Política
O dia seguinte
O fracassado golpe bolsonarista resulta de um complô entre fanáticos, endinheirados, militares e policiais. E fortalece momentaneamente Lula
Em 23 de dezembro, George Washington de Oliveira Souza, de 54 anos, gerente de um posto de combustíveis no interior do Pará, montou uma bomba. Fazia quase um mês que havia saído de casa numa caminhonete cheia de armas e acampara em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, o Forte Apache. Ali uma mulher lhe sugeriu construir o explosivo e usá-lo para espalhar o pânico. O objetivo era levar Jair Bolsonaro, ainda presidente, a decretar estado de sítio e, com apoio de militares, impedir a posse do sucessor. Souza possuía dinamite e um colega acampado, espoleta e detonador. O plano original era detonar a bomba numa subestação de energia, mas um homem de nome “Alan” preferiu deixá-la em um local diferente. A Polícia Civil achou-a perto do aeroporto, graças a uma denúncia, desativou-a e, em 24 de dezembro, prendeu Souza.
Doze dias antes da detenção Lula havia sido diplomado presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral, última formalidade antes da posse, e Brasília vivera o caos. Bolsonaristas queimaram ônibus, vandalizaram bens públicos e tentaram invadir a sede da Polícia Federal, a pretexto de salvar um indígena, José Acácio Tserere Xavante, de uma prisão decretada em razão de ele pregar resistência violenta à posse de Lula. Saldo dos distúrbios: ninguém preso. No depoimento à Polícia Civil após ir em cana, Souza contou que naquele 12 de dezembro tinha conversado com PMs responsáveis por conter os manifestantes e ouvido que eles “não iriam coibir a destruição e o vandalismo”, desde que não fossem agredidos. “Ficou claro para mim que a PM e os Bombeiros estavam ao lado do presidente (Bolsonaro) e que em breve seria decretada a intervenção das Forças Armadas”, diz a transcrição do depoimento de Souza.
Segundo o Fatafolha, 93% dos brasileiros condenaram a insurreição dos “patriotas”
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