Política

Filho de Vladimir Herzog cria petição online para tirar Marin da CBF

Na ditadura, dirigente pediu medidas contra “comunistas” da TV Cultura, chefiada pelo jornalista. Duas semanas depois, ele foi assassinado no DOI-CODI

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Cresce na internet um novo movimento anti-José Maria Marin, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Desde o início da semana, mais de 6 mil internautas assinaram uma petição online para tentar remover o dirigente do cargo (acesse AQUI), em um protesto criado por Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, morto por agentes da ditadura. Durante a repressão, o ex-governador biônico de São Paulo integrou o Arena (partido criado pelos militares) e mostrou simpatia por figuras como Sérgio Fleury, torturador de dissidentes do regime.

 

 

A petição, que visa recolher 100 mil assinaturas, repercutiu de forma rápida. “Fiquei impressionado”, conta Ivo a CartaCapital. O presidente do Instituto Vladimir Herzog diz saber que a ação pode não ter a influência pretendida por ser direcionada a uma entidade privada. “Não podemos interferir, mas vai ficar cada vez mais pública essa indignação das pessoas em ter o Marin como o anfitrião do Mundial. Temos que registrar o nosso protesto e criar situações de incômodo para que ele saia ou ao menos deixe o Comitê Organizador da Copa”.

Segundo Ivo, a decisão de lançar o movimento ocorreu após ver o blog do jornalista Juca Kfouri ser acionado na Justiça para explicar a reprodução de uma “convocação” para um escracho a Marin, organizado pela Articulação Estadual pela Memória, Verdade e Justiça, e um texto sobre um discurso do dirigente contra a TV Cultura. A emissora era acusada por ele de ter “comunistas” infiltrados. Um deles seria o então editor-chefe de jornalismo, Vladimir Herzog.

As críticas à estatal paulista, e também os elogios a Fleury, ficaram registrados no Diário Oficial do Estado (Leia e ). Em 9 de outubro de 1975, na Assembleia Legislativa, o então deputado estadual José Maria Marin pediu “providências” contra a emissora. “É preciso mais do que nunca uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar não só nesta Casa [TV Cultura], mas principalmente nos lares paulistanos”, disse Marin.

Duas semanas depois, Herzog foi assassinado no DOI-CODI e teve o suicídio forjado pelo regime.

      

A petição enfatiza os laços de Marin com a ditadura e destaca que seus discursos apoiaram “movimentos que levaram a tortura, morte e desaparecimento de centenas de brasileiros. O caso mais notório é do jornalista Vladimir Herzog”. “Não podemos permitir que Marin viva a glória de estar à frente do maior evento mundial da nossa história”, diz o texto.

Para Ivo, o dirigente representa “o mais grave do sentido da impunidade”. Sua presença no comando da Copa do Mundo, acredita, vai reforçar para “a percepção de que o Brasil é um país da impunidade e que muitas vezes ela é recompensada da pior forma possível”.

CartaCapital contatou Marin por meio de sua assessoria de imprensa, mas não recebeu resposta.

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