Cultura

O filme do inconsciente

Obra reúne junguianos brasileiros que analisam filmes a partir do que eles movimentaram psicologicamente no homem ocidental desde a segunda metade do século XX

Jung
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É raro que a crítica compreenda o cinema como uma arte a movimentar a psique. Deste poderoso integrante da indústria da cultura analistas costumam exigir apenas o sucesso formal, a excelência narrativa e a pertinência temática ou histórica, esquecidos de que ele fala diretamente à estranha intimidade do espectador. Para a junguiana e mestre em Educação Dulcinéa da Mata Ribeiro Monteiro, organizadora da coletânea Jung e o Cinema – Psicologia analítica através de filmes, o cinema tem sido “um espaço privilegiado para a maior compreensão de si mesmo”, merecedor, portanto, de uma análise psicanalítica deste porte.

Sua ideia foi a de reunir junguianos brasileiros que analisam os filmes em linguagem clara, a partir do que eles movimentaram psicologicamente no homem ocidental desde a segunda metade do século XX. Os filmes, de Fale com Ela a Truman, o Show da Vida, de O Fantasma da Ópera a Lavoura Arcaica ou Morangos Silvestres, entre outros, possuem alguma qualidade narrativa que os eleva, mas seus personagens não necessariamente são maiores que a vida, modelares. Nem precisariam ser, se nos representam.

Como observa Maria Beatriz Vidigal Barbosa de Almeida, analista de O Abraço Partido, de Daniel Burman, o protagonista Ariel, que se viu abandonado pelo pai, trata de -reconstruí-lo enquanto refaz a si mesmo. “Emoção, euforia, surpresa, medo, raiva, incerteza – por qual emoção decidir? Ariel está sob o impacto da nova informação, que exige uma reestruturação de toda a versão obtida até então sobre a partida de seu pai.” Se  pai de Ariel é “refeito” no filme, isto corresponderia à reformulação emocional da figura paterna na sociedade em tempos recentes. E mais um exemplo retirado deste livro de muitas iluminações está em Julieta dos Espíritos, de Fellini. Segundo Andrea de Alvarenga Lima, a isolada e traída Julieta finalmente relaciona-se com seu inconsciente no final do filme ao deparar com a imagem assustadora da mãe. “Ao confrontar esta mãe negativa, abre-se para Julieta uma porta interna” e ela pode “trazer de volta à vida a criança interior.” Poucas vezes o regresso à infância, ato de que genericamente acusam o cinema, pareceu fazer um sentido bom.

Jung e o cinema – Psicologia analítica através de filmes


Dulcinéia da Mata Ribeiro Monteiro (coordenadora)


Juruá Editora, 202 págs., R$49,90

É raro que a crítica compreenda o cinema como uma arte a movimentar a psique. Deste poderoso integrante da indústria da cultura analistas costumam exigir apenas o sucesso formal, a excelência narrativa e a pertinência temática ou histórica, esquecidos de que ele fala diretamente à estranha intimidade do espectador. Para a junguiana e mestre em Educação Dulcinéa da Mata Ribeiro Monteiro, organizadora da coletânea Jung e o Cinema – Psicologia analítica através de filmes, o cinema tem sido “um espaço privilegiado para a maior compreensão de si mesmo”, merecedor, portanto, de uma análise psicanalítica deste porte.

Sua ideia foi a de reunir junguianos brasileiros que analisam os filmes em linguagem clara, a partir do que eles movimentaram psicologicamente no homem ocidental desde a segunda metade do século XX. Os filmes, de Fale com Ela a Truman, o Show da Vida, de O Fantasma da Ópera a Lavoura Arcaica ou Morangos Silvestres, entre outros, possuem alguma qualidade narrativa que os eleva, mas seus personagens não necessariamente são maiores que a vida, modelares. Nem precisariam ser, se nos representam.

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