Política

‘Se os militares tivessem representação na Comissão, ela já nasceria morta’, diz sociólogo

Integrantes de ONGs elogiam os nomes anunciados por Dilma Rousseff, mas lamentam que os criminosos não sejam punidos

Foto: Antonio Cruz/A Br
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por Beatriz Mendes e Marcelo Pellegrini

Dilma Rousseff anunciou na quinta-feira 10 a lista de nomes da Comissão da Verdade. Sem atender à pressão dos militares, os sete integrantes escolhidos pela presidenta fazem parte da sociedade civil, sendo que pessoas consideradas emblemáticas na luta contra os crimes políticos da ditadura – como o ex-ministro de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, ou o cardeal Dom Evaristo Arns – não foram convocadas.

Os escolhidos foram José Carlos Dias (ex-ministro da Justiça), Gilson Dipp (ministro do Superior Tribunal de Justiça), Rosa Maria Cardoso da Cunha (advogada), Cláudio Fontelles (ex-subprocurador-geral da República), Paulo Sérgio Pinheiro (diplomata), Maria Rita Kehl (professora) e José Cavalcante Filho (jurista).

Para o sociólogo e integrante do Comitê à Memória, Verdade e Justiça do Rio Grande do Sul, Gilvandro Antunes, a ausência de militares na lista é um avanço. “Ainda não tivemos um estudo pormenorizado de todos os nomes, mas o fato da lista não possuir representantes do Estado-torturador é algo muito promissor”, diz. E completa: “Se os militares tivessem representação na Comissão, ela já nasceria morta”.

No entanto, para Antunes, o caráter não punitivo da Comissão é um impedimento gigante.”É triste a Comissão ser apenas da verdade, já que não há verdade sem justiça”, argumenta.

Paulo Fonteles, representante do Comitê à Memória, Verdade e Justiça no estado do Pará, acredita que a lista veio na hora certa. “Já era tempo de começar os trabalhos”, diz.

Para eles, os nomes são de civis comprometidos com a democracia em um momento em que casos encobertos de crimes da ditadura vem à tona. “Temos novas revelações de crimes no caso da Guerrilha do Araguaia, que aconteceu aqui no Pará, e é importante que as investigações sejam sérias e transparentes”, afirma.

Já Victória Grabois, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, é cética: “Em um País com dimensões continentais, eles não conseguirão apurar os crimes em apenas dois anos”, critica. O movimento também defende a adoção de medidas punitivas e por isso não considera a instalação da comissão um grande avanço.

Quanto aos nomes escolhidos, Victória diz preferir não tecer comentários. Entretanto, confessa ter ficado perplexa quanto à convocação de Gilson Dipp. “Ele foi testemunha do Estado no depoimento dos familiares das vítimas da Guerrilha do Araguaia e não defende a punição dos criminosos. Não dá para entender”, conclui.

Em entrevista cedida na sexta-feira 11, Dipp afirmou que a Comissão não será revanchista. “A lei é muito clara. Ela diz que a comissão tem apenas o objetivo de trazer à tona a memória, a verdade, a paz familiar para aqueles que se sentiram violados nos seus direitos humanos”, ressaltou o ministro.

Ele lembrou que  Comissão ajudará o Brasil a se consolidar como Estado Democrático de Direito. “A comissão é um compromisso do Brasil com a sua historia, com seu passado, com o esclarecimento da verdade de violações graves dos direitos humanos”, disse. “Nenhum Estado se consolida democraticamente se o seu passado não for revisto de forma adequada”, arrematou.

A Comissão da Verdade será instalada oficialmente no dia 16 de maio, às 11h, em uma cerimônia em que estarão presentes os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Serão apuradas violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura (1964-1988). O grupo terá dois anos para ouvir depoimentos em todo o País, requisitar e analisar documentos esclarecedores das violações de direitos.

*Com informações da Agência Brasil

por Beatriz Mendes e Marcelo Pellegrini

Dilma Rousseff anunciou na quinta-feira 10 a lista de nomes da Comissão da Verdade. Sem atender à pressão dos militares, os sete integrantes escolhidos pela presidenta fazem parte da sociedade civil, sendo que pessoas consideradas emblemáticas na luta contra os crimes políticos da ditadura – como o ex-ministro de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, ou o cardeal Dom Evaristo Arns – não foram convocadas.

Os escolhidos foram José Carlos Dias (ex-ministro da Justiça), Gilson Dipp (ministro do Superior Tribunal de Justiça), Rosa Maria Cardoso da Cunha (advogada), Cláudio Fontelles (ex-subprocurador-geral da República), Paulo Sérgio Pinheiro (diplomata), Maria Rita Kehl (professora) e José Cavalcante Filho (jurista).

Para o sociólogo e integrante do Comitê à Memória, Verdade e Justiça do Rio Grande do Sul, Gilvandro Antunes, a ausência de militares na lista é um avanço. “Ainda não tivemos um estudo pormenorizado de todos os nomes, mas o fato da lista não possuir representantes do Estado-torturador é algo muito promissor”, diz. E completa: “Se os militares tivessem representação na Comissão, ela já nasceria morta”.

No entanto, para Antunes, o caráter não punitivo da Comissão é um impedimento gigante.”É triste a Comissão ser apenas da verdade, já que não há verdade sem justiça”, argumenta.

Paulo Fonteles, representante do Comitê à Memória, Verdade e Justiça no estado do Pará, acredita que a lista veio na hora certa. “Já era tempo de começar os trabalhos”, diz.

Para eles, os nomes são de civis comprometidos com a democracia em um momento em que casos encobertos de crimes da ditadura vem à tona. “Temos novas revelações de crimes no caso da Guerrilha do Araguaia, que aconteceu aqui no Pará, e é importante que as investigações sejam sérias e transparentes”, afirma.

Já Victória Grabois, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, é cética: “Em um País com dimensões continentais, eles não conseguirão apurar os crimes em apenas dois anos”, critica. O movimento também defende a adoção de medidas punitivas e por isso não considera a instalação da comissão um grande avanço.

Quanto aos nomes escolhidos, Victória diz preferir não tecer comentários. Entretanto, confessa ter ficado perplexa quanto à convocação de Gilson Dipp. “Ele foi testemunha do Estado no depoimento dos familiares das vítimas da Guerrilha do Araguaia e não defende a punição dos criminosos. Não dá para entender”, conclui.

Em entrevista cedida na sexta-feira 11, Dipp afirmou que a Comissão não será revanchista. “A lei é muito clara. Ela diz que a comissão tem apenas o objetivo de trazer à tona a memória, a verdade, a paz familiar para aqueles que se sentiram violados nos seus direitos humanos”, ressaltou o ministro.

Ele lembrou que  Comissão ajudará o Brasil a se consolidar como Estado Democrático de Direito. “A comissão é um compromisso do Brasil com a sua historia, com seu passado, com o esclarecimento da verdade de violações graves dos direitos humanos”, disse. “Nenhum Estado se consolida democraticamente se o seu passado não for revisto de forma adequada”, arrematou.

A Comissão da Verdade será instalada oficialmente no dia 16 de maio, às 11h, em uma cerimônia em que estarão presentes os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Serão apuradas violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura (1964-1988). O grupo terá dois anos para ouvir depoimentos em todo o País, requisitar e analisar documentos esclarecedores das violações de direitos.

*Com informações da Agência Brasil

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