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Vítima de choques tecnológicos externos e dificuldades internas para se adaptar aos novos tempos, a icônica Kodak foi ao solo

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Autópsias não são agradáveis, mas podem ao menos ser didáticas. Em janeiro deste ano, a Eastman Kodak Company entrou com pedido de concordata nos Estados Unidos. Foi vítima de duas gigantescas ondas de mudanças tecnológicas: a fotografia digital e os smartphones, com câmeras embutidas. Na última década, viu seus resultados minguarem sem conseguir encontrar a nova direção dos lucros.

A empresa, com sede em Rochester, nos Estados Unidos, foi fundada por George Eastman no fim do século XIX. Eastman introduziu o rolo de filme, inovação que ajudaria a definir os rumos da indústria pelos cem anos seguintes. Ele acreditava que o sucesso viria de um produto barato e simples de usar: “Você aperta o botão e nós fazemos o resto”. Além do foco no cliente, a Kodak adotou os princípios que fizeram dela um gigante mundial: produção em massa, custo baixo, distribuição extensiva, propaganda intensiva e investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Desde os primeiros anos, os resultados da empresa vieram da venda de filmes e não das câmeras. Na organização, as câmeras eram vistas apenas como um meio para vender os filmes. Segundo estudo de caso desenvolvido por Giovanni Gavetti, Rebecca Henderson e Simona Giorgi, da Harvard Business School,- isso fez com que o centro de poder da empresa se localizasse em sua gigantesca planta de fabricação de filmes. Seus presidentes quase sempre vinham da manufatura e passavam pela escola de negócios do MIT. Com isso, a empresa forjou uma cultura conservadora, avessa a riscos e arrogante.

Em meados da década de 1970, o modelo ainda funcionava como um bom relógio suíço e fazia com que a Kodak controlasse 90% do mercado de filmes e 85% do mercado de câmeras dos Estados Unidos. Foi no ápice que começaram a surgir ameaças. Em 1981, a Sony anunciou o lançamento da Mavica, a primeira câmera digital, provocando um terremoto emocional na Kodak.

A resposta da empresa foi diversificar seus negócios, investindo em copiadoras, diagnóstico médico e produtos farmacêuticos. Enquanto focava em novos negócios, competidores penetravam no mercado norte-americano com produtos mais baratos, colocando em risco a vaca leiteira da Kodak. Ao mesmo tempo, a empresa investiu em digitalização, usando, porém, um sistema híbrido que combinava a antiga tecnologia com a nova. O fotógrafo levava seu rolo de filme para um centro de digitalização, que transpunha as imagens para um CD. As imagens poderiam, então, ser vistas em um computador ou em uma tevê- conectada a um equipamento especial de reprodução. A história, como se sabe, levou a fotografia para outra direção.

Mais uma década, mais mudanças, novos modelos de negócios, investimentos na China, desenvolvimento de tecnologia digital e muito mais. Muitas tentativas, alguns acertos, mas não o suficiente para reverter o movimento ladeira abaixo. Em 2011, as vendas foram de, aproximadamente, 6 bilhões de dólares, mas somando prejuízos substantivos. A força de trabalho, que atingira um pico de 145 mil funcionários na década de 1980, caí-ra abaixo de 20 mil funcionários. O preço da ação despencou.

Em matéria recente, a revista britânica The Economist comparou a trajetória da Kodak com a da Fujifilm, sua rival japonesa. Ambas se esbaldaram durante os anos de quase monopólio em seus mercados domésticos e ambas sofreram os impactos das novas tecnologias. Contudo, a Fujifilm vale hoje mais que 12 bilhões de dólares e a Kodak, 220 milhões de dólares.

O que explica a diferença? Enquanto os japoneses realizaram um processo eficaz de diversificação, os norte-americanos perderam tempo e dinheiro com tentativas malsucedidas. Analistas também apontam a cultura de complacência e isolamento- da Kodak, que teria impedido a percepção de ameaças e de oportunidades, e a adoção de ações mais firmes de mudança.

Tudo isso, naturalmente, é fácil de notar depois do velório. Executivos e empreendedores, de grandes e pequenas empresas, frequentemente observam as grandes ondas de mudanças se aproximando, venham das novas tecnologias ou do planeta Ásia. Mais difícil é prever quando cada onda chegará, que impacto trará e definir o que fazer a respeito.

Algumas empresas duram mais que cem anos, superando mudanças tecnológicas, recessões, guerras e trocas de comando. Elas constituem um seleto grupo de exceções. A maior parte sucumbe aos primeiros anos de existência. George Eastman foi um empresário inovador e empreendedor. No fim da vida, sofreu com dores de coluna e depressão. Morreu de forma dramática, em 1932, com um tiro no coração. Deixou uma breve nota: “Aos meus amigos: meu trabalho está feito. Por que esperar?”

Dá o que pensar…

Autópsias não são agradáveis, mas podem ao menos ser didáticas. Em janeiro deste ano, a Eastman Kodak Company entrou com pedido de concordata nos Estados Unidos. Foi vítima de duas gigantescas ondas de mudanças tecnológicas: a fotografia digital e os smartphones, com câmeras embutidas. Na última década, viu seus resultados minguarem sem conseguir encontrar a nova direção dos lucros.

A empresa, com sede em Rochester, nos Estados Unidos, foi fundada por George Eastman no fim do século XIX. Eastman introduziu o rolo de filme, inovação que ajudaria a definir os rumos da indústria pelos cem anos seguintes. Ele acreditava que o sucesso viria de um produto barato e simples de usar: “Você aperta o botão e nós fazemos o resto”. Além do foco no cliente, a Kodak adotou os princípios que fizeram dela um gigante mundial: produção em massa, custo baixo, distribuição extensiva, propaganda intensiva e investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Desde os primeiros anos, os resultados da empresa vieram da venda de filmes e não das câmeras. Na organização, as câmeras eram vistas apenas como um meio para vender os filmes. Segundo estudo de caso desenvolvido por Giovanni Gavetti, Rebecca Henderson e Simona Giorgi, da Harvard Business School,- isso fez com que o centro de poder da empresa se localizasse em sua gigantesca planta de fabricação de filmes. Seus presidentes quase sempre vinham da manufatura e passavam pela escola de negócios do MIT. Com isso, a empresa forjou uma cultura conservadora, avessa a riscos e arrogante.

Em meados da década de 1970, o modelo ainda funcionava como um bom relógio suíço e fazia com que a Kodak controlasse 90% do mercado de filmes e 85% do mercado de câmeras dos Estados Unidos. Foi no ápice que começaram a surgir ameaças. Em 1981, a Sony anunciou o lançamento da Mavica, a primeira câmera digital, provocando um terremoto emocional na Kodak.

A resposta da empresa foi diversificar seus negócios, investindo em copiadoras, diagnóstico médico e produtos farmacêuticos. Enquanto focava em novos negócios, competidores penetravam no mercado norte-americano com produtos mais baratos, colocando em risco a vaca leiteira da Kodak. Ao mesmo tempo, a empresa investiu em digitalização, usando, porém, um sistema híbrido que combinava a antiga tecnologia com a nova. O fotógrafo levava seu rolo de filme para um centro de digitalização, que transpunha as imagens para um CD. As imagens poderiam, então, ser vistas em um computador ou em uma tevê- conectada a um equipamento especial de reprodução. A história, como se sabe, levou a fotografia para outra direção.

Mais uma década, mais mudanças, novos modelos de negócios, investimentos na China, desenvolvimento de tecnologia digital e muito mais. Muitas tentativas, alguns acertos, mas não o suficiente para reverter o movimento ladeira abaixo. Em 2011, as vendas foram de, aproximadamente, 6 bilhões de dólares, mas somando prejuízos substantivos. A força de trabalho, que atingira um pico de 145 mil funcionários na década de 1980, caí-ra abaixo de 20 mil funcionários. O preço da ação despencou.

Em matéria recente, a revista britânica The Economist comparou a trajetória da Kodak com a da Fujifilm, sua rival japonesa. Ambas se esbaldaram durante os anos de quase monopólio em seus mercados domésticos e ambas sofreram os impactos das novas tecnologias. Contudo, a Fujifilm vale hoje mais que 12 bilhões de dólares e a Kodak, 220 milhões de dólares.

O que explica a diferença? Enquanto os japoneses realizaram um processo eficaz de diversificação, os norte-americanos perderam tempo e dinheiro com tentativas malsucedidas. Analistas também apontam a cultura de complacência e isolamento- da Kodak, que teria impedido a percepção de ameaças e de oportunidades, e a adoção de ações mais firmes de mudança.

Tudo isso, naturalmente, é fácil de notar depois do velório. Executivos e empreendedores, de grandes e pequenas empresas, frequentemente observam as grandes ondas de mudanças se aproximando, venham das novas tecnologias ou do planeta Ásia. Mais difícil é prever quando cada onda chegará, que impacto trará e definir o que fazer a respeito.

Algumas empresas duram mais que cem anos, superando mudanças tecnológicas, recessões, guerras e trocas de comando. Elas constituem um seleto grupo de exceções. A maior parte sucumbe aos primeiros anos de existência. George Eastman foi um empresário inovador e empreendedor. No fim da vida, sofreu com dores de coluna e depressão. Morreu de forma dramática, em 1932, com um tiro no coração. Deixou uma breve nota: “Aos meus amigos: meu trabalho está feito. Por que esperar?”

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