Sociedade

A piada pronta do conservadorismo

Grupo cristão de extrema-direita prega contra aborto e homossexualismo na Avenida Paulista

Foto: Gabriel Bonis
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No canteiro central da Avenida Paulista em frente ao MASP, um grupo de homens carrega dois estandartes com bandeiras douradas de estilo medieval. No centro dos panos se destaca a imagem de Plínio Corrêa de Oliveira, criador da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), organização ultra-conservadora cristã.

O movimento que avisto, no entanto, é averso à TFP. Mas segue a doutrina de seu fundador em um instituto com o nome de Oliveira. “A TFP está na mão de dissidentes, que seguiram a linha da esquerda católica. Não podemos nos aliar a eles, somos da mais estrita doutrina católica”, prega Daniel Martins, assessor de imprensa do grupo.

A afirmação soa como piada. A TFP, como uma das organizadoras da “Marcha da Família com Deus Pela Liberdade” – que em 1964 convocou os militares a tomarem o poder no Brasil -, teria urticária à esquerda. Mantém dela, portanto, uma distância minimamente “segura”.

 

Abordo Martins poucos segundos após ele terminar de tocar sua gaita de foles. Uniformizado, ele vira a outros integrantes de um grupo de 35 pessoas e diz com voz empossada: “Um folheto para o rapaz, por favor. E um livro também.”

“Esses são os livros da campanha, pelos quais denunciamos a ação do movimento abortista e do movimento homossexual. É uma campanha pacífica, pois a atuação deste grupos leva a uma perseguição religiosa no Brasil”, esbraveja.

Com semblante sério, o militante faz referência à recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em permitir o aborto em casos de fetos anencéfalos. “Digamos que [a criança] vai morrer minutos depois do parto, por que não deixá-la morrer? Por que fazer o aborto? Para abrir as portas para outros tipos de aborto”, defende, apesar das evidências científicas da impossibilidade de sobrevivência do feto nestes casos.

Martins tenta embasar seu argumento e envereda para caminhos conspiratórios. “Muitos dados são produzidos pelas ONGs abortistas, para abrir o campo para a eugenia e o infanticídio sob o pretexto falacioso de que é direito da mulher escolher.”

O aborto é inaceitável, conclui, sem delongas. Não demora também para buscar inspiração no absurdo: “Hitler começou assim, matou os deficientes e depois os velhos. É uma manobra internacional (pela defesa dos direitos individuais) com a pressão da ONU para impor no Brasil uma prática contrária ao povo.”

O assessor de imprensa, de 25 anos, há uma década no movimento, mostra-se eficientemente doutrinado. Cita o Projeto de Lei Complementar 122, a chamada Lei da Homofobia, como uma sentença de prisão a “quem é contra a prática homossexual, mesmo que pacificamente.”

“Uma mãe de família que contrata uma babá para os seus filhos e percebe que ela é lésbica, não pode demití-la. Mesmo cumprindo todos os direitos trabalhistas, porque essa lei diz que ela pode pegar entre dois e cinco anos de cadeia”, brada. Parece desconhecer, no entanto, que a Constituição brasileira não permite a discriminação por sexo, cor ou sexualidade. As placas dos elevadores parecem estar sendo ignoradas.

 

 

Enquanto caminha pela Avenida Paulista, Martins defende que o homossexualismo é um vício e, como tal, não pode ser apoiado pelo Estado. “Há tratamento uma vez que a pessoa se viciou, muitas vezes por causa da má companhia. Temos curas e no livro há vários casos e doutores que fazem esse tratamento.”

“Eles (como se refere aos homossexuais), não querem que ninguém fale ou faça nada contra eles. A Igreja pode falar dentro de suas portas, mas fora não.” Curiosamente, não era possível avistar mulheres no grupo.

Mas e os ateus ou agnósticos contrários ao homossexualismo?, questiono.

“A maior parte da população brasileira é católica ou cristã. A maioria também é contra [o homossexualismo], então a lógica da democracia diz que seria justo legislar para ela. Não queremos um Estado que protege, prolifera e ensina nossas crianças o homossexualismo.” A democracia também prega a defesa de grupos minoritários e excluidos.

Nos panfletos, o grupo vai além e diz que a adoção de uma criança por casal homossexual prejudica sua educação e que essa faixa da população é responsável por uma epidemia de AIDS, pela qual os “aidéticos” (termo abolido há tempos da medicina por ser depreciativo aos portadores da doença) precisam de um tratamento caro e oneroso aos contribuintes.

No canteiro central da Avenida Paulista em frente ao MASP, um grupo de homens carrega dois estandartes com bandeiras douradas de estilo medieval. No centro dos panos se destaca a imagem de Plínio Corrêa de Oliveira, criador da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), organização ultra-conservadora cristã.

O movimento que avisto, no entanto, é averso à TFP. Mas segue a doutrina de seu fundador em um instituto com o nome de Oliveira. “A TFP está na mão de dissidentes, que seguiram a linha da esquerda católica. Não podemos nos aliar a eles, somos da mais estrita doutrina católica”, prega Daniel Martins, assessor de imprensa do grupo.

A afirmação soa como piada. A TFP, como uma das organizadoras da “Marcha da Família com Deus Pela Liberdade” – que em 1964 convocou os militares a tomarem o poder no Brasil -, teria urticária à esquerda. Mantém dela, portanto, uma distância minimamente “segura”.

 

Abordo Martins poucos segundos após ele terminar de tocar sua gaita de foles. Uniformizado, ele vira a outros integrantes de um grupo de 35 pessoas e diz com voz empossada: “Um folheto para o rapaz, por favor. E um livro também.”

“Esses são os livros da campanha, pelos quais denunciamos a ação do movimento abortista e do movimento homossexual. É uma campanha pacífica, pois a atuação deste grupos leva a uma perseguição religiosa no Brasil”, esbraveja.

Com semblante sério, o militante faz referência à recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em permitir o aborto em casos de fetos anencéfalos. “Digamos que [a criança] vai morrer minutos depois do parto, por que não deixá-la morrer? Por que fazer o aborto? Para abrir as portas para outros tipos de aborto”, defende, apesar das evidências científicas da impossibilidade de sobrevivência do feto nestes casos.

Martins tenta embasar seu argumento e envereda para caminhos conspiratórios. “Muitos dados são produzidos pelas ONGs abortistas, para abrir o campo para a eugenia e o infanticídio sob o pretexto falacioso de que é direito da mulher escolher.”

O aborto é inaceitável, conclui, sem delongas. Não demora também para buscar inspiração no absurdo: “Hitler começou assim, matou os deficientes e depois os velhos. É uma manobra internacional (pela defesa dos direitos individuais) com a pressão da ONU para impor no Brasil uma prática contrária ao povo.”

O assessor de imprensa, de 25 anos, há uma década no movimento, mostra-se eficientemente doutrinado. Cita o Projeto de Lei Complementar 122, a chamada Lei da Homofobia, como uma sentença de prisão a “quem é contra a prática homossexual, mesmo que pacificamente.”

“Uma mãe de família que contrata uma babá para os seus filhos e percebe que ela é lésbica, não pode demití-la. Mesmo cumprindo todos os direitos trabalhistas, porque essa lei diz que ela pode pegar entre dois e cinco anos de cadeia”, brada. Parece desconhecer, no entanto, que a Constituição brasileira não permite a discriminação por sexo, cor ou sexualidade. As placas dos elevadores parecem estar sendo ignoradas.

 

 

Enquanto caminha pela Avenida Paulista, Martins defende que o homossexualismo é um vício e, como tal, não pode ser apoiado pelo Estado. “Há tratamento uma vez que a pessoa se viciou, muitas vezes por causa da má companhia. Temos curas e no livro há vários casos e doutores que fazem esse tratamento.”

“Eles (como se refere aos homossexuais), não querem que ninguém fale ou faça nada contra eles. A Igreja pode falar dentro de suas portas, mas fora não.” Curiosamente, não era possível avistar mulheres no grupo.

Mas e os ateus ou agnósticos contrários ao homossexualismo?, questiono.

“A maior parte da população brasileira é católica ou cristã. A maioria também é contra [o homossexualismo], então a lógica da democracia diz que seria justo legislar para ela. Não queremos um Estado que protege, prolifera e ensina nossas crianças o homossexualismo.” A democracia também prega a defesa de grupos minoritários e excluidos.

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