Tecnologia

Turismo espacial: para o infinito e mais além?

O primeiro voo turístico ao espaço está marcado para 2013. Mas esta é a última fronteira das viagens de luxo, ou um esporte muito perigoso?

Imagem feita por computação gráfico mostra o que a Virgin imagina será a viagem espacial. Foto: Divulgação
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Por Robin McKie

Na extremidade oeste do Pall Mall, em Londres, entre os mais veneráveis e antiquados clubes de cavalheiros, um novo escritório abriu as portas para o público no início deste ano. Sua vitrine proclama em grandes letras o simples slogan: “O espaço é território Virgin”. Aqui, entre os prédios ornamentados do passado, está o futuro das viagens.

Dentro do escritório, rapazes e moças estão muito ocupados com computadores e telefones, enquanto os decoradores dão os últimos retoques às salas elegantes, com divisórias de vidro. Esta é a nova sede no Reino Unido da Virgin Galactic, com a qual Richard Branson espera criar todo um novo mercado de turismo – no espaço exterior. Em uma sala, uma foto da Terra ocupa duas paredes. Em outras há enormes imagens da espaçonave da companhia decolando e pousando em sua base de lançamento no Novo México (EUA). “As coisas vão incrivelmente bem”, diz Stephen Attenborough, diretor comercial da Virgin Galactic. “Estas são imagens computadorizadas, mas no ano que vem esperamos substituí-las por fotografias reais, de nossos primeiros voos comerciais para o espaço exterior.”

Branson pagou mais de 162 milhões de libras para projetar e construir uma frota de naves-mães WhiteKnightTwo e aviões menores SpaceShipTwo, que levarão os clientes a mais de 100 quilômetros da superfície da Terra, onde termina a atmosfera do planeta e começa o espaço. A tecnologia é surpreendente e inovadora.

Preso à barriga de uma nave-mãe movida a jato, o avião espacial – levando dois pilotos e seis passageiros – vai decolar de uma pista e subir até a altitude de 15 km. Lá, haverá um salto de virar o estômago quando o avião espacial for liberado; seu motor de foguete será acionado e os passageiros serão empurrados contra os assentos quando o aparelho disparar para cima a uma velocidade de mais de 4 mil quilômetros por hora. Lá fora, o céu azul ficará preto enquanto a nave se projetará para fora da atmosfera.


Depois de 90 segundos o piloto vai desligar o motor e os passageiros vagarão pelo silêncio sem peso, enquanto o avião espacial deslizará pelo espaço. Mais de 100 quilômetros abaixo, a curvatura da Terra será claramente visível contra o fundo escuro do espaço. Os passageiros terão 6 ou 7 minutos para flutuar pela cabine e desfrutar o êxtase, tirando fotos, antes que a nave inicie um arco para baixo. Suas asas curtas estarão apontadas para cima, transformando a nave em uma gigantesca peteca que voará de volta à Terra. Chegando a uma altitude de cerca de 15 km, suas asas voltarão à configuração original e o aparelho deslizará até um aeroporto. O dia do turismo espacial terá chegado.

Entre os que fizeram reservas para a primeira missão da Virgin Galactic estão Branson, seu filho Sam e sua filha Holly. Angelina Jolie está agendada para um dos primeiros voos, assim como seu parceiro, Brad Pitt. Outros que reservaram a viagem de 125 mil libras incluem o ator Ashton Kutcher, os pilotos de Fórmula 1 Rubens Barrichello e Niki Lauda, os cientistas James Lovelock e Stephen Hawking; a princesa Beatriz do Reino Unido e Paris Hilton também constam das primeiras listas de passageiros.


A Virgin Galactic – que Branson descreve como “de longe o meu empreendimento mais ousado” – recebeu até agora mais de 64 milhões de libras em depósitos de 520 clientes que querem escapar dos laços dominadores da Terra, mesmo que seja por um período muito curto. Os primeiros voos estão marcados para o final de 2013, data que coloca a Virgin Galactic na pole position da corrida para comercializar o espaço. Mas Branson já tem concorrentes, como ficará visível esta semana em Londres, quando delegados se reunirão para a terceira conferência europeia sobre turismo espacial. O evento vai revelar o incrível progresso que se fez em uma indústria que só existia na mente dos autores de ficção científica algumas décadas atrás.

Por exemplo, Andrew Nelson, executivo chefe do consórcio aeroespacial XCOR, sediado em Mojave, Califórnia, deverá falar sobre o progresso de sua espaçonave Lynx. Ela foi projetada para decolar e pousar como um avião. Em termos de escala, é relativamente uma anã, comparada com a nave da Virgin Galactic: a Lynx comporta apenas um piloto e um passageiro. Por outro lado, seu livro de reservas, cheio de voos de 34 milhões de libras, é igualmente impressionante. Os testes deverão começar este ano, e os lançamentos comerciais em 2014. “Continuamos enfocados em oferecer o avião-foguete mais bacana do planeta”, disse Nelson no início deste ano, quando anunciou a captação de fundos para as etapas finais do desenvolvimento da Lynx.

Outros que sondam o setor de turismo espacial incluem a Armadillo Aerospace, no Texas, que está desenvolvendo um foguete de decolagem vertical para levar clientes em voos suborbitais e, mais tarde, orbitais. A empresa russa Orbital Technologies ganhou manchetes no ano passado quando revelou planos de construir um hotel no espaço. Nessa casa de hóspedes em órbita, com quatro quartos, os clientes poderão brincar em gravidade zero durante vários dias — mas por um alto preço: 500 mil libras por um assento no foguete Soyuz que os levará à órbita e mais 100 mil libras por uma estada de cinco noites. A comida será feita em microondas, não haverá álcool e a água será reciclada. Por outro lado, as vistas serão de outro mundo.

Preços acessíveis?

Um fator chave comum nesses projetos é o preço: alto, mas não proibitivo. Custa cerca de 30 mil a 75 mil libras uma tentativa de escalar o monte Everest, por exemplo, e não é por acaso que os voos da Virgin Galactic e da XCOR têm preços apenas ligeiramente mais altos – para capturar o mercado de turismo de extrema aventura dominado pelo homem e a mulher que têm relógios Breitling e salários de seis dígitos.

Isso não significa levar as viagens espaciais às massas, é claro, mas as tornará mais acessíveis que antes. Até hoje apenas sete pessoas, todas bilionárias, compraram passagens para uma estada de uma semana na Estação Espacial Internacional (ISS). A mais recente destas foi o canadense Guy Laliberté, fundador do Cirque du Soleil, que pagou 22 milhões de libras por um voo em que ele deu entrevistas da ISS sobre a iminente crise de água no mundo, antes de colocar um nariz vermelho de palhaço para sua descida à Terra em uma cápsula Soyuz.

Richard Branson, Andrew Nelson e outros empresários estão pelo menos reduzindo o custo de viajar para fora da atmosfera, colocando-o ao alcance de um número muito maior de clientes potenciais. De fato, a ideia do turismo espacial já se torna comum, diz um dos organizadores da conferência desta semana, Pat Norris, da Logica. “Fizemos nossa primeira conferência em 2006. Ela teve um tom muito especulativo. Afinal, era uma nova indústria. Três anos depois, grandes investimentos foram feitos e realmente sentimos que estamos indo para algum lugar. Agora estamos deixando para trás questões de engenharia e nos concentrando em vendas e receitas. Estamos abertos para negócios.” Um delegado – Erick Morazin, da Allianz Global Assistance – vai até explicar como os que querem ser projetados ao espaço podem conseguir seguro para sua viagem.

Existe uma verdadeira sensação de mudança. “Estamos visando transformar uma atividade que foi controlada apenas por governos durante mais de 50 anos, que era incrivelmente cara e relativamente perigosa”, diz Stephen Attenborough. “Existe uma grande lacuna entre o que já foi feito e o que vamos fazer.”

Essa revolução certamente demorou a chegar. No final dos anos 1960, durante o programa Apollo, parecia que entrar em órbita se tornaria parte da vida comum em alguns anos. Mas o sonho morreu enquanto os governos lutavam para equilibrar a necessidade decrescente de colocar pessoas no espaço com o enorme custo de fazer isso em segurança. Hoje ele está sendo recuperado pela empresa privada. Mas o que mudou? Que fatos transformadores ocorreram recentemente para nos levar à aurora da viagem espacial em massa?

Investimentos criaram a nova indústria

Analistas indicam vários fatores, sendo um dos principais o prêmio Ansari X, de US$ 10 milhões, criado em 1996 pelo empresário americano Peter Diamandis, que seria dado aos construtores da primeira espaçonave construída com financiamento privado que fizesse voos suborbitais. “Eu tive a ideia ao ler a história de Charles Lindbergh, que voou através do Atlântico no Spirit of St Louis em 1927”, diz Diamandis. “Lindbergh fez seu voo épico para ganhar um concurso de US$ 25 mil, e ao fazê-lo abriu os céus para os voos internacionais.” Estava na hora de fazer o mesmo pelo espaço, diz Diamandis, que decretou que a espaçonave só poderia vencer se fosse pilotada por um ser humano, pudesse transportar três astronautas e voasse duas vezes no período de 14 dias.

Dentro de meses, dezenas de inventores e projetistas tinham anunciado seus planos. Os testes ocorreram ao longo dos anos seguintes, até que em 2004 o prêmio foi vencido pelo projetista de aeronaves americano Burt Rutan. Em 29 de setembro, seu SpaceShipOne – movido por combustão de óxido nitroso e borracha sólida – voou a mais de 100 quilômetros de altitude sobre o deserto de Mojave. Alguns dias depois a nave repetiu a façanha. Rutan ganhou o prêmio com seu projeto: um pequeno avião espacial é transportado até alta altitude por uma nave mãe movida a jato; então é liberado e aciona um motor de foguete com combustível sólido para se projetar no espaço. A tecnologia foi aproveitada por Branson, que já tinha criado o nome Virgin Galactic e procurava o sistema certo para democratizar a viagem espacial. “Basicamente, vamos usar uma versão do projeto de Rutan, expandida para acomodar oito pessoas, em vez de três”, diz Attenborough.

Visionários

Outro fator crítico para tornar realidade as viagens espaciais privadas foi a ascensão do bilionário tecnocrata. Muitos dos indivíduos mais ricos de hoje vêm das indústrias de computadores ou da Internet, e virtualmente todas as empresas que disputam o domínio do mercado de turismo espacial foram apoiadas de certa forma por homens que fizeram fortuna dessa maneira. O desenvolvimento das naves espaciais de Burt Rutan foi apoiado pelo cofundador da Microsoft Paul Allen, por exemplo. De modo semelhante, John Carmack, que fez fortuna escrevendo jogos de computador como Doom e Quake, investiu na Armadillo Aerospace, que pretende fazer voos tripulados no futuro próximo.

Depois há Elon Musk, que vendeu a empresa de pagamentos na Internet PayPal para a eBay por 1 bilhão de libras e montou a companhia de foguetes SpaceX, em Los Angeles. No mês passado ela se tornou a primeira organização espacial privada a enviar uma cápsula para a Estação Espacial Internacional. A espaçonave robô levou 500 quilos de carga para a tripulação da estação. “Era preciso algum pré-boom para fornecer o capital para manter o boom dos foguetes, e isso só aconteceu com os computadores pessoais e a Internet”, ele explica.

Portanto, foram os geeks ricos que abriram as viagens ao espaço exterior. Resta ver o quanto seus empreendimentos serão bem-sucedidos – e quão arriscados. Certamente a segurança ainda é um tema polêmico para alguns críticos, incluindo o astrônomo real britânico Martin Rees, que é contra essas empreitadas serem chamadas de “turismo espacial”. “A frase engana as pessoas a acreditar que são aventuras rotineiras e de baixo risco”, diz. “Se essa for a percepção, os acidentes inevitáveis serão tão traumáticos quanto os do ônibus espacial. Em vez disso, esses empreendimentos com preços reduzidos devem ser considerados esportes perigosos.”

A tese é rejeitada por Stephen Attenborough, da Virgin Galactic. “Parte do problema das espaçonaves tripuladas no passado foi que elas eram complexas demais”, ele diz. “Temos um número muito limitado de sistemas críticos dos quais depende a segurança de nossa nave, por isso não é difícil construir em redundância. E haverá programas de testes exaustivos até estarmos prontos para os primeiros lançamentos, no ano que vem. Por outro lado, nunca dissemos que isso seria livre de riscos. Mas o que na vida é?”

Leia mais em Guardian.co.uk

Por Robin McKie

Na extremidade oeste do Pall Mall, em Londres, entre os mais veneráveis e antiquados clubes de cavalheiros, um novo escritório abriu as portas para o público no início deste ano. Sua vitrine proclama em grandes letras o simples slogan: “O espaço é território Virgin”. Aqui, entre os prédios ornamentados do passado, está o futuro das viagens.

Dentro do escritório, rapazes e moças estão muito ocupados com computadores e telefones, enquanto os decoradores dão os últimos retoques às salas elegantes, com divisórias de vidro. Esta é a nova sede no Reino Unido da Virgin Galactic, com a qual Richard Branson espera criar todo um novo mercado de turismo – no espaço exterior. Em uma sala, uma foto da Terra ocupa duas paredes. Em outras há enormes imagens da espaçonave da companhia decolando e pousando em sua base de lançamento no Novo México (EUA). “As coisas vão incrivelmente bem”, diz Stephen Attenborough, diretor comercial da Virgin Galactic. “Estas são imagens computadorizadas, mas no ano que vem esperamos substituí-las por fotografias reais, de nossos primeiros voos comerciais para o espaço exterior.”

Branson pagou mais de 162 milhões de libras para projetar e construir uma frota de naves-mães WhiteKnightTwo e aviões menores SpaceShipTwo, que levarão os clientes a mais de 100 quilômetros da superfície da Terra, onde termina a atmosfera do planeta e começa o espaço. A tecnologia é surpreendente e inovadora.

Preso à barriga de uma nave-mãe movida a jato, o avião espacial – levando dois pilotos e seis passageiros – vai decolar de uma pista e subir até a altitude de 15 km. Lá, haverá um salto de virar o estômago quando o avião espacial for liberado; seu motor de foguete será acionado e os passageiros serão empurrados contra os assentos quando o aparelho disparar para cima a uma velocidade de mais de 4 mil quilômetros por hora. Lá fora, o céu azul ficará preto enquanto a nave se projetará para fora da atmosfera.


Depois de 90 segundos o piloto vai desligar o motor e os passageiros vagarão pelo silêncio sem peso, enquanto o avião espacial deslizará pelo espaço. Mais de 100 quilômetros abaixo, a curvatura da Terra será claramente visível contra o fundo escuro do espaço. Os passageiros terão 6 ou 7 minutos para flutuar pela cabine e desfrutar o êxtase, tirando fotos, antes que a nave inicie um arco para baixo. Suas asas curtas estarão apontadas para cima, transformando a nave em uma gigantesca peteca que voará de volta à Terra. Chegando a uma altitude de cerca de 15 km, suas asas voltarão à configuração original e o aparelho deslizará até um aeroporto. O dia do turismo espacial terá chegado.

Entre os que fizeram reservas para a primeira missão da Virgin Galactic estão Branson, seu filho Sam e sua filha Holly. Angelina Jolie está agendada para um dos primeiros voos, assim como seu parceiro, Brad Pitt. Outros que reservaram a viagem de 125 mil libras incluem o ator Ashton Kutcher, os pilotos de Fórmula 1 Rubens Barrichello e Niki Lauda, os cientistas James Lovelock e Stephen Hawking; a princesa Beatriz do Reino Unido e Paris Hilton também constam das primeiras listas de passageiros.


A Virgin Galactic – que Branson descreve como “de longe o meu empreendimento mais ousado” – recebeu até agora mais de 64 milhões de libras em depósitos de 520 clientes que querem escapar dos laços dominadores da Terra, mesmo que seja por um período muito curto. Os primeiros voos estão marcados para o final de 2013, data que coloca a Virgin Galactic na pole position da corrida para comercializar o espaço. Mas Branson já tem concorrentes, como ficará visível esta semana em Londres, quando delegados se reunirão para a terceira conferência europeia sobre turismo espacial. O evento vai revelar o incrível progresso que se fez em uma indústria que só existia na mente dos autores de ficção científica algumas décadas atrás.

Por exemplo, Andrew Nelson, executivo chefe do consórcio aeroespacial XCOR, sediado em Mojave, Califórnia, deverá falar sobre o progresso de sua espaçonave Lynx. Ela foi projetada para decolar e pousar como um avião. Em termos de escala, é relativamente uma anã, comparada com a nave da Virgin Galactic: a Lynx comporta apenas um piloto e um passageiro. Por outro lado, seu livro de reservas, cheio de voos de 34 milhões de libras, é igualmente impressionante. Os testes deverão começar este ano, e os lançamentos comerciais em 2014. “Continuamos enfocados em oferecer o avião-foguete mais bacana do planeta”, disse Nelson no início deste ano, quando anunciou a captação de fundos para as etapas finais do desenvolvimento da Lynx.

Outros que sondam o setor de turismo espacial incluem a Armadillo Aerospace, no Texas, que está desenvolvendo um foguete de decolagem vertical para levar clientes em voos suborbitais e, mais tarde, orbitais. A empresa russa Orbital Technologies ganhou manchetes no ano passado quando revelou planos de construir um hotel no espaço. Nessa casa de hóspedes em órbita, com quatro quartos, os clientes poderão brincar em gravidade zero durante vários dias — mas por um alto preço: 500 mil libras por um assento no foguete Soyuz que os levará à órbita e mais 100 mil libras por uma estada de cinco noites. A comida será feita em microondas, não haverá álcool e a água será reciclada. Por outro lado, as vistas serão de outro mundo.

Preços acessíveis?

Um fator chave comum nesses projetos é o preço: alto, mas não proibitivo. Custa cerca de 30 mil a 75 mil libras uma tentativa de escalar o monte Everest, por exemplo, e não é por acaso que os voos da Virgin Galactic e da XCOR têm preços apenas ligeiramente mais altos – para capturar o mercado de turismo de extrema aventura dominado pelo homem e a mulher que têm relógios Breitling e salários de seis dígitos.

Isso não significa levar as viagens espaciais às massas, é claro, mas as tornará mais acessíveis que antes. Até hoje apenas sete pessoas, todas bilionárias, compraram passagens para uma estada de uma semana na Estação Espacial Internacional (ISS). A mais recente destas foi o canadense Guy Laliberté, fundador do Cirque du Soleil, que pagou 22 milhões de libras por um voo em que ele deu entrevistas da ISS sobre a iminente crise de água no mundo, antes de colocar um nariz vermelho de palhaço para sua descida à Terra em uma cápsula Soyuz.

Richard Branson, Andrew Nelson e outros empresários estão pelo menos reduzindo o custo de viajar para fora da atmosfera, colocando-o ao alcance de um número muito maior de clientes potenciais. De fato, a ideia do turismo espacial já se torna comum, diz um dos organizadores da conferência desta semana, Pat Norris, da Logica. “Fizemos nossa primeira conferência em 2006. Ela teve um tom muito especulativo. Afinal, era uma nova indústria. Três anos depois, grandes investimentos foram feitos e realmente sentimos que estamos indo para algum lugar. Agora estamos deixando para trás questões de engenharia e nos concentrando em vendas e receitas. Estamos abertos para negócios.” Um delegado – Erick Morazin, da Allianz Global Assistance – vai até explicar como os que querem ser projetados ao espaço podem conseguir seguro para sua viagem.

Existe uma verdadeira sensação de mudança. “Estamos visando transformar uma atividade que foi controlada apenas por governos durante mais de 50 anos, que era incrivelmente cara e relativamente perigosa”, diz Stephen Attenborough. “Existe uma grande lacuna entre o que já foi feito e o que vamos fazer.”

Essa revolução certamente demorou a chegar. No final dos anos 1960, durante o programa Apollo, parecia que entrar em órbita se tornaria parte da vida comum em alguns anos. Mas o sonho morreu enquanto os governos lutavam para equilibrar a necessidade decrescente de colocar pessoas no espaço com o enorme custo de fazer isso em segurança. Hoje ele está sendo recuperado pela empresa privada. Mas o que mudou? Que fatos transformadores ocorreram recentemente para nos levar à aurora da viagem espacial em massa?

Investimentos criaram a nova indústria

Analistas indicam vários fatores, sendo um dos principais o prêmio Ansari X, de US$ 10 milhões, criado em 1996 pelo empresário americano Peter Diamandis, que seria dado aos construtores da primeira espaçonave construída com financiamento privado que fizesse voos suborbitais. “Eu tive a ideia ao ler a história de Charles Lindbergh, que voou através do Atlântico no Spirit of St Louis em 1927”, diz Diamandis. “Lindbergh fez seu voo épico para ganhar um concurso de US$ 25 mil, e ao fazê-lo abriu os céus para os voos internacionais.” Estava na hora de fazer o mesmo pelo espaço, diz Diamandis, que decretou que a espaçonave só poderia vencer se fosse pilotada por um ser humano, pudesse transportar três astronautas e voasse duas vezes no período de 14 dias.

Dentro de meses, dezenas de inventores e projetistas tinham anunciado seus planos. Os testes ocorreram ao longo dos anos seguintes, até que em 2004 o prêmio foi vencido pelo projetista de aeronaves americano Burt Rutan. Em 29 de setembro, seu SpaceShipOne – movido por combustão de óxido nitroso e borracha sólida – voou a mais de 100 quilômetros de altitude sobre o deserto de Mojave. Alguns dias depois a nave repetiu a façanha. Rutan ganhou o prêmio com seu projeto: um pequeno avião espacial é transportado até alta altitude por uma nave mãe movida a jato; então é liberado e aciona um motor de foguete com combustível sólido para se projetar no espaço. A tecnologia foi aproveitada por Branson, que já tinha criado o nome Virgin Galactic e procurava o sistema certo para democratizar a viagem espacial. “Basicamente, vamos usar uma versão do projeto de Rutan, expandida para acomodar oito pessoas, em vez de três”, diz Attenborough.

Visionários

Outro fator crítico para tornar realidade as viagens espaciais privadas foi a ascensão do bilionário tecnocrata. Muitos dos indivíduos mais ricos de hoje vêm das indústrias de computadores ou da Internet, e virtualmente todas as empresas que disputam o domínio do mercado de turismo espacial foram apoiadas de certa forma por homens que fizeram fortuna dessa maneira. O desenvolvimento das naves espaciais de Burt Rutan foi apoiado pelo cofundador da Microsoft Paul Allen, por exemplo. De modo semelhante, John Carmack, que fez fortuna escrevendo jogos de computador como Doom e Quake, investiu na Armadillo Aerospace, que pretende fazer voos tripulados no futuro próximo.

Depois há Elon Musk, que vendeu a empresa de pagamentos na Internet PayPal para a eBay por 1 bilhão de libras e montou a companhia de foguetes SpaceX, em Los Angeles. No mês passado ela se tornou a primeira organização espacial privada a enviar uma cápsula para a Estação Espacial Internacional. A espaçonave robô levou 500 quilos de carga para a tripulação da estação. “Era preciso algum pré-boom para fornecer o capital para manter o boom dos foguetes, e isso só aconteceu com os computadores pessoais e a Internet”, ele explica.

Portanto, foram os geeks ricos que abriram as viagens ao espaço exterior. Resta ver o quanto seus empreendimentos serão bem-sucedidos – e quão arriscados. Certamente a segurança ainda é um tema polêmico para alguns críticos, incluindo o astrônomo real britânico Martin Rees, que é contra essas empreitadas serem chamadas de “turismo espacial”. “A frase engana as pessoas a acreditar que são aventuras rotineiras e de baixo risco”, diz. “Se essa for a percepção, os acidentes inevitáveis serão tão traumáticos quanto os do ônibus espacial. Em vez disso, esses empreendimentos com preços reduzidos devem ser considerados esportes perigosos.”

A tese é rejeitada por Stephen Attenborough, da Virgin Galactic. “Parte do problema das espaçonaves tripuladas no passado foi que elas eram complexas demais”, ele diz. “Temos um número muito limitado de sistemas críticos dos quais depende a segurança de nossa nave, por isso não é difícil construir em redundância. E haverá programas de testes exaustivos até estarmos prontos para os primeiros lançamentos, no ano que vem. Por outro lado, nunca dissemos que isso seria livre de riscos. Mas o que na vida é?”

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