Sociedade

Muito além dos 3 pontos

No Pará, times enfrentam grandes distâncias de ônibus, sofrem com estrutura de treinamento e dependem do apoio do governo para sobreviver

Clássico entre Remo e Paysandu no primeiro turno do Parazão, realizado neste domingo (29), no Mangueirão. Foto: Cristino Martins/ Ag. Pará
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Engana-se quem acha os campeonato paulista ou carioca os mais emocionantes do País. Emocionante mesmo é o campeonato paraense. Num estado cerca de 28 vezes maior do que o Rio de Janeiro, o Parazão tem emoção garantida muito antes de a bola rolar. O desafio começa quando os times percorrem grandes distâncias de ônibus, em meio à Amazônia, para somar míseros três pontos na tabela. Ou voltar de mãos abanando. No Pará, uma vitória fora de casa até devia valer mais conforme a quilometragem.

 

Times de regiões opostas do Estado, como o Águia de Marabá e o São Francisco, de Santarém, têm de atravessar mais de 1.000 km para disputar o campeonato. “Precisamos do apoio do governo, senão o Campeonato Paraense fica inviável”, diz o presidente do Águia de Marabá Futebol Clube, Sebastião Ferreira, conhecido por Ferreirinha.

Mesmo com o apoio logístico e de hospedagem garantido pela Federação Paraense de Futebol (FPF), a saúde financeira dos clubes do Estado é precária. Sem o apoio dos grandes canais de televisão, os oito clubes que disputam a elite do campeonato têm dificuldades em obter patrocínios. No Pará, a Globo retransmite o Campeonato Carioca, enquanto a Bandeirantes passa o Paulista, lamenta Ed Ribeiro, presidente do São Francisco.

Desequilíbrio regional

A única emissora de Tevê que transmite os jogos do campeonato paraense é a TV Cultura do Pará, companhia pública do governo. Por meio dela, muitos clubes encontram suas principais fontes de renda.

No entanto, os repasses da companhia para os clubes são desiguais e privilegiam os times da capital, o que gera grande descontentamento. “A TV Cultura, atualmente, repassa quase sete vezes mais dinheiro ao Remo e ao Paysandu. Isso é muito prejudicial aos times do interior e é uma forma de influenciar no resultado final do campeonato”, argumenta Ferreirinha. “Os clubes do interior poderiam se unir para rever e reivindicar seus direitos”, completa Ribeiro. Atualmente, os repasses da TV Cultura do Pará giram em torno de 99 mil reais anuais aos times do interior e 690 mil reais para Remo e Paysandu.

Mesmo com o abismo entre os valores dos repasses, há mais de dez anos que não ocorre uma final Re-Pa (Remo-Paysandu) – a última foi em 2001. Contudo, dos dez últimos títulos paraenses, cinco foram para o Paysandu, quatro para o Remo e apenas o último foi para o Independente Futebol Clube, de Tucuruí, a 500 km de Belém. O time hoje é o lanterna da segunda fase da competição – liderada pelo Água de Marabá.

Os títulos dos últimos dez anos e a posição do atual campeão na tabela do campeonato de 2012  reforça a fragilidade e instabilidade dos “interioranos” frente os times de Belém.

Apoio governamental

Além do auxílio passagem e hospedagem, o Campeonato Paraense também conta com um patrocinador local de peso: o Banco do Pará. Com apoio de cerca de 15 mil reais mensais para cada clube, a organização pública é uma peça importante na manutenção da competição.

Com uma realidade muito diferente dos times paulistas e cariocas, paraenses se mantêm, principalmente, com doações ou pequenos eventos em seus clubes, além do suporte da televisão e do banco público.

“O patrocínio do banco não é nossa principal fonte de renda. Nossos recursos são principalmente de doações, eventos e do sócio-torcedor”, relata Ribeiro.

“Estávamos afastados da série A do Parazão por doze anos. A série B é terrível, mas temos que atravessar. Nela, não temos o apoio de ninguém. A Federação só monta a tabela e os clubes têm que se virar. É como se pagássemos para jogar”, reclama.

Para disputar a série A do Campeonato paraense, o Leão Azul de Santarém, como é conhecido o São Francisco, tem uma folha de pagamento que gira em torno de 60 mil reais – menos que o salário de muito medalhão do futebol paulista. Do outro lado do estado, o Águia de Marabá tem gastos salariais em torno de 100 mil reais. No Rio, só o salário de Thiago Neves, craque recém-contratado pelo Fluminense, é avaliado em  700 mil reais mensais. Em São Paulo, potências como o Corinthians esperam receber patrocínio de 60 milhões de reais para a temporada de 2012.

Falta de estrutura

Outra dificuldade no Pará é a falta de campos para treinamentos. Atualmente, tanto o Leão Azul de Santarém quanto o Águia de Marabá não possuem um Centro de Treinamento. Esta realidade é bastante comum nos clubes do interior. “Ainda não temos um CT. Possuímos uma área de 165 mil m² para a construção dos primeiros campos, estimada para o ano que vem. Enquanto isso, alugamos campos de parques públicos ou propriedades privadas para treinar” diz o presidente do Leão Azul.

Problema semelhante acontece com as categorias de base dos clubes. “É muito difícil com a estrutura que temos falar em categoria de base”, diz Ferreirinha. “Quando percebemos que o jovem tem talento, o incentivamos a treinar e na hora do jogo perguntamos: ‘Tu guenta?’ Se o menino disser que ‘guenta’ colocamos para jogar”, exemplifica bem-humorado Ribeiro.

Outro agravante para o futebol paraense é que, embora tenha o maior público dos estados da Amazônia e os dois clubes mais tradicionais (o Paysandu conquistou uma Copa dos Campeões, em 2002, e já derrotou Boca Juniors, em 2003, em plena La Bombonera, na Argetina), o estado foi preterido como sede da Copa Mundo – que, na região norte, será representada por Manaus. Para muitos, era a chance de o Pará modernizar sua estrutura esportiva e seu potencial turístico.

Organização

Composto por oito times, o Parazão tem uma estrutura complexa de classificação, que tem início em outubro.

A primeira fase do torneio termina em novembro. Nela, oito times se enfrentam – sendo que todo ano os dois piores times descem para a segunda visão e os dois melhores da série B do Parazão ascendem para a primeira fase.

Após esta fase classificatória, ascendem dois times da primeira fase para compor os oitos times da elite do futebol paraense. Depois de todos se enfrentarem, se classificam quatro times para disputar o ‘mata-mata’ das semi-finais e posteriormente a final do Parazão, programada para o dia 26 de fevereiro.

Engana-se quem acha os campeonato paulista ou carioca os mais emocionantes do País. Emocionante mesmo é o campeonato paraense. Num estado cerca de 28 vezes maior do que o Rio de Janeiro, o Parazão tem emoção garantida muito antes de a bola rolar. O desafio começa quando os times percorrem grandes distâncias de ônibus, em meio à Amazônia, para somar míseros três pontos na tabela. Ou voltar de mãos abanando. No Pará, uma vitória fora de casa até devia valer mais conforme a quilometragem.

 

Times de regiões opostas do Estado, como o Águia de Marabá e o São Francisco, de Santarém, têm de atravessar mais de 1.000 km para disputar o campeonato. “Precisamos do apoio do governo, senão o Campeonato Paraense fica inviável”, diz o presidente do Águia de Marabá Futebol Clube, Sebastião Ferreira, conhecido por Ferreirinha.

Mesmo com o apoio logístico e de hospedagem garantido pela Federação Paraense de Futebol (FPF), a saúde financeira dos clubes do Estado é precária. Sem o apoio dos grandes canais de televisão, os oito clubes que disputam a elite do campeonato têm dificuldades em obter patrocínios. No Pará, a Globo retransmite o Campeonato Carioca, enquanto a Bandeirantes passa o Paulista, lamenta Ed Ribeiro, presidente do São Francisco.

Desequilíbrio regional

A única emissora de Tevê que transmite os jogos do campeonato paraense é a TV Cultura do Pará, companhia pública do governo. Por meio dela, muitos clubes encontram suas principais fontes de renda.

No entanto, os repasses da companhia para os clubes são desiguais e privilegiam os times da capital, o que gera grande descontentamento. “A TV Cultura, atualmente, repassa quase sete vezes mais dinheiro ao Remo e ao Paysandu. Isso é muito prejudicial aos times do interior e é uma forma de influenciar no resultado final do campeonato”, argumenta Ferreirinha. “Os clubes do interior poderiam se unir para rever e reivindicar seus direitos”, completa Ribeiro. Atualmente, os repasses da TV Cultura do Pará giram em torno de 99 mil reais anuais aos times do interior e 690 mil reais para Remo e Paysandu.

Mesmo com o abismo entre os valores dos repasses, há mais de dez anos que não ocorre uma final Re-Pa (Remo-Paysandu) – a última foi em 2001. Contudo, dos dez últimos títulos paraenses, cinco foram para o Paysandu, quatro para o Remo e apenas o último foi para o Independente Futebol Clube, de Tucuruí, a 500 km de Belém. O time hoje é o lanterna da segunda fase da competição – liderada pelo Água de Marabá.

Os títulos dos últimos dez anos e a posição do atual campeão na tabela do campeonato de 2012  reforça a fragilidade e instabilidade dos “interioranos” frente os times de Belém.

Apoio governamental

Além do auxílio passagem e hospedagem, o Campeonato Paraense também conta com um patrocinador local de peso: o Banco do Pará. Com apoio de cerca de 15 mil reais mensais para cada clube, a organização pública é uma peça importante na manutenção da competição.

Com uma realidade muito diferente dos times paulistas e cariocas, paraenses se mantêm, principalmente, com doações ou pequenos eventos em seus clubes, além do suporte da televisão e do banco público.

“O patrocínio do banco não é nossa principal fonte de renda. Nossos recursos são principalmente de doações, eventos e do sócio-torcedor”, relata Ribeiro.

“Estávamos afastados da série A do Parazão por doze anos. A série B é terrível, mas temos que atravessar. Nela, não temos o apoio de ninguém. A Federação só monta a tabela e os clubes têm que se virar. É como se pagássemos para jogar”, reclama.

Para disputar a série A do Campeonato paraense, o Leão Azul de Santarém, como é conhecido o São Francisco, tem uma folha de pagamento que gira em torno de 60 mil reais – menos que o salário de muito medalhão do futebol paulista. Do outro lado do estado, o Águia de Marabá tem gastos salariais em torno de 100 mil reais. No Rio, só o salário de Thiago Neves, craque recém-contratado pelo Fluminense, é avaliado em  700 mil reais mensais. Em São Paulo, potências como o Corinthians esperam receber patrocínio de 60 milhões de reais para a temporada de 2012.

Falta de estrutura

Outra dificuldade no Pará é a falta de campos para treinamentos. Atualmente, tanto o Leão Azul de Santarém quanto o Águia de Marabá não possuem um Centro de Treinamento. Esta realidade é bastante comum nos clubes do interior. “Ainda não temos um CT. Possuímos uma área de 165 mil m² para a construção dos primeiros campos, estimada para o ano que vem. Enquanto isso, alugamos campos de parques públicos ou propriedades privadas para treinar” diz o presidente do Leão Azul.

Problema semelhante acontece com as categorias de base dos clubes. “É muito difícil com a estrutura que temos falar em categoria de base”, diz Ferreirinha. “Quando percebemos que o jovem tem talento, o incentivamos a treinar e na hora do jogo perguntamos: ‘Tu guenta?’ Se o menino disser que ‘guenta’ colocamos para jogar”, exemplifica bem-humorado Ribeiro.

Outro agravante para o futebol paraense é que, embora tenha o maior público dos estados da Amazônia e os dois clubes mais tradicionais (o Paysandu conquistou uma Copa dos Campeões, em 2002, e já derrotou Boca Juniors, em 2003, em plena La Bombonera, na Argetina), o estado foi preterido como sede da Copa Mundo – que, na região norte, será representada por Manaus. Para muitos, era a chance de o Pará modernizar sua estrutura esportiva e seu potencial turístico.

Organização

Composto por oito times, o Parazão tem uma estrutura complexa de classificação, que tem início em outubro.

A primeira fase do torneio termina em novembro. Nela, oito times se enfrentam – sendo que todo ano os dois piores times descem para a segunda visão e os dois melhores da série B do Parazão ascendem para a primeira fase.

Após esta fase classificatória, ascendem dois times da primeira fase para compor os oitos times da elite do futebol paraense. Depois de todos se enfrentarem, se classificam quatro times para disputar o ‘mata-mata’ das semi-finais e posteriormente a final do Parazão, programada para o dia 26 de fevereiro.

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