Sociedade

Jogo de ideias

Por que não estimular também as séries C e D do Brasileirão? Por Afonsinho

Foto: Rodrigo Ghedin/Flickr
Apoie Siga-nos no

por Afonsinho

Tantos jogos decisivos, tantos índices a ser alcançados no dia a dia de cada um que a gente se sente estonteado, no meio de um turbilhão. Na última coluna faltou saudar um campeão estadual, o Itabaiana, de Sergipe. Bem-vindo ao clube dos vencedores.

Sem ao menos uma semana de intervalo, começa o Brasileiro (já desvalorizado). Times poderosos entraram em campo com reservas. Perderam pontos que podem faltar na reta final do campeonato e prejudicar um trabalho benfeito. Como bom meio-campo, vamos arrumar uma brecha para respirar e não perder o fio da meada, “enquanto eles se batem, dê um rolê”.

Vamos recordar o Boca vs. Fluminense de Buenos Aires.

Por que razão temos de suportar cenas como a entrada do treinador Abel e a saída do lateral Carlinhos? Foram duas operações de guerra. O aparato policial parecia filme americano de ficção científica.

Que sentido faz um espetáculo como esse, com tanto dinheiro, um árbitro visivelmente comprometido, mesmo que não sirva de desculpa para a derrota, a televisão a mostrar tudo?

A quem interessa esse estado de coisas, esse desespero?

Quanto mais movimenta dinheiro, mais o espetáculo empobrece. Dá para entender, é coerente, enfim, “em festa de rato nunca sobra queijo”. Mas não dá para aceitar.

Na divulgação dos jogos insiste-se em destacar o caráter belicoso “tradicional” e inerente ao torneio. “Libertadores é assim”, dizem, e ponto.

Lembro-me que fiquei indignado no tempo em que os “veteranos” viraram “másters”. Houve um jogo em Salvador contra o Uruguai e a tônica da propaganda era insistir na animosidade implícita nos jogos entre as duas seleções.

É hora de dar um basta.

O esporte é expressão, manifestação de grupos humanos. E é responsabilidade do Estado zelar por seus valores.

Quando o Mercosul, tão apagado ultimamente, vai chegar aos esportes, ser fator de integração? Os atores por sua vez precisam se movimentar, sair de suas gaiolas de ouro e, no mínimo, defender seus próprios interesses.

Na mesma tecla, quando começaram os jogos de showbol, reclamei com o empresário das jogadas violentas, sem sentido num jogo entre duas equipes de São Paulo. Ele me disse, entre risos: “Bom para o público sentir que é a vera”. Isso em um jogo de másters!!!

É tempo de dar um tempo.

E a finalíssima europeia? Enquanto todos apostavam numa final na Copa dos Campeões entre Barcelona e Real Madrid, acabaram ficando Chelsea e Bayern. Quase sempre existem duas ideias opostas em jogo, mesmo nos dias de hoje, em que a marca é a pluralidade.

Barack Obama une-se à França pelo desenvolvimento contra a Alemanha e a Inglaterra, estas a favor de apertar o cinto. Ambos são necessários e, felizmente, começam a entender que a hora não é de intransigências e intolerâncias.

De volta ao futebol. Perdemos no campo com a derrota do Bayern. As ideias em oposição foram o futebol vistoso do time alemão contra o futebol de marcação e mesmo violento dos ingleses. Os alemães estão cada vez melhores, mas devemos reconhecer que o time celeste inglês tem grandes valores. Drogba foi a estrela que mais luziu em outro fim de semana azul inglês. O nosso Ramires nem jogou.

Os donos da casa tiveram duas partidas – o tempo normal e a prorrogação – e a disputa de pênaltis, mas não conseguiram provar superioridade. De modo geral, a crítica chamou o jogo de truncado, amarrado, feio, tedioso. Mas, no decorrer da partida, vimos uma disputa incendiada, sensacional, que ensinou muito a respeito da importância do estado emocional dos jogadores. Mesmo com os dois times desarvorados no fim, prevaleceu o menos instável. Livraram-nos de qualquer complexo de inferioridade e reacenderam a polêmica do pênalti. Castigo imerecido para o ótimo Schweinsteiger.

Falamos da necessidade de respirar, dar um tempo, porque a voracidade de rapinar o que estiver pela frente perdeu o controle e o esporte serve muito para isso.

A imagem do copo extravasando é recorrente, mas o futebol mostra que a distância entre o sonho e sua realização pode não ser tão longa. É esse um de seus encantos.

A Europa parece não ter uma saída simples. A vida torna-se cada vez mais plural. Outras forças se erguem e, se o Brasil reluta em ser “um imenso Portugal”, devemos cuidar de não repetir sociedades de desperdício – e sim construir uma terra de fraternidade, solidariedade, justiça e amor. Só assim será possível a paz. Comecemos pelo esporte, a nossa parte.

Dizem que o futebol brasileiro tem quatro divisões profissionais, mas só sabemos que existem as séries C e D porque times da potência de um Bahia e de um Santa Cruz andaram por lá, o que por si demonstra os desacertos dos próprios clubes. A Série B é bem forte. Por que não estimular as outras dentro de um Sistema Brasileiro de Esportes, com originalidade, sem desprezar nenhum conhecimento e sem precisar imitar ninguém?

por Afonsinho

Tantos jogos decisivos, tantos índices a ser alcançados no dia a dia de cada um que a gente se sente estonteado, no meio de um turbilhão. Na última coluna faltou saudar um campeão estadual, o Itabaiana, de Sergipe. Bem-vindo ao clube dos vencedores.

Sem ao menos uma semana de intervalo, começa o Brasileiro (já desvalorizado). Times poderosos entraram em campo com reservas. Perderam pontos que podem faltar na reta final do campeonato e prejudicar um trabalho benfeito. Como bom meio-campo, vamos arrumar uma brecha para respirar e não perder o fio da meada, “enquanto eles se batem, dê um rolê”.

Vamos recordar o Boca vs. Fluminense de Buenos Aires.

Por que razão temos de suportar cenas como a entrada do treinador Abel e a saída do lateral Carlinhos? Foram duas operações de guerra. O aparato policial parecia filme americano de ficção científica.

Que sentido faz um espetáculo como esse, com tanto dinheiro, um árbitro visivelmente comprometido, mesmo que não sirva de desculpa para a derrota, a televisão a mostrar tudo?

A quem interessa esse estado de coisas, esse desespero?

Quanto mais movimenta dinheiro, mais o espetáculo empobrece. Dá para entender, é coerente, enfim, “em festa de rato nunca sobra queijo”. Mas não dá para aceitar.

Na divulgação dos jogos insiste-se em destacar o caráter belicoso “tradicional” e inerente ao torneio. “Libertadores é assim”, dizem, e ponto.

Lembro-me que fiquei indignado no tempo em que os “veteranos” viraram “másters”. Houve um jogo em Salvador contra o Uruguai e a tônica da propaganda era insistir na animosidade implícita nos jogos entre as duas seleções.

É hora de dar um basta.

O esporte é expressão, manifestação de grupos humanos. E é responsabilidade do Estado zelar por seus valores.

Quando o Mercosul, tão apagado ultimamente, vai chegar aos esportes, ser fator de integração? Os atores por sua vez precisam se movimentar, sair de suas gaiolas de ouro e, no mínimo, defender seus próprios interesses.

Na mesma tecla, quando começaram os jogos de showbol, reclamei com o empresário das jogadas violentas, sem sentido num jogo entre duas equipes de São Paulo. Ele me disse, entre risos: “Bom para o público sentir que é a vera”. Isso em um jogo de másters!!!

É tempo de dar um tempo.

E a finalíssima europeia? Enquanto todos apostavam numa final na Copa dos Campeões entre Barcelona e Real Madrid, acabaram ficando Chelsea e Bayern. Quase sempre existem duas ideias opostas em jogo, mesmo nos dias de hoje, em que a marca é a pluralidade.

Barack Obama une-se à França pelo desenvolvimento contra a Alemanha e a Inglaterra, estas a favor de apertar o cinto. Ambos são necessários e, felizmente, começam a entender que a hora não é de intransigências e intolerâncias.

De volta ao futebol. Perdemos no campo com a derrota do Bayern. As ideias em oposição foram o futebol vistoso do time alemão contra o futebol de marcação e mesmo violento dos ingleses. Os alemães estão cada vez melhores, mas devemos reconhecer que o time celeste inglês tem grandes valores. Drogba foi a estrela que mais luziu em outro fim de semana azul inglês. O nosso Ramires nem jogou.

Os donos da casa tiveram duas partidas – o tempo normal e a prorrogação – e a disputa de pênaltis, mas não conseguiram provar superioridade. De modo geral, a crítica chamou o jogo de truncado, amarrado, feio, tedioso. Mas, no decorrer da partida, vimos uma disputa incendiada, sensacional, que ensinou muito a respeito da importância do estado emocional dos jogadores. Mesmo com os dois times desarvorados no fim, prevaleceu o menos instável. Livraram-nos de qualquer complexo de inferioridade e reacenderam a polêmica do pênalti. Castigo imerecido para o ótimo Schweinsteiger.

Falamos da necessidade de respirar, dar um tempo, porque a voracidade de rapinar o que estiver pela frente perdeu o controle e o esporte serve muito para isso.

A imagem do copo extravasando é recorrente, mas o futebol mostra que a distância entre o sonho e sua realização pode não ser tão longa. É esse um de seus encantos.

A Europa parece não ter uma saída simples. A vida torna-se cada vez mais plural. Outras forças se erguem e, se o Brasil reluta em ser “um imenso Portugal”, devemos cuidar de não repetir sociedades de desperdício – e sim construir uma terra de fraternidade, solidariedade, justiça e amor. Só assim será possível a paz. Comecemos pelo esporte, a nossa parte.

Dizem que o futebol brasileiro tem quatro divisões profissionais, mas só sabemos que existem as séries C e D porque times da potência de um Bahia e de um Santa Cruz andaram por lá, o que por si demonstra os desacertos dos próprios clubes. A Série B é bem forte. Por que não estimular as outras dentro de um Sistema Brasileiro de Esportes, com originalidade, sem desprezar nenhum conhecimento e sem precisar imitar ninguém?

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo