Sociedade

‘Ainda não caiu a ficha’, diz estudante agredido

Aluno espancado por policial militar na USP disse ainda estar desnorteado pelo acontecido e que racismo no episódio é implícito

Momento em que policial agride estudante. Foto: reprodução de vídeo/YouTube
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Já passava das 20h quando Nicolas Menezes Barreto atendeu, por telefone, a reportagem de CartaCapital. Mais de oito horas depois de ter sido agredido por Policial Militar em um espaço estudantil na Universidade de São Paulo, Menezes ainda se dizia desnorteado com episódio, gravado com uma câmera digital. “Desculpa se estou sendo exaltado. É que ainda não me caiu a ficha”, afirmou.

Estudante de Ciências da Natureza na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, Menezes foi abordado com tapas por um policial militar que participava de operação para fechar a antiga sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Um vídeo (clique aqui para?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> ver) que circula na internet registrou a cena, inclusive o momento em que o PM aponta a arma para o estudante.

Horas depois da agressão, ele ainda tentava entender o que aconteceu. Segundo ele, a cena foi apenas mais um episódio de um histórico de “opressão” promovido pela Polícia Militar na Universidade. “Eu sou o bode expiatório dessa vez, mas tem um histórico de agressões da USP nos últimos anos”, disse ele.

Tenso, Menezes contou que ainda não sabia se faria algum exame para comprovar o espancamento, o que poderia resultar num processo judicial.“Ainda nem tomei banho. Estou vendo como vou fazer perícia, porque o vídeo já traz todas as provas”, diz. O estudante relatou que tem arranhões e cortes na mão.

Para ele, a tensão entre estudantes e policiais está ligada às atuais reivindicações do Movimento Estudantil da USP. Os alunos pedem a saída do atual reitor João Grandino Rodas, a suspensão de convênio com a Polícia Militar, uma comissão estatuinte para rediscutir o código que rege a instituição, além da não punição dos 73 alunos presos em 2011 e retirada de processos administrativos contra estudantes. Em outras entrevista, Menezes afirma que, no momento da agressão, ele dizia aos policiais que os estudantes estavam ocupando o espaço, cuidado por eles.

Uma das irritações de Menezes foi ter lido, na internet, uma menção ao episódio em que era citado como “suposto estudante”.

Segundo ele, o racismo na atuação policial estava implícito. “Eu era o único cara mais escuro, que passava das 18 horas, vamos dizer assim. Todo mundo estava conversando com ele, mas fui eu quem estava agredido. Isso [o racismo] estava implícito”, diz. Uma aluna que presenciou a cena poucas horas antes também disse considerar a ação “uma atitude clara de racismo”.

Em outra entrevista, concedida ao blog Outro Brasil, Menezes disse que o policial estava “virado no capeta” e que entende que o policial tem de pagar as contas. Ele disse também que é professor da rede municipal de ensino e músico. Em seu perfil no Facebook, ele indica a página de sua banda Brs na rede MySpace.

Amigos apontam que Menezes é um dos 73 presos na desocupação da reitoria em novembro de 2011.

Outro lado

Leia abaixo a nota oficial da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo sobre o episódio:

 

O coronel Wellington Venezian, comandante do CPA/M-5 (Comando de Policiamento Metropolitano – 5), responsável pela zona oeste da capital, afastou das ruas o sargento André Luiz Ferreira e o soldado Rafael Ribeiro Fazolin, envolvidos em uma discussão que terminou com a agressão a um estudante no campus da USP (Universidade de São Paulo).

O vídeo mostrando a agressão foi publicado na internet no início da tarde de hoje (9). O comandante-geral da PM, coronel Álvaro Batista Camilo, ordenou o afastamento dos policiais das ruas assim que assistiu ao vídeo, ainda durante a tarde.

Venezian afirmou que o procedimento “não é o correto da PM”. Os policiais envolvidos já foram ouvidos em sindicância, que será concluída em até 60 dias. Até lá, os dois PMs não voltarão às ruas. O objetivo é também apurar a conduta dos policiais no momento em que não estavam sendo gravados.

O sargento André Luiz Ferreira atua na USP desde o início do convênio da Polícia Militar com a Universidade, oficializado em setembro do ano passado. Em seu histórico nunca constou nenhuma irregularidade.

O efetivo da PM não será alterado no campus da USP – outros dois policiais assumirão os postos dos PMs afastados.

 

 

Já passava das 20h quando Nicolas Menezes Barreto atendeu, por telefone, a reportagem de CartaCapital. Mais de oito horas depois de ter sido agredido por Policial Militar em um espaço estudantil na Universidade de São Paulo, Menezes ainda se dizia desnorteado com episódio, gravado com uma câmera digital. “Desculpa se estou sendo exaltado. É que ainda não me caiu a ficha”, afirmou.

Estudante de Ciências da Natureza na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, Menezes foi abordado com tapas por um policial militar que participava de operação para fechar a antiga sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Um vídeo (clique aqui para?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> ver) que circula na internet registrou a cena, inclusive o momento em que o PM aponta a arma para o estudante.

Horas depois da agressão, ele ainda tentava entender o que aconteceu. Segundo ele, a cena foi apenas mais um episódio de um histórico de “opressão” promovido pela Polícia Militar na Universidade. “Eu sou o bode expiatório dessa vez, mas tem um histórico de agressões da USP nos últimos anos”, disse ele.

Tenso, Menezes contou que ainda não sabia se faria algum exame para comprovar o espancamento, o que poderia resultar num processo judicial.“Ainda nem tomei banho. Estou vendo como vou fazer perícia, porque o vídeo já traz todas as provas”, diz. O estudante relatou que tem arranhões e cortes na mão.

Para ele, a tensão entre estudantes e policiais está ligada às atuais reivindicações do Movimento Estudantil da USP. Os alunos pedem a saída do atual reitor João Grandino Rodas, a suspensão de convênio com a Polícia Militar, uma comissão estatuinte para rediscutir o código que rege a instituição, além da não punição dos 73 alunos presos em 2011 e retirada de processos administrativos contra estudantes. Em outras entrevista, Menezes afirma que, no momento da agressão, ele dizia aos policiais que os estudantes estavam ocupando o espaço, cuidado por eles.

Uma das irritações de Menezes foi ter lido, na internet, uma menção ao episódio em que era citado como “suposto estudante”.

Segundo ele, o racismo na atuação policial estava implícito. “Eu era o único cara mais escuro, que passava das 18 horas, vamos dizer assim. Todo mundo estava conversando com ele, mas fui eu quem estava agredido. Isso [o racismo] estava implícito”, diz. Uma aluna que presenciou a cena poucas horas antes também disse considerar a ação “uma atitude clara de racismo”.

Em outra entrevista, concedida ao blog Outro Brasil, Menezes disse que o policial estava “virado no capeta” e que entende que o policial tem de pagar as contas. Ele disse também que é professor da rede municipal de ensino e músico. Em seu perfil no Facebook, ele indica a página de sua banda Brs na rede MySpace.

Amigos apontam que Menezes é um dos 73 presos na desocupação da reitoria em novembro de 2011.

Outro lado

Leia abaixo a nota oficial da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo sobre o episódio:

 

O coronel Wellington Venezian, comandante do CPA/M-5 (Comando de Policiamento Metropolitano – 5), responsável pela zona oeste da capital, afastou das ruas o sargento André Luiz Ferreira e o soldado Rafael Ribeiro Fazolin, envolvidos em uma discussão que terminou com a agressão a um estudante no campus da USP (Universidade de São Paulo).

O vídeo mostrando a agressão foi publicado na internet no início da tarde de hoje (9). O comandante-geral da PM, coronel Álvaro Batista Camilo, ordenou o afastamento dos policiais das ruas assim que assistiu ao vídeo, ainda durante a tarde.

Venezian afirmou que o procedimento “não é o correto da PM”. Os policiais envolvidos já foram ouvidos em sindicância, que será concluída em até 60 dias. Até lá, os dois PMs não voltarão às ruas. O objetivo é também apurar a conduta dos policiais no momento em que não estavam sendo gravados.

O sargento André Luiz Ferreira atua na USP desde o início do convênio da Polícia Militar com a Universidade, oficializado em setembro do ano passado. Em seu histórico nunca constou nenhuma irregularidade.

O efetivo da PM não será alterado no campus da USP – outros dois policiais assumirão os postos dos PMs afastados.

 

 

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