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Tensões religiosas podem levar à guerra civil, diz especialista

Protestos pelo aumento dos preços da gasolina são apenas pretextos para a intensificação dos confrontos entre cristãos e muçulmanos na 3ª maior economia africada

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Um corte de subsídio para combustíveis na Nigéria provocou a elevação dos preços da gasolina e levou milhares de pessoas às ruas em protesto. Desde segunda-feira 9, uma greve geral pressiona pelo retorno do apoio governamental ao setor, uma vez que a alta dos valores afeta diretamente o transporte da população e o uso de geradores de eletricidade.

Em meio a essas manifestações disfarçam-se, porém, as crescentes tensões entre cristãos e muçulmanos no país. Desde o início desta semana, diversos ataques de cunho religioso ocorreram na mais populosa nação africana, com cerca de 160 milhões de habitantes.

Um complexo de mesquitas na cidade de Benin, ao sul, foi queimado, na região que registrou cinco mortos e mais de 10 mil deslocados, segundo a Cruz Vermelha. Além disso, uma escola islâmica próxima a uma mesquita também foi incendiada.

Essa é a primeira onda de violência contra muçulmanos no sul do país, majoritariamente católico, após ataques no Natal contra cristãos no norte, de maioria muçulmana, assumidos pela seita islamita Boko Haram.

O grupo reivindica a aplicação da sharia (lei islâmica) em toda a Nigéria.

Em meio aos protestos contra o aumento dos combustíveis, cinco policiais foram mortos em um atentado a um bar na cidade de Potiskum (nordeste), um dos feudos do grupo islamita. “Os policiais estavam bebendo”, declarou o morador local, Miko Hamidu, à agência de notícias AFP. Um comportamento proibido pelo Islã.

Edilson Adão, geógrafo e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), alerta para a necessidade de amenizar as tensões religiosas e culturais no país, que conta com mais 250 grupos étnicos. “A população nigeriana é composta por 45% de muçulmanos, 45% cristãos e 10% animistas [majoritariamente separados em regiões opostas do país]”, diz. E completa: “Mas há uma zona de transição denominada ‘cinturão do meio’ que é extremamente tensa.”

O aumento destas turbulências na Nigéria, sexto país do mundo em número de cristãos, fez com que o governo anunciasse uma cúpula de segurança nacional para o início de 2012. Mas, segundo o geógrafo, mesmo sendo a terceira maior economia africana, seguida da África do Sul e do Egito, o país não tem como garantir a segurança da população se as tensões se acirrarem. “O país é muito instável, mesmo sendo uma democracia.”

A ex-colônia britânica, que enfrentou uma guerra civil 1966 e 1970, é marcada por conflitos internos, que causam o deslocamento de milhares de pessoas. O Internal Displacement Monitoring Centre (IDMC), organização do Consulado Norueguês de Refugiados, destaca, em estudo de 2008, que o acesso aos  recursos naturais nigerianos também motiva grande parte dos confrontos.

Importante fornecedor de combustível para Estados Unidos e Europa, com exportações de mais de 2 milhões de barris de petróleo bruto por dia, o país também é rico em gás natural, nióbio, calcário, zinco e chumbo.

Mesmo com essa diversidade ambiental, a Nigéria figura entre as nações mais pobres da África, com apenas 2,1 mil dólares de renda per capital por ano (cerca de 3,8 mil reais) – no Brasil esse número se aproxima de 20 mil reais. “Mais de 60% da população vive abaixo da linha da pobreza e a exploração de petróleo ocorre há mais de meio século”, diz Adão. E completa: “Algum retorno social já deveria ser percebido pela população.”

O petróleo responde pela maior parte da renda nigeriana, ou aproximadamente 20% do Produto Interno Bruto – estimado em 339 bilhões de dólares em 2009 -, segundo dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Cerca de 65% de sua receita orçamentaria vem das exportações do produto, que somaram 61,8 bilhões de dólares em 2011.

Na lista do Indice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 2010, a Nigéria aparece apenas no 142º lugar , com estimativa de vida média de 48,4 anos de idade. Menos que Burundi (51,4) e Níger (52,5), nações com dois dos cinco piores IDH.

 “Educação ocidental é proibida”

O grupo islamita Boko Haram, nome que, traduzido literalmente, significa “educação ocidental é proibida”, vem conquistando influência e seguidores nos últimos anos. “Ele atua tanto na esfera extremista, queimando igrejas cristãs, como ocorreu no Natal de 2011, como no Parlamento nigeriano, estreitando os laços com alguns políticos”, explica Adão.

O Boko Haram promove uma vertente do Islã que considera pecado, ou proibido, para muçulmanos participar de qualquer atividade política ou social associada à sociedade ocidental. Isso inclui votar, vestir camisas e calças cumpridas ou receber educação secular.

Antes uma seita religiosa pequena, o grupo tem se mostrado mais flexível e dinâmico. Em 2009, o governo chegou a anunciar o fim das atividades da seita após a morte de seu fundador Muhammad Yusuf. Mas, o grupo recuperou-se sob a liderança de um novo líder e promoveu atentados suicidas com bombas em em junho e agosto. Ações que aumentaram a desconfiança de que o Boko Haram estaria trocando experiência com outros grupos militares.

Com informações Agência Brasil e AFP.

Um corte de subsídio para combustíveis na Nigéria provocou a elevação dos preços da gasolina e levou milhares de pessoas às ruas em protesto. Desde segunda-feira 9, uma greve geral pressiona pelo retorno do apoio governamental ao setor, uma vez que a alta dos valores afeta diretamente o transporte da população e o uso de geradores de eletricidade.

Em meio a essas manifestações disfarçam-se, porém, as crescentes tensões entre cristãos e muçulmanos no país. Desde o início desta semana, diversos ataques de cunho religioso ocorreram na mais populosa nação africana, com cerca de 160 milhões de habitantes.

Um complexo de mesquitas na cidade de Benin, ao sul, foi queimado, na região que registrou cinco mortos e mais de 10 mil deslocados, segundo a Cruz Vermelha. Além disso, uma escola islâmica próxima a uma mesquita também foi incendiada.

Essa é a primeira onda de violência contra muçulmanos no sul do país, majoritariamente católico, após ataques no Natal contra cristãos no norte, de maioria muçulmana, assumidos pela seita islamita Boko Haram.

O grupo reivindica a aplicação da sharia (lei islâmica) em toda a Nigéria.

Em meio aos protestos contra o aumento dos combustíveis, cinco policiais foram mortos em um atentado a um bar na cidade de Potiskum (nordeste), um dos feudos do grupo islamita. “Os policiais estavam bebendo”, declarou o morador local, Miko Hamidu, à agência de notícias AFP. Um comportamento proibido pelo Islã.

Edilson Adão, geógrafo e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), alerta para a necessidade de amenizar as tensões religiosas e culturais no país, que conta com mais 250 grupos étnicos. “A população nigeriana é composta por 45% de muçulmanos, 45% cristãos e 10% animistas [majoritariamente separados em regiões opostas do país]”, diz. E completa: “Mas há uma zona de transição denominada ‘cinturão do meio’ que é extremamente tensa.”

O aumento destas turbulências na Nigéria, sexto país do mundo em número de cristãos, fez com que o governo anunciasse uma cúpula de segurança nacional para o início de 2012. Mas, segundo o geógrafo, mesmo sendo a terceira maior economia africana, seguida da África do Sul e do Egito, o país não tem como garantir a segurança da população se as tensões se acirrarem. “O país é muito instável, mesmo sendo uma democracia.”

A ex-colônia britânica, que enfrentou uma guerra civil 1966 e 1970, é marcada por conflitos internos, que causam o deslocamento de milhares de pessoas. O Internal Displacement Monitoring Centre (IDMC), organização do Consulado Norueguês de Refugiados, destaca, em estudo de 2008, que o acesso aos  recursos naturais nigerianos também motiva grande parte dos confrontos.

Importante fornecedor de combustível para Estados Unidos e Europa, com exportações de mais de 2 milhões de barris de petróleo bruto por dia, o país também é rico em gás natural, nióbio, calcário, zinco e chumbo.

Mesmo com essa diversidade ambiental, a Nigéria figura entre as nações mais pobres da África, com apenas 2,1 mil dólares de renda per capital por ano (cerca de 3,8 mil reais) – no Brasil esse número se aproxima de 20 mil reais. “Mais de 60% da população vive abaixo da linha da pobreza e a exploração de petróleo ocorre há mais de meio século”, diz Adão. E completa: “Algum retorno social já deveria ser percebido pela população.”

O petróleo responde pela maior parte da renda nigeriana, ou aproximadamente 20% do Produto Interno Bruto – estimado em 339 bilhões de dólares em 2009 -, segundo dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Cerca de 65% de sua receita orçamentaria vem das exportações do produto, que somaram 61,8 bilhões de dólares em 2011.

Na lista do Indice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 2010, a Nigéria aparece apenas no 142º lugar , com estimativa de vida média de 48,4 anos de idade. Menos que Burundi (51,4) e Níger (52,5), nações com dois dos cinco piores IDH.

 “Educação ocidental é proibida”

O grupo islamita Boko Haram, nome que, traduzido literalmente, significa “educação ocidental é proibida”, vem conquistando influência e seguidores nos últimos anos. “Ele atua tanto na esfera extremista, queimando igrejas cristãs, como ocorreu no Natal de 2011, como no Parlamento nigeriano, estreitando os laços com alguns políticos”, explica Adão.

O Boko Haram promove uma vertente do Islã que considera pecado, ou proibido, para muçulmanos participar de qualquer atividade política ou social associada à sociedade ocidental. Isso inclui votar, vestir camisas e calças cumpridas ou receber educação secular.

Antes uma seita religiosa pequena, o grupo tem se mostrado mais flexível e dinâmico. Em 2009, o governo chegou a anunciar o fim das atividades da seita após a morte de seu fundador Muhammad Yusuf. Mas, o grupo recuperou-se sob a liderança de um novo líder e promoveu atentados suicidas com bombas em em junho e agosto. Ações que aumentaram a desconfiança de que o Boko Haram estaria trocando experiência com outros grupos militares.

Com informações Agência Brasil e AFP.

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