Sociedade

Comunidade carioca resiste ao desalojamento por obras dos Jogos

Prefeitura quer transferir comunidade da Vila Autódromo para apartamentos populares contra vontade de moradores

Moradores da Vila Autódromo exibem cartazes em frente à Prefeitura. Foto: ©AFP / Antonio Scorza
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RIO DE JANEIRO (AFP) – Na Vila Autódromo não há traficantes nem milícias. Seus 3.000 moradores não trancam a casa e consideram que vivem em um pedaço do paraíso, que recebe a brisa da lagoa de Jacarepaguá, à sombra de pitangueiras e goiabeiras.

Mas esta comunidade de vielas empoeiradas, sem saneamento ou escolas, vive sob a ameaça do desalojamento porque está situada no local onde o governo vai construir o Parque Olímpico para os Jogos de 2016, na Zona Oeste.

A prefeitura quer transferir a comunidade para apartamentos populares em um conjunto habitacional próximo, mas os moradores se negam e traçaram um plano alternativo.

No jardim de sua casa banhada pela lagoa, onde vive há 23 anos com sua esposa, filhas e netas, Pedro Paulo Franklin mostra orgulhoso as suas figueiras, coqueiros e pés de acerola e mamão.

“A remoção é totalmente absurda. Este pedaço do paraíso foi dado a nós por Deus. Foi com muito suor, esforço, dedicação e amor que fizemos isto, com nossas próprias mãos”, disse à AFP este ex-bombeiro militar de 71 anos.

Os moradores da Vila Autódromo têm o direito de posse da área concedido pelo Estado por já viverem nestas terras há décadas. Mas há 20 anos, sob diferentes argumentos -de que contaminam visualmente a região ao fato de impedirem a construção do Parque Olímpico- vivem sob a ameaça do desalojamento.

“Quero resistir de todas as maneiras possíveis, porque, por direito, esta terra é nossa e há 17 anos vivo aqui”, diz Altair Guimarães, presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo.

Encostada no portão vermelho de sua casa, que dá acesso a um jardim, Antônia Henrique Macena, de 70 anos, está preocupada.

“Eu não entendo muito, porque não sei ler nem escrever. Mas vivemos aqui há tantos anos… Quero que nos deixem viver no nosso cantinho. Para onde querem levar a gente, pelo amor de Jesus Cristo?”, disse à AFP.

Os moradores se organizaram e elaboraram em conjunto com um grupo de acadêmicos um plano de urbanização da comunidade que prevê pavimentação, saneamento, escola e creche, assim como uma margem de exclusão de 15 metros separando a favela da lagoa. O plano foi entregue na semana passada ao prefeito Eduardo Paes, que prometeu estudá-lo.

O governo quer o desalojamento “porque a comunidade está em uma área de intensa valorização imobiliária”, considera Carlos Vainer, professor de Planejamento Urbanístico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos especialistas que ajudaram os moradores a elaborar o plano.

“Dos pontos de vista político, ambiental, urbanístico e financeiro, o plano dos moradores é melhor do que a alternativa brutal de remoção e segregação social proposta pela prefeitura”, afirma.

Os moradores afirmam que sua proposta custaria cerca de sete milhões de dólares, a metade do que seria gasto mudando a comunidade para outro local.

Vainer considera que não é necessário que a “Transolímpica” atravesse a comunidade, tal como havia indicado a prefeitura. “Se alguém vir o projeto, a via expressa vem em linha reta e faz um desvio para atravessar a comunidade, para gerar um novo pretexto para expulsá-la”.

Consultada pela AFP, a prefeitura indicou que a razão do desalojamento é que “dois terços da comunidade estão em uma área de preservação ambiental” e que “a maior parte dos moradores não tem acesso a saneamento básico e vive em condições precárias e insalubres”.

“A prefeitura adquiriu um terreno a 500 metros do lugar e vai construir casas populares. O Rio sempre tem pessoas que provocam problemas, pessoas que são contra, por isso a cidade ficou tanto tempo parada. Vamos fazer este processo com muita tranquilidade e respeito aos direitos humanos”, afirmou a jornalistas o prefeito, que tenta a reeleição em outubro.

No Rio, cerca de 22.000 pessoas vivem com medo de perder suas casas e 8.000 já foram desalojadas, segundo o Comitê Popular da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos (CPCO), uma rede de movimentos sociais contra os desalojamentos forçados.

“A Vila Autódromo é um símbolo, mas isto acontece em toda a cidade”, diz à AFP Renato Cosentino, do CPCO.

Centenas de famílias já foram desalojadas do Morro da Providência, a primeira favela do Rio, localizada na zona portuária, e da favela do Metrô, perto do estádio do Maracanã, entre outras.

Leia mais em AFP Movel.

RIO DE JANEIRO (AFP) – Na Vila Autódromo não há traficantes nem milícias. Seus 3.000 moradores não trancam a casa e consideram que vivem em um pedaço do paraíso, que recebe a brisa da lagoa de Jacarepaguá, à sombra de pitangueiras e goiabeiras.

Mas esta comunidade de vielas empoeiradas, sem saneamento ou escolas, vive sob a ameaça do desalojamento porque está situada no local onde o governo vai construir o Parque Olímpico para os Jogos de 2016, na Zona Oeste.

A prefeitura quer transferir a comunidade para apartamentos populares em um conjunto habitacional próximo, mas os moradores se negam e traçaram um plano alternativo.

No jardim de sua casa banhada pela lagoa, onde vive há 23 anos com sua esposa, filhas e netas, Pedro Paulo Franklin mostra orgulhoso as suas figueiras, coqueiros e pés de acerola e mamão.

“A remoção é totalmente absurda. Este pedaço do paraíso foi dado a nós por Deus. Foi com muito suor, esforço, dedicação e amor que fizemos isto, com nossas próprias mãos”, disse à AFP este ex-bombeiro militar de 71 anos.

Os moradores da Vila Autódromo têm o direito de posse da área concedido pelo Estado por já viverem nestas terras há décadas. Mas há 20 anos, sob diferentes argumentos -de que contaminam visualmente a região ao fato de impedirem a construção do Parque Olímpico- vivem sob a ameaça do desalojamento.

“Quero resistir de todas as maneiras possíveis, porque, por direito, esta terra é nossa e há 17 anos vivo aqui”, diz Altair Guimarães, presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo.

Encostada no portão vermelho de sua casa, que dá acesso a um jardim, Antônia Henrique Macena, de 70 anos, está preocupada.

“Eu não entendo muito, porque não sei ler nem escrever. Mas vivemos aqui há tantos anos… Quero que nos deixem viver no nosso cantinho. Para onde querem levar a gente, pelo amor de Jesus Cristo?”, disse à AFP.

Os moradores se organizaram e elaboraram em conjunto com um grupo de acadêmicos um plano de urbanização da comunidade que prevê pavimentação, saneamento, escola e creche, assim como uma margem de exclusão de 15 metros separando a favela da lagoa. O plano foi entregue na semana passada ao prefeito Eduardo Paes, que prometeu estudá-lo.

O governo quer o desalojamento “porque a comunidade está em uma área de intensa valorização imobiliária”, considera Carlos Vainer, professor de Planejamento Urbanístico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos especialistas que ajudaram os moradores a elaborar o plano.

“Dos pontos de vista político, ambiental, urbanístico e financeiro, o plano dos moradores é melhor do que a alternativa brutal de remoção e segregação social proposta pela prefeitura”, afirma.

Os moradores afirmam que sua proposta custaria cerca de sete milhões de dólares, a metade do que seria gasto mudando a comunidade para outro local.

Vainer considera que não é necessário que a “Transolímpica” atravesse a comunidade, tal como havia indicado a prefeitura. “Se alguém vir o projeto, a via expressa vem em linha reta e faz um desvio para atravessar a comunidade, para gerar um novo pretexto para expulsá-la”.

Consultada pela AFP, a prefeitura indicou que a razão do desalojamento é que “dois terços da comunidade estão em uma área de preservação ambiental” e que “a maior parte dos moradores não tem acesso a saneamento básico e vive em condições precárias e insalubres”.

“A prefeitura adquiriu um terreno a 500 metros do lugar e vai construir casas populares. O Rio sempre tem pessoas que provocam problemas, pessoas que são contra, por isso a cidade ficou tanto tempo parada. Vamos fazer este processo com muita tranquilidade e respeito aos direitos humanos”, afirmou a jornalistas o prefeito, que tenta a reeleição em outubro.

No Rio, cerca de 22.000 pessoas vivem com medo de perder suas casas e 8.000 já foram desalojadas, segundo o Comitê Popular da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos (CPCO), uma rede de movimentos sociais contra os desalojamentos forçados.

“A Vila Autódromo é um símbolo, mas isto acontece em toda a cidade”, diz à AFP Renato Cosentino, do CPCO.

Centenas de famílias já foram desalojadas do Morro da Providência, a primeira favela do Rio, localizada na zona portuária, e da favela do Metrô, perto do estádio do Maracanã, entre outras.

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