”. Notebook na mão lá foram elas decifrar o beabá do alemão. Em poucos segundos tínhamos o primeiro passo a seguir: “Avicultura coexiste em caçarolas lei”. Sim, a tradução que veio foi exatamente essa. “Avicultura coexiste em caçarolas lei”!

Legal, né?

Agora a história é outra. Quando estive em Budapeste entrei num supermercado pequeno, de bairro, e me encantei com um pacotinho da Knorr que estava escrito “Alföldi Gulyásleves”. Não pensei duas vezes e levei. Ontem aqui em casa em São Paulo resolvi preparar o tal do “Alföldi Gulyásleves” e mais uma vez recorri ao santo Google que é capaz de traduzir até mesmo do húngaro para o português. Catando milho no computador digitei o primeiro passo: “A tasak  tartalmát 1 liter hideg vizhez öntjük és gyakori kevergetés mellett, közepes lágon 10 percig fözzük”.

Dei o enter e lá veio a tradução: “A saqueta em 1 litro de água fria e extraiu-se, com agitação, com frequência, cozer durante 10 minutos à lagoa médio”. Deu pra entender, não é mesmo? O segundo passo foi: “A tüzhelyröl levéve héhany percig állni hagjyuk”. Tradução by Google: “O tüzhelyröl tirando por alguns minutos em temperatura ambiente”.

Enfim, salpiquei um pouco de paprica, coloquei salsinha,  cebolinha, joguei alguns tomatinhos cereja dentro da panela e a sopa ficou uma delícia.

Adoro entrar em supermercados no estrangeiro. Estrangeiro é o que chamávamos todos os lugares que não eram Brasil. O estrangeiro ficava longe e tudo lá era muito diferente. A língua, a hora, a moeda, as pessoas, o clima e os supermercados.

Supermercado no estrangeiro me faz lembrar a mãe de um amigo meu que chegou um dia em Paris onde o filho amargava um exílio, isso lá nos anos 70. Ela foi ao supermercado e voltou intrigada:

– Não sei por que vocês se queixam tanto de saudade das coisas do Brasil. Fui a um supermercado no Boulevard Sébastopol e encontrei Coca-Cola, Fanta, Ovomaltine, arroz Uncle Bens, sucrilhos Kellogs, caldos Maggi, sopas Knorr, aveia Quaker… está cheio de produtos brasileiros! Mal sabia ela que o que queríamos era uma paçoquinha chamada Amor.

Tenho manias que muitas pessoas não entendem. Gostar de Yoko Ono, por exemplo. Ter em casa os trinta e dois discos dela – do Two Virgins ao Yokokimthurston – e ouvir sempre que estou só. Comer biscoito Maizena com Ketchup é outra, mas deixa isso pra lá. Mania mesmo eu tenho é de entrar em supermercados no estrangeiro e comprar sopas e molhos em pacotinho.

Uma vez em Berlim encontrei um corredor inteiro do supermercado que era só de molhos, acredito eu que eram mesmo molhos. Paramos diante de um pacote amarelinho de Maggi que nos mostrava que aquilo era um “Zwiebel-Sahne Hähnchen”. Fácil, né? Uma tarja azul nos esclarecia ainda que ali dentro tinha 400g de “hähnchenbrust” e 250ml de “sübe sahne”. Como a embalagem trazia a foto de um molho cobrindo filés de frango, não tivemos dúvida, foi pra sacola.

Em casa, minhas filhas tiveram a idéia de traduzir no Google os três passos para se preparar aquele pó que, quando abrimos o pacote vimos ser amarelado. O primeiro passo era: “Geflügelfleisch nebeneinander in eine Auflaufform legen”. Notebook na mão lá foram elas decifrar o beabá do alemão. Em poucos segundos tínhamos o primeiro passo a seguir: “Avicultura coexiste em caçarolas lei”. Sim, a tradução que veio foi exatamente essa. “Avicultura coexiste em caçarolas lei”!

Legal, né?

Agora a história é outra. Quando estive em Budapeste entrei num supermercado pequeno, de bairro, e me encantei com um pacotinho da Knorr que estava escrito “Alföldi Gulyásleves”. Não pensei duas vezes e levei. Ontem aqui em casa em São Paulo resolvi preparar o tal do “Alföldi Gulyásleves” e mais uma vez recorri ao santo Google que é capaz de traduzir até mesmo do húngaro para o português. Catando milho no computador digitei o primeiro passo: “A tasak  tartalmát 1 liter hideg vizhez öntjük és gyakori kevergetés mellett, közepes lágon 10 percig fözzük”.

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