Cultura

Gaby Amarantos e Emicida, a música nos tempos de Internet

A “Beyoncé do Pará” e o rapper paulistano vivem o sucesso que conquistaram através da Internet, sem o ‘aval’ das grandes gravadoras

Gaby Amarantos, a Beyoncé do Pará
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“Ela é muito diva!”, gritou a moça aos amigos, com uma câmera na mão. Era a quinta edição da Campus Party, a feira de internet que acontece anualmente em São Paulo, na última terça-feira 7. A diva em questão era a cantora de tecnobrega Gaby Amarantos, a “Beyoncé do Pará”. Simpática, Gaby sorriu e posou pacientemente para todos os cliques. Pouco depois, o rapper Emicida, palestrante ao lado da paraense e do também rapper MV Bill, viveria a mesma tietagem.

Se cenas como essa hoje em dia fazem parte do cotidiano de Gaby e Emicida, ambos garantem que isso se deve à dimensão que suas carreiras tomaram através da internet – o sucesso na rede era justamente o assunto da palestra. Ambos vieram da periferia e são marcados pela disponibilização gratuita ou a preços muito baixos de seus discos, fenômeno que ampliou a audiência para além dos subúrbios paraenses e paulistanos. A dupla até já realizou uma apresentação em conjunto, no Beco 203, casa de shows localizada no Baixo Augusta, em São Paulo, frequentada por um público de classe média-alta.

Respeito pelo tecnobrega

Este ano é a crista da onda da fama de Gaby Amarantos. Acaba de fechar um acordo para produzir um álbum com a maior gravadora brasileira, a Som Livre, participa de programas de tevê e anuncia que terá uma música inédita na trilha de abertura da próxima novela das sete da Rede Globo. E apesar de entrar de cabeça no mainstream, Gaby garante que não deixará de disponibilizar seu trabalho na web. “Para mim, não é pirataria quando eu compartilho a minha música sem um grande selo. O artista é dono da música, ele pode compartilhar quando quiser”, afirmou a cantora.

No início de sua carreira, Gaby gravava CDs e os dava gratuitamente para camelôs venderem. No Pará, a “pirataria” é uma prática comum, incentivada pelas próprias bandas e a maior responsável pela divulgação das novidades do Tecnobrega. Geralmente os shows são gravados por produtores e poucas horas mais tarde o áudio já está sendo comercializado nas banquinhas dos ambulantes.

Porém, o grande orgulho de Gaby Amarantos parece ser o fato de sua música ajudar a quebrar preconceitos contra o tecnobrega. “O que eu mais escuto é gente que não gostava do ritmo e depois passou a olhar com outros olhos”, conta.  Sobre a possibilidade de o público enxergar seu trabalho apenas como algo kitsch, a cantora não se importa: “Minha missão é mostrar que as músicas brega do Pará têm outro sentido, não só o pejorativo. Eu não vejo nenhum problema em que ouçam a música somente para se divertir, para mim o importante é que as pessoas tenham respeito pelo movimento”.

‘Eu sou um pirata, e isso não é uma ofensa’

A cantora acredita que o ideal para o mercado da música brasileira é encontrar um equilíbrio entre os downloads, a pirataria e o mercado tradicional, opinião da qual Emicida compartilha. O rapper, nascido no bairro do Tucuruvi, na zona norte de São Paulo, surgiu em 2007, quando a internet já estava no auge, e usava sua página no Orkut para anunciar as batalhas de MCs, festas de improvisações de rap, como a “Rinha dos MCs”, nas quais se sagrou o “Rei da Rima”. “Eu gosto da pirataria. Ser chamado de pirata, para mim, não é uma ofensa”, disse.

Quando começou a carreira, Emicida gravava discos, estampava um logo em uma folha de papel e os vendia a dois reais. As pessoas achavam aquilo um absurdo e diziam que ele desvalorizava seu trabalho. “Eu penso exatamente o oposto, a minha ideia é valorizar esses dois reais oferecendo uma música de qualidade”, explica. Com a internet, ele percebeu que tinha  público de diferentes classes sociais disposto a consumir suas rimas, independentemente de ter uma gravadora por trás ou não.

O fato de ter conquistado novos nichos não fez com que a temática das letras de Emicida mudasse. Ele ainda se diz “porta-voz de quem nunca foi ouvido” e narra o cotidiano da periferia. “Quem pauta é a rua. O rap do Brasil tem muita qualidade, as letras são realmente muito boas, não é igual ao americano que dá até vergonha de ouvir com a família”, brinca.

Símbolos importantes de um tempo em que as novas mídias digitais batem de frente com o establishment estabelecido das gravadoras, Emicida e Gaby não fazem projeções sobre o futuro do rap e do tecnobrega. Mas acreditam que a influência da rede é uma influência definitiva. “A nossa geração já tem as redes sociais muito internalizadas, então a internet é a grande vitrine do nosso trabalho”, conclui o rapper.

“Ela é muito diva!”, gritou a moça aos amigos, com uma câmera na mão. Era a quinta edição da Campus Party, a feira de internet que acontece anualmente em São Paulo, na última terça-feira 7. A diva em questão era a cantora de tecnobrega Gaby Amarantos, a “Beyoncé do Pará”. Simpática, Gaby sorriu e posou pacientemente para todos os cliques. Pouco depois, o rapper Emicida, palestrante ao lado da paraense e do também rapper MV Bill, viveria a mesma tietagem.

Se cenas como essa hoje em dia fazem parte do cotidiano de Gaby e Emicida, ambos garantem que isso se deve à dimensão que suas carreiras tomaram através da internet – o sucesso na rede era justamente o assunto da palestra. Ambos vieram da periferia e são marcados pela disponibilização gratuita ou a preços muito baixos de seus discos, fenômeno que ampliou a audiência para além dos subúrbios paraenses e paulistanos. A dupla até já realizou uma apresentação em conjunto, no Beco 203, casa de shows localizada no Baixo Augusta, em São Paulo, frequentada por um público de classe média-alta.

Respeito pelo tecnobrega

Este ano é a crista da onda da fama de Gaby Amarantos. Acaba de fechar um acordo para produzir um álbum com a maior gravadora brasileira, a Som Livre, participa de programas de tevê e anuncia que terá uma música inédita na trilha de abertura da próxima novela das sete da Rede Globo. E apesar de entrar de cabeça no mainstream, Gaby garante que não deixará de disponibilizar seu trabalho na web. “Para mim, não é pirataria quando eu compartilho a minha música sem um grande selo. O artista é dono da música, ele pode compartilhar quando quiser”, afirmou a cantora.

No início de sua carreira, Gaby gravava CDs e os dava gratuitamente para camelôs venderem. No Pará, a “pirataria” é uma prática comum, incentivada pelas próprias bandas e a maior responsável pela divulgação das novidades do Tecnobrega. Geralmente os shows são gravados por produtores e poucas horas mais tarde o áudio já está sendo comercializado nas banquinhas dos ambulantes.

Porém, o grande orgulho de Gaby Amarantos parece ser o fato de sua música ajudar a quebrar preconceitos contra o tecnobrega. “O que eu mais escuto é gente que não gostava do ritmo e depois passou a olhar com outros olhos”, conta.  Sobre a possibilidade de o público enxergar seu trabalho apenas como algo kitsch, a cantora não se importa: “Minha missão é mostrar que as músicas brega do Pará têm outro sentido, não só o pejorativo. Eu não vejo nenhum problema em que ouçam a música somente para se divertir, para mim o importante é que as pessoas tenham respeito pelo movimento”.

‘Eu sou um pirata, e isso não é uma ofensa’

A cantora acredita que o ideal para o mercado da música brasileira é encontrar um equilíbrio entre os downloads, a pirataria e o mercado tradicional, opinião da qual Emicida compartilha. O rapper, nascido no bairro do Tucuruvi, na zona norte de São Paulo, surgiu em 2007, quando a internet já estava no auge, e usava sua página no Orkut para anunciar as batalhas de MCs, festas de improvisações de rap, como a “Rinha dos MCs”, nas quais se sagrou o “Rei da Rima”. “Eu gosto da pirataria. Ser chamado de pirata, para mim, não é uma ofensa”, disse.

Quando começou a carreira, Emicida gravava discos, estampava um logo em uma folha de papel e os vendia a dois reais. As pessoas achavam aquilo um absurdo e diziam que ele desvalorizava seu trabalho. “Eu penso exatamente o oposto, a minha ideia é valorizar esses dois reais oferecendo uma música de qualidade”, explica. Com a internet, ele percebeu que tinha  público de diferentes classes sociais disposto a consumir suas rimas, independentemente de ter uma gravadora por trás ou não.

O fato de ter conquistado novos nichos não fez com que a temática das letras de Emicida mudasse. Ele ainda se diz “porta-voz de quem nunca foi ouvido” e narra o cotidiano da periferia. “Quem pauta é a rua. O rap do Brasil tem muita qualidade, as letras são realmente muito boas, não é igual ao americano que dá até vergonha de ouvir com a família”, brinca.

Símbolos importantes de um tempo em que as novas mídias digitais batem de frente com o establishment estabelecido das gravadoras, Emicida e Gaby não fazem projeções sobre o futuro do rap e do tecnobrega. Mas acreditam que a influência da rede é uma influência definitiva. “A nossa geração já tem as redes sociais muito internalizadas, então a internet é a grande vitrine do nosso trabalho”, conclui o rapper.

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