Sociedade
O Estado brasileiro é laico, mas a lei não
Católicas pelo Direito de Decidir faz campanha contra violações dos princípios democráticos embasadas por argumentos religiosos
As duras palavras, que retratam o cerceamento do direito da mulher ao próprio corpo, saem com força da voz de Brisa De La Cordillera (Brisaflow).
“Um corpo um ventre uma função
Não te dão opção e não te dão opção
O estado é laico mas a lei não não não não
(…)
Pelo direito de escolher
Pelo direito de ser ou não ser
Pelo direito de ter ou não ter
Não venha interferir, só eu devo decidir.”
A letra fala não apenas sobre aborto, mas também sobre cesáreas violentas (“um mosaico”) e sobre a importância de as mulheres lutarem juntas (“Por isso é uma pela outra / Tanto a que não quer ser mãe”).
Esta é a primeira música de cinco que integrarão a campanha “Católicas na luta pelo Estado laico e contra os fundamentalismos”, lançada hoje nas redes sociais pela organização internacional Católicas pelo Direito de Decidir.
A motivação da campanha é a avaliação que a organização faz da sistemática violação dos princípios democráticos no Brasil, por vezes embasada em argumentos de fundo religioso.
“E quem são esses profanadores? São políticos que atuam por interesses particulares, financeiros e religiosos. A religião – geralmente cristã – para fundamentar a criação das políticas públicas, impedir avanços e retroceder naquilo que conquistamos com tanta luta”, afirmam elas.
Por meio de sua assessoria, a integrantes das Católicas se disseram preocupadas – e não é para menos – com o “cenário político desenhado pelo golpe e pelas eleições de 2016 indicam retrocessos nos direitos humanos e sociais”.
Outras artistas feministas que integram a iniciativa são Elisa Gargiulo (que compõe a música inicial com Brisaflow), Drika Ferreira, Ellen Souza, Lívia Cruz e Luana Hansen que, por meio da arte, lutam pelos direitos sociais, especialmente das mulheres, negros e negras e LGBTs.
“É de extrema importância que a sociedade brasileira defenda laicidade como um direito essencial, entendendo que sua violação implica na violação de muitos outros direitos, principalmente os Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos”, dizem as Católicas, cuja ONG existe de 1993.
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