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Kofi Annan diz que Iraque não seria invadido se não tivesse petróleo

Ex-secretário-geral das Nações Unidas diz que brincava com o ego de ditadores para conseguir acordos de paz

Kofi Annan
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O ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan concedeu uma entrevista reveladora ao jornal britânico The Guardian, publicada no domingo 30. O diplomata ganês, que deixou a organização no final de 2006, disse não ter certeza de que a Guerra no Iraque ocorreria se o país não tivesse uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Ele também acusou os EUA de tentar derrubá-lo por não apoiar a intervenção e disse que jogava com o ego de ditadores para fazê-los aceitar acordos de paz.

Annan afirmou sempre ter dúvidas da extensão das armas de destruição em massa que o presidente iraquiano Saddam Hussein possuía em 2003. Segundo ele, inspetores da ONU no país informaram ter havido uma destruição relevante de armas pelo governo. “Então, a sensação era que ele [Hussein] poderia ter tido alguma coisa, mas o quão massiva, e a natureza das armas, não era certo.”

O ex-secretário-geral lembrou que em 2003 o Conselho de Segurança da ONU não autorizou uma intervenção ao Iraque, mas foi ignorado por EUA e Reino Unido. Bush disse a ele estar “com lágrimas nos olhos de pensar no que o povo iraquiano está passando com Saddam”. Mas Annan afirmou ter noção da existência de outros interesses por trás da vontade norte-americana. “Havia um pouco da sensação de que ele estava tentando terminar o trabalho do pai. E seus conselheiros também queriam isso. Também pensaram que poderiam eliminar dois pássaros de uma vez só. Se livrariam de um ditador e das armas.”

Mas havia ainda o petróleo. “Era uma país com recursos em uma região de extrema importância para o mundo. Não tenho certeza se o Iraque fosse tão pobre quanto à Somália se haveria aquele interesse em salvar o país.”

Segundo Annan, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair poderia ter ajudado a evitar o conflito, mas apoiou Bush por amizade. “Não tinha certeza se ele [Blair] genuinamente queria a guerra, ou se estava apenas tentando proteger seu relacionamento especial [com Bush].”

À época, Annan viu-se em meio a um escândalo de corrupção após afirmar categoricamente que a intervenção no Iraque era ilegal. Os EUA alegaram haver favorecimento de uma empresa suíça em um contrato no programa Oil For Food (Petróleo por Comida, em tradução livre) com uma empresa suíça, na qual o filho do ex-secretário-geral havia trabalhado.

A companhia ganhou um contrato com a ONU e o filho de Annan saiu da empresa em 1998. Mas ele continuou recebendo por mais cinco anos. Para Annan, a movimentação para trazer esse fato à tona foi realizada completamente pelo desejo de puni-lo, mas não pensou seriamente em renunciar. “Sair e dar a eles o sentimento de que ganharam? Não.”

  

Annan voltou à atividade diplomática neste ano como enviado especial das Nações Unidas na Síria, para negociar um acordo de paz no país e a transição do governo do ditador Bashar al-Assad. Segundo ele, avisou ao Conselho de Segurança que a tarefa era “quase impossível” e que para tentar precisaria da união do conselho, que permaneceu divido com China e Rússia bloqueando medidas mais enérgicas. “Os sírios vão pagar o preço. São pessoas inocentes pegas no meio [do conflito].”

Para persuadir líderes mundiais a acordos de paz, muitos deles tiranos e apoiadores do terrorismo, Annan diz que precisava jogar com o ego destes chefes de Estado. Seria preciso entender o que os motiva, apelar para o seu orgulho e vaidade, e oferecer uma saída. A dignidade também é importante para o questionamento: “Se você é mesmo um líder e está interessado nos interesses de seu povo, precisa liderar. Tem que mostrar coragem. Se é de verdade o homem forte que diz ser, precisa defender os fracos na sua sociedade”, afirma. E continua: “Essas são pessoas com egos, e com sentido de legado, então você pergunta: ’Que legado você vai deixar?’”. Algo que importa, pois “essas pessoas geralmente têm certa imagem de si mesmos”. “Vão a um nível incrível para se proteger. Digo o que suas ações significam, como são visto pelo mundo exterior.”

O ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan concedeu uma entrevista reveladora ao jornal britânico The Guardian, publicada no domingo 30. O diplomata ganês, que deixou a organização no final de 2006, disse não ter certeza de que a Guerra no Iraque ocorreria se o país não tivesse uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Ele também acusou os EUA de tentar derrubá-lo por não apoiar a intervenção e disse que jogava com o ego de ditadores para fazê-los aceitar acordos de paz.

Annan afirmou sempre ter dúvidas da extensão das armas de destruição em massa que o presidente iraquiano Saddam Hussein possuía em 2003. Segundo ele, inspetores da ONU no país informaram ter havido uma destruição relevante de armas pelo governo. “Então, a sensação era que ele [Hussein] poderia ter tido alguma coisa, mas o quão massiva, e a natureza das armas, não era certo.”

O ex-secretário-geral lembrou que em 2003 o Conselho de Segurança da ONU não autorizou uma intervenção ao Iraque, mas foi ignorado por EUA e Reino Unido. Bush disse a ele estar “com lágrimas nos olhos de pensar no que o povo iraquiano está passando com Saddam”. Mas Annan afirmou ter noção da existência de outros interesses por trás da vontade norte-americana. “Havia um pouco da sensação de que ele estava tentando terminar o trabalho do pai. E seus conselheiros também queriam isso. Também pensaram que poderiam eliminar dois pássaros de uma vez só. Se livrariam de um ditador e das armas.”

Mas havia ainda o petróleo. “Era uma país com recursos em uma região de extrema importância para o mundo. Não tenho certeza se o Iraque fosse tão pobre quanto à Somália se haveria aquele interesse em salvar o país.”

Segundo Annan, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair poderia ter ajudado a evitar o conflito, mas apoiou Bush por amizade. “Não tinha certeza se ele [Blair] genuinamente queria a guerra, ou se estava apenas tentando proteger seu relacionamento especial [com Bush].”

À época, Annan viu-se em meio a um escândalo de corrupção após afirmar categoricamente que a intervenção no Iraque era ilegal. Os EUA alegaram haver favorecimento de uma empresa suíça em um contrato no programa Oil For Food (Petróleo por Comida, em tradução livre) com uma empresa suíça, na qual o filho do ex-secretário-geral havia trabalhado.

A companhia ganhou um contrato com a ONU e o filho de Annan saiu da empresa em 1998. Mas ele continuou recebendo por mais cinco anos. Para Annan, a movimentação para trazer esse fato à tona foi realizada completamente pelo desejo de puni-lo, mas não pensou seriamente em renunciar. “Sair e dar a eles o sentimento de que ganharam? Não.”

  

Annan voltou à atividade diplomática neste ano como enviado especial das Nações Unidas na Síria, para negociar um acordo de paz no país e a transição do governo do ditador Bashar al-Assad. Segundo ele, avisou ao Conselho de Segurança que a tarefa era “quase impossível” e que para tentar precisaria da união do conselho, que permaneceu divido com China e Rússia bloqueando medidas mais enérgicas. “Os sírios vão pagar o preço. São pessoas inocentes pegas no meio [do conflito].”

Para persuadir líderes mundiais a acordos de paz, muitos deles tiranos e apoiadores do terrorismo, Annan diz que precisava jogar com o ego destes chefes de Estado. Seria preciso entender o que os motiva, apelar para o seu orgulho e vaidade, e oferecer uma saída. A dignidade também é importante para o questionamento: “Se você é mesmo um líder e está interessado nos interesses de seu povo, precisa liderar. Tem que mostrar coragem. Se é de verdade o homem forte que diz ser, precisa defender os fracos na sua sociedade”, afirma. E continua: “Essas são pessoas com egos, e com sentido de legado, então você pergunta: ’Que legado você vai deixar?’”. Algo que importa, pois “essas pessoas geralmente têm certa imagem de si mesmos”. “Vão a um nível incrível para se proteger. Digo o que suas ações significam, como são visto pelo mundo exterior.”

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