Cultura

Sugestões Bravo! para ver e ouvir

Nesta semana, os destaques são o disco Como Manda o Figurino, de Toninho Ferragutti e Bebê Kramer, e Cavalo de Guerra, novo filme de
Steven Spielberg

Talento duplo. Ferragutti e Kramer vão do onírico ao arrasta-pé
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CD

O fole em outra dimensão

Como Manda o Figurino 

Toninho Ferragutti e Bebê Kramer


Borandá

Atado ao regionalismo nordestino pela explosão do baião em meados do século passado e o repique do forró décadas depois, o acordeom quase foi revogado pelo violão intimista da bossa e a legião da guitarra urbana da Jovem Guarda e do rock. Mas o pesado instrumento de teclados, fole e botões aos poucos ressurge em outra dimensão e amplia latitudes. É o que atesta a dupla de acordeonistas formada pelo paulista de Socorro Toninho Feragutti e o gaúcho de Vacaria Bebê Kramer, no roteiro diversificado do CD autoral Como Manda o Figurino. De início, eles rendem um tributo ao principal difusor do instrumento,


o pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989), na suíte de mais de oito minutos Na Sombra da Asa Branca (de Ferragutti), viagem repleta de acidentes e atalhos pelo modalismo nordestino.

A veia pampeira fronteiriça de Kramer pulsa, em seguida, em sua sinuosa e contrapontística Caminante. E logo uma torrente de referências e influências assoma às outras faixas, como o clima portenho descortinado no Choro da Madrugada. E o lirismo linha Dominguinhos do depurado Choro Esperança, invadido por tons nostálgicos e seresteiros, adiante, em Mestre Paulo. Chamado de gaita no Sul e sanfona no Nordeste, o fole resfolega com ímpeto dançarino para quem quiser arrastar alpercatas no Forró Classudo. Percorre onírico os arabescos de Negra e exige ouvidos atentos ao minimalismo contrarritmado da metafórica Pano pra Manga, nesse curioso enclave de arrasta-pé e concerto de câmara para dois acordeons solitários e virtuosos. – Tárik de Souza

Cinema

A infância não acaba

Cavalo de Guerra

Steven Spielberg

A essa altura, mais do que apontar o que o cinema de Steven Spielberg ainda pode oferecer, melhor é tratar do que ele não quer deixar de oferecer. Sintomático desta postura é, por certo, Cavalo de Guerra que estreia sexta 6, e parece ser também As Aventuras de TinTim, a adaptação em 3D do diretor para os traços de Hergé prevista para o dia 20. Difícil não imaginar neste a ação e fantasia de cunho juvenil, e adulto incluído, que a aventura do outro também propicia, considerando o fantástico agora mais como tom do que gênero. É com esse atributo aplicado a uma situação exigente na tolerância ao inverossímil, comum, aliás, no seu estilo, que Spielberg filia o novo filme a uma subcategoria de sua cinematografia, representada acima de tudo por O Resgate do Soldado Ryan. Curiosamente, sai-se vitorioso nos limites de sua ambição.

Esta aproximação se dá sobretudo pelo cenário da II Guerra e a noção de busca que comanda o enredo, desta vez não por soldados, mas por um cavalo forçado ao front. De início, quando o jovem Albert (Jeremy Irvine) se interessa por um garanhão rebelde e o domestica para trabalhos no arado, a amizade lembra aquela de títulos vespertinos como O Corcel Negro. Mas o destino os desvia, o animal recrutado pelo exército inglês na luta contra os alemães, e seu dono só mais tarde levado à mesma finalidade. Do que talvez não possa, ou não queira, oferecer de original nesse drama circular de fácil adivinhação, o diretor


retira o mais impressionante do rendimento dramático de seu protagonista, diga-se o de quatro patas, e não o de duas pernas. – Orlando Margarido

Uma longa batalha

A guerra está declarada

Valérie Donzelli

O jeito solar do casal da foto parece refutar qualquer possibilidade de uma tragédia na vida desses personagens. Mas esta é uma perspectiva adotada forçosamente pela diretora francesa Valérie Donzelli até o fim de seu filme, em parte autobiográfico, A Guerra Está Declarada, estreia desta sexta 6. Ela mantém um tom leve e feliz mesmo quando o mal se anuncia na forma de um câncer para o filho recém-nascido de Juliette (papel da realizadora) e Roméo (Jérémie Elkaïm), o par em questão, cujos nomes já simbolizam a união perfeita. Será longa a batalha de ambos pela recuperação do garoto, percurso que o espectador poderá sentir ora tocante e sincero, ora por demais reforçado em seu apelo sentimental, ao qual presta serviço inclusive uma versão instrumental de Manhã de Carnaval. Tais ingredientes deste candidato oficial da França, contudo, podem comover o júri da seleção do Oscar entre os títulos ao prêmio estrangeiro. – OM

CD

O fole em outra dimensão

Como Manda o Figurino 

Toninho Ferragutti e Bebê Kramer


Borandá

Atado ao regionalismo nordestino pela explosão do baião em meados do século passado e o repique do forró décadas depois, o acordeom quase foi revogado pelo violão intimista da bossa e a legião da guitarra urbana da Jovem Guarda e do rock. Mas o pesado instrumento de teclados, fole e botões aos poucos ressurge em outra dimensão e amplia latitudes. É o que atesta a dupla de acordeonistas formada pelo paulista de Socorro Toninho Feragutti e o gaúcho de Vacaria Bebê Kramer, no roteiro diversificado do CD autoral Como Manda o Figurino. De início, eles rendem um tributo ao principal difusor do instrumento,


o pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989), na suíte de mais de oito minutos Na Sombra da Asa Branca (de Ferragutti), viagem repleta de acidentes e atalhos pelo modalismo nordestino.

A veia pampeira fronteiriça de Kramer pulsa, em seguida, em sua sinuosa e contrapontística Caminante. E logo uma torrente de referências e influências assoma às outras faixas, como o clima portenho descortinado no Choro da Madrugada. E o lirismo linha Dominguinhos do depurado Choro Esperança, invadido por tons nostálgicos e seresteiros, adiante, em Mestre Paulo. Chamado de gaita no Sul e sanfona no Nordeste, o fole resfolega com ímpeto dançarino para quem quiser arrastar alpercatas no Forró Classudo. Percorre onírico os arabescos de Negra e exige ouvidos atentos ao minimalismo contrarritmado da metafórica Pano pra Manga, nesse curioso enclave de arrasta-pé e concerto de câmara para dois acordeons solitários e virtuosos. – Tárik de Souza

Cinema

A infância não acaba

Cavalo de Guerra

Steven Spielberg

A essa altura, mais do que apontar o que o cinema de Steven Spielberg ainda pode oferecer, melhor é tratar do que ele não quer deixar de oferecer. Sintomático desta postura é, por certo, Cavalo de Guerra que estreia sexta 6, e parece ser também As Aventuras de TinTim, a adaptação em 3D do diretor para os traços de Hergé prevista para o dia 20. Difícil não imaginar neste a ação e fantasia de cunho juvenil, e adulto incluído, que a aventura do outro também propicia, considerando o fantástico agora mais como tom do que gênero. É com esse atributo aplicado a uma situação exigente na tolerância ao inverossímil, comum, aliás, no seu estilo, que Spielberg filia o novo filme a uma subcategoria de sua cinematografia, representada acima de tudo por O Resgate do Soldado Ryan. Curiosamente, sai-se vitorioso nos limites de sua ambição.

Esta aproximação se dá sobretudo pelo cenário da II Guerra e a noção de busca que comanda o enredo, desta vez não por soldados, mas por um cavalo forçado ao front. De início, quando o jovem Albert (Jeremy Irvine) se interessa por um garanhão rebelde e o domestica para trabalhos no arado, a amizade lembra aquela de títulos vespertinos como O Corcel Negro. Mas o destino os desvia, o animal recrutado pelo exército inglês na luta contra os alemães, e seu dono só mais tarde levado à mesma finalidade. Do que talvez não possa, ou não queira, oferecer de original nesse drama circular de fácil adivinhação, o diretor


retira o mais impressionante do rendimento dramático de seu protagonista, diga-se o de quatro patas, e não o de duas pernas. – Orlando Margarido

Uma longa batalha

A guerra está declarada

Valérie Donzelli

O jeito solar do casal da foto parece refutar qualquer possibilidade de uma tragédia na vida desses personagens. Mas esta é uma perspectiva adotada forçosamente pela diretora francesa Valérie Donzelli até o fim de seu filme, em parte autobiográfico, A Guerra Está Declarada, estreia desta sexta 6. Ela mantém um tom leve e feliz mesmo quando o mal se anuncia na forma de um câncer para o filho recém-nascido de Juliette (papel da realizadora) e Roméo (Jérémie Elkaïm), o par em questão, cujos nomes já simbolizam a união perfeita. Será longa a batalha de ambos pela recuperação do garoto, percurso que o espectador poderá sentir ora tocante e sincero, ora por demais reforçado em seu apelo sentimental, ao qual presta serviço inclusive uma versão instrumental de Manhã de Carnaval. Tais ingredientes deste candidato oficial da França, contudo, podem comover o júri da seleção do Oscar entre os títulos ao prêmio estrangeiro. – OM

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