Política

A greve no metrô e o pensamento utilitarista

Assisti na tevê o caos, mas encontrei no metrô funcionários dispostos a amenizar os transtornos de um sacrifício necessário

A estação Sé, a mais movimentada do Metrô, amanheceu vazia. Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP
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Como outros 4 milhões de usuários do Metrô em São Paulo, fui dormir preocupado na terça-feira 22. Durante a noite os telejornais já anunciavam que o dia seguinte seria caótico na maior cidade do País por conta da greve dos metroviários, encerrada ao fim da tarde (leia mais clicando )

Para evitar aflições, acordei mais cedo para conferir a situação por meio dos telejornais da manhã. Diante da tevê, tive o primeiro susto do dia. Em frente à estação Jabaquara, uma repórter narrava a revolta de usuários. Eles ateavam fogo em papéis e papelões como sinal da insatisfação com a greve que os faria perder um dia de trabalho.

Aos olhos do espectador, parecia mais festa do que rebelião: os manifestantes posicionados atrás da jornalista sorriam e, em meio a gestos de euforia, mostravam orgulhosos a fogueira que acabavam de montar. Pareciam felizes pelos quinze segundos de fama.

Já no estúdio do telejornal, os apresentadores pouco falavam da situação diária do sistema de transporte coletivo de São Paulo (e de outras capitais onde houve greve dos metroviários) e das baixas remunerações de seus funcionários. Era como se o caos tivesse data e hora para acabar assim que a greve se encerrasse.

Desliguei a tevê, tomei rapidamente um copo de café e saí de casa. Não podia me atrasar. Caminhei até a estação de metrô mais próxima, a Vila Mariana. Chegando lá percebo que a estação estava fechada. Apenas trechos desta linha estava em funcionamento.

Com isso, caminhei cerca de 20 minutos até a estação seguinte, a Ana Rosa, esta em operação. No caminho, via as calçadas e e pontos de ônibus superlotados. Uma moça ao meu lado, em uma conversa ao celular, descreveu a paisagem: “parece a 25 de março em época de Natal”.

Ao chegar à estação Ana Rosa, uma surpresa. Funcionários do metrô – sem uniforme mas bem vestidos (e com crachá de identificação) – paravam os usuários para perguntar se eles tinham alguma dúvida sobre o funcionamento do sistema ou sobre a greve. O tratamento dos grevistas causava estranheza em muitas pessoas, que enxergavam neles a causa do caos daquela manhã.

Já dentro do vagão, alguns diziam estranhar como o espaço estava tranquilo. “Nunca peguei um metrô assim”, diziam. Isso apesar de os assentos estarem ocupados e muitas pessoas permanecerem de pé; comparado com os horários de pico em condições normais de pressão e temperatura, o vagão parecia vazio.

Ao meu lado dois amigos relembravam do aperto que passaram até chegar à estação Paraíso. Um deles reclamava, em tom de ironia, do fato de os metroviários trabalharem de braços cruzados para evitar represálias na Justiça. “A greve é péssima para todos, mas os funcionários tem o direito de reclamar”, ponderava um deles.

Duas estações depois, descia na avenida Paulista em direção ao trabalho. O som dos helicópteros a sobrevoar a região para flagrar o trânsito eram o sinal de que seria um dia atípico.

Já na redação, uma colega moradora de Carapicuíba contava como havia sido a sua procissão entre ônibus, trens e metrô. Os vagões estavam lentos e cheios, contou, e todos só falavam da greve. “Todo mundo reclamava do aperto no trem e de como iam se atrasar.”

Outro colega, usuário do metrô e que teve de recorrer ao automóvel para chegar ao trabalho, contava como levou levou 1h25 para percorrer seis quilômetros. Na região, penou para encontrar vaga nos estacionamentos – 25 reais a diária, o que daria para fazer oito viagens de metrô.

A caminho me lembrei da greve dos professores federais atualmente em curso. Também recordei dos protestos de professores da rede pública de ensino a exigir melhores condições nas salas de aulas e reajustes salariais. Os reajustes salariais são sempre abaixo de 10% e o professor continua sendo uma das profissões menos valorizadas do País.

Ainda assim, como acontece agora com os metroviários (que pedem reajuste salarial de 15% e melhorias como direito à creche), são sempre pintados como baderneiros durante as manifestações. O pensamento coletivo parece sempre surrado pela reação utilitarista e individualista. Uma reação de quem condena o movimento a partir do desperdício de tempo nos dias de mobilizações – e não pela chance de reivindicar melhorias de um serviço que influenciará na qualidade de vida de todos pelo resto do ano.

Como outros 4 milhões de usuários do Metrô em São Paulo, fui dormir preocupado na terça-feira 22. Durante a noite os telejornais já anunciavam que o dia seguinte seria caótico na maior cidade do País por conta da greve dos metroviários, encerrada ao fim da tarde (leia mais clicando )

Para evitar aflições, acordei mais cedo para conferir a situação por meio dos telejornais da manhã. Diante da tevê, tive o primeiro susto do dia. Em frente à estação Jabaquara, uma repórter narrava a revolta de usuários. Eles ateavam fogo em papéis e papelões como sinal da insatisfação com a greve que os faria perder um dia de trabalho.

Aos olhos do espectador, parecia mais festa do que rebelião: os manifestantes posicionados atrás da jornalista sorriam e, em meio a gestos de euforia, mostravam orgulhosos a fogueira que acabavam de montar. Pareciam felizes pelos quinze segundos de fama.

Já no estúdio do telejornal, os apresentadores pouco falavam da situação diária do sistema de transporte coletivo de São Paulo (e de outras capitais onde houve greve dos metroviários) e das baixas remunerações de seus funcionários. Era como se o caos tivesse data e hora para acabar assim que a greve se encerrasse.

Desliguei a tevê, tomei rapidamente um copo de café e saí de casa. Não podia me atrasar. Caminhei até a estação de metrô mais próxima, a Vila Mariana. Chegando lá percebo que a estação estava fechada. Apenas trechos desta linha estava em funcionamento.

Com isso, caminhei cerca de 20 minutos até a estação seguinte, a Ana Rosa, esta em operação. No caminho, via as calçadas e e pontos de ônibus superlotados. Uma moça ao meu lado, em uma conversa ao celular, descreveu a paisagem: “parece a 25 de março em época de Natal”.

Ao chegar à estação Ana Rosa, uma surpresa. Funcionários do metrô – sem uniforme mas bem vestidos (e com crachá de identificação) – paravam os usuários para perguntar se eles tinham alguma dúvida sobre o funcionamento do sistema ou sobre a greve. O tratamento dos grevistas causava estranheza em muitas pessoas, que enxergavam neles a causa do caos daquela manhã.

Já dentro do vagão, alguns diziam estranhar como o espaço estava tranquilo. “Nunca peguei um metrô assim”, diziam. Isso apesar de os assentos estarem ocupados e muitas pessoas permanecerem de pé; comparado com os horários de pico em condições normais de pressão e temperatura, o vagão parecia vazio.

Ao meu lado dois amigos relembravam do aperto que passaram até chegar à estação Paraíso. Um deles reclamava, em tom de ironia, do fato de os metroviários trabalharem de braços cruzados para evitar represálias na Justiça. “A greve é péssima para todos, mas os funcionários tem o direito de reclamar”, ponderava um deles.

Duas estações depois, descia na avenida Paulista em direção ao trabalho. O som dos helicópteros a sobrevoar a região para flagrar o trânsito eram o sinal de que seria um dia atípico.

Já na redação, uma colega moradora de Carapicuíba contava como havia sido a sua procissão entre ônibus, trens e metrô. Os vagões estavam lentos e cheios, contou, e todos só falavam da greve. “Todo mundo reclamava do aperto no trem e de como iam se atrasar.”

Outro colega, usuário do metrô e que teve de recorrer ao automóvel para chegar ao trabalho, contava como levou levou 1h25 para percorrer seis quilômetros. Na região, penou para encontrar vaga nos estacionamentos – 25 reais a diária, o que daria para fazer oito viagens de metrô.

A caminho me lembrei da greve dos professores federais atualmente em curso. Também recordei dos protestos de professores da rede pública de ensino a exigir melhores condições nas salas de aulas e reajustes salariais. Os reajustes salariais são sempre abaixo de 10% e o professor continua sendo uma das profissões menos valorizadas do País.

Ainda assim, como acontece agora com os metroviários (que pedem reajuste salarial de 15% e melhorias como direito à creche), são sempre pintados como baderneiros durante as manifestações. O pensamento coletivo parece sempre surrado pela reação utilitarista e individualista. Uma reação de quem condena o movimento a partir do desperdício de tempo nos dias de mobilizações – e não pela chance de reivindicar melhorias de um serviço que influenciará na qualidade de vida de todos pelo resto do ano.

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