Sociedade

A periferia também sabe fazer moda

O projeto Periferia Inventando Moda descobre talentos das passarelas em Paraisópolis

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Quando pequenos, todos eles sonhavam em estar em uma passarela. Como quase toda criança que sonha e brinca com elementos de alguma profissão, alguns simulavam desfiles e outras situações da carreira de modelo. O grande problema é que nasceram em Paraisópolis, a maior comunidade da cidade São Paulo, onde as oportunidades surgem com muito mais dificuldade.

Agora as coisas começaram a mudar. Entre os mais de 42 mil moradores desse bairro da zona sul paulistana nasceu o Periferia Inventando Moda, um projeto de inclusão social e de democratização da cultura.

A iniciativa, criada por Alex Santos há cerca de dois anos, em parceria com Nilson Mariano, é uma série de workshops para 25 aspirantes a modelos, em aulas que acontecem no CEU Paraisópolis. Eles aprendem a desfilar, a coordenar postura e expressão e recebem orientações sobre como fazer entrevistas ou como conseguir um desfile sem a ajuda de agências. Contam, também, com suporte psicológico.

“As pessoas olham para a gente com maus olhos, mas aqui [em Paraisópolis] têm muitos talentos escondidos, é só dar oportunidades que eles vão descobrir”, diz Silas Oliveira que, aos 26 anos, busca alcançar seu sonho.

A ideia do projeto surgiu durante um desfile em que instigaram os participantes sobre levar eventos de moda para as periferias. “Isso ficou na minha cabeça porque eu moro em Paraisópolis há dez anos e estudo moda. Pensei: ‘acho que eu posso fazer isso’”, conta Alex Santos, 25 anos.

O estilista observa que a periferia tem um estilo próprio e cheio de cultura e arte, mas o que as pessoas conhecem sobre essas regiões se limita ao que está na televisão e a estereótipos de violência. “O foco do projeto é ajudar as pessoas que têm coisas pesadas na vida, problemas emocionais, por meio da transformação da autoestima e mostrar que a periferia também tem cultura”.

O diretor executivo do projeto, Nilson Mariano, 36 anos, é psicólogo e trabalha a corporalidade, expressão e autoestima dos modelos. “Você tira uma pessoa de uma situação mais precária que é a realidade da comunidade e coloca ela no protagonismo, ou seja, vai estrelar um desfile, em uma passarela. Isso mexe com a confiança e a pessoa se coloca de outra forma”.

Uma das participantes do projeto que sentiu essa transformação de forma intensa foi Sabrina Dias Couto, de 24 anos. Mesmo trabalhando e cuidando de dois filhos pequenos, Sabrina participa das aulas. “A gente tá na rua e pensa que nosso sonho não pode ser realizado, mas aqui encontrei um caminho”.

Dias conta que o Periferia Inventando Moda é um lugar para expressar seus sentimentos de forma saudável e que o projeto a fez querer estudar mais e buscar algo maior na vida. “O que ele fez por mim, e faz pelas pessoas da comunidade, se todo mundo fizesse igual seria muito bom. E eu me emociono porque com ele consegui superar muita coisa na minha vida”, diz.

“Quando eu entro na passarela, me sinto a pessoa mais importante do mundo, e nem preciso ser Gisele Bündchen, mas só de saber que tem alguém fazendo alguma coisa por mim, de coração, já é o suficiente”.

À procura de patrocinadores, agora Alex e Nilson querem levar pequenos desfiles para outros pontos da São Paulo, recrutando mais modelos de outras periferias e criar mais cursos, como o de autoimagem, estilo, maquiagem, fotografia e cabeleireiro.

A intenção é montar uma equipe de periferia, mostrando que eles podem e têm condições de criar algo próprio. “Queremos levar a cultura de moda da periferia para outros lugares e mostrar para a elite brasileira que a gente está aqui, que a gente existe, que a gente pode fazer moda também, não são só eles”.

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