Sociedade

Softwares podem ajudar a evitar tragédias como a da boate Kiss

Programas de computador em estudo em universidades brasileiras simulam incêndios e outras situações de emergência e podem ser ferramentas úteis no controle de locais de grande aglomeração. Tome-se como exemplo duas situações de emergência. Na primeira, num estádio de futebol lotado, as 46 mil pessoas conseguem […]

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Programas de computador em estudo em universidades brasileiras simulam incêndios e outras situações de emergência e podem ser ferramentas úteis no controle de locais de grande aglomeração. Tome-se como exemplo duas situações de emergência. Na primeira, num estádio de futebol lotado, as 46 mil pessoas conseguem deixar o local em minutos apesar do bloqueio de uma das saídas principais. Em outra, num teatro, os cerca de mil espectadores saem ilesos de um incêndio porque, antes, os responsáveis pela segurança da casa foram capazes de simular os padrões de propagação do fogo.

Quase uma semana após o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), é consenso que a tragédia poderia ser, se não totalmente evitada, pelo menos minimizada. E um caminho pode ser o uso de softwares que, como nesses dois exemplos, são capazes de projetar cenários virtuais para casos de emergência. Dois desses programas estão em estudo no Brasil.

Um foi desenvolvido inteiramente pelo Laboratório de Simulação de Humanos Virtuais da Faculdade de Informática da PUC-RS, coordenado pela professora Soraia Raupp Musse. Fruto de um trabalho iniciado em 2009, o chamado CrowdSim simula em 3D a evacuação de locais onde acontecem grandes aglomerações de pessoas. São levados em conta, além da arquitetura local, aspectos que vão desde o perfil das pessoas presentes até suas eventuais reações diante de uma situação de pânico.

“O software não evita uma tragédia. Mas ele apresenta cálculos e cenários ao responsável por um estabelecimento para mostrar que, num quadro de emergência, a estrutura disponível, bem como a forma como está disposta, pode não ser suficiente”, diz Vinícius Cassol, doutorando pela PUC-RS e um dos integrantes da equipe do projeto.

O pesquisador explica que as simulações apresentam um resultado realista, a baixo custo e sem riscos. E exemplifica dizendo que pode-se simular desde um show voltado para um público infantil, em que a maioria dos adultos não conhece o local e é responsável por várias crianças, até uma partida de futebol, onde grande parte dos presentes sabe onde estão as saídas.


O software já foi testado no Engenhão, no Rio de Janeiro, e os resultados foram positivos. O programa constatou que o estádio, administrado pelo Botafogo, pode ser evacuado em 6,5 minutos em condições normais e com 46 mil pessoas presentes. Numa das simulações, ainda foi avaliada a retirada do público com a interdição de uma das quatro saídas, e o tempo de retirada foi de sete minutos.


Treinamento de pessoal é fundamental

Situações de emergência também são o foco do software Fire Dinamic Simulator (FDS), criado nos Estados Unidos e atualmente em estudo na Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O programa consegue reproduzir as prováveis rotas de propagação das chamas num determinado ambiente e simular a dissipação da fumaça – a maioria das mais de 230 mortes na boate Kiss teria sido causada por asfixiamento.

A partir dos dados obtidos e da montagem dos possíveis cenários, o software facilita a definição de medidas estratégicas de segurança, como o posicionamento das portas, a sinalização ao público e a dimensão das rotas de saída e entrada no local.

“A função do cientista é usar tais ferramentas para minimizar ou mesmo evitar tragédias como esta no futuro. Se a boate tivesse o número de portas e os procedimentos adequados, o número de vítimas seria muito menor, se é que haveria alguma”, explica no site da Unicamp o professor Sávio Vianna, que vem trabalhando com o software.

Os dois especialistas dizem que é fundamental também o treinamento adequado, em consonância com as medidas tomadas, dos orientadores e responsáveis pela segurança para casos de emergência – segundo testemunhas, funcionários da boate em Santa Maria teriam obstruído a saída de pessoas para evitar que não pagassem a conta.

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