Sociedade

Os administradores públicos dilapidam o que não é deles

No Brasil, as obras materiais que por ventura aumentem o prestígio do prefeito antecessor são relegadas ao esquecimento

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Local e data são necessários apenas em comprovação de fatos. Como não preciso provar nada, mas exerço meu direito de comentar um vício que vai muito além da incúria administrativa, pois já é a dilapidação, eximo-me de fornecer esses dois elementos na história que vou usar como exemplo.

Na verdade são duas histórias. Uma delas, por distante no tempo e no espaço, não há por que não identificar.

Em uma cidade lá perto de Ribeirão Preto, há cerca de quinze anos, talvez mais, o último ato de um prefeito em fim de mandato foi a inauguração de uma escola profissionalizante. A única da cidade. Ridículas e mais do que manjadas ações quando o mandado chega perto do fim.

Até o Adamastor, que pouco se preocupa com administração municipal, sabe quais são as razões desses administradores. Inauguração de obra em véspera de eleição, como todos sabemos, mas sobretudo de obra material e visível a olho nu, é uma coisa que aumenta muito o prestígio de um prefeito.

Pois bem, le roi est mort, vive le roi. Sai prefeito, prefeito entra, só que o prefeito entrante não era do mesmo partido do prefeito que saiu. E os dois sabiam muito bem qual o objetivo da escola.

Se você pensou que ela se destinava à formação profissional de jovens da cidade, você ainda não passou da fase da ingenuidade. E como ambos administradores não eram ingênuos, o homem público abandonou a escola para não dar prestígio ao antecessor. Assim mesmo. A alguns íntimos e outros nem tanto, o prefeito que entrou confessou exatamente isso.

Estive nessa escola e já nem me lembro do motivo, mas o fato é que estive. As paredes caíam, o banheiro não existia mais, pias, vasos, tudo sumira, as portas tinham sido arrancadas. E, para completar, havia duas vacas sonolentas deitadas na sala dos professores, um cavalo com a cabeça para fora da janela e muito esterco.

Não era mais uma escola, era um mau curral, com cheiro de curral, digamos, um curral caindo aos pedaços. Quanto a prefeitura já havia gasto na obra? Ora, mas a quem isso interessa?

Um segundo exemplo.

Quando o Miguel Colassuono assumiu a prefeitura de São Paulo, havia alguns milhões de cruzeiros (moeda da época) enterrados na Avenida Paulista, em forma de obras para se resolver o problema do trânsito ali.

O prefeito que assumiu mudou os planos, porque não eram dele. Os milhões continuam enterrados até hoje. Alguém se lembra disso? Ora, mas a quem isso interessa? Cidadania por aqui é assim: a gente vai lá e vota e não se envolve mais com a política.

Não existe um modo de botar na cadeia administradores que dilapidam o que não é deles?

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