Sociedade

Um balanço da Eurocopa 2012, dentro e fora de campo

Fora de campo, o esforço hercúleo de dois países pobres para organizar um evento curto; dentro dele, a Espanha confirma a supremacia no futebol deste século

A Espanha campeã novamente. Quando enfrenta dificuldades, o futebol do toque de bola total acaba sendo até chato. Mas quando dá certo, se aproxima do futebol-arte. Foto: AFP
Apoie Siga-nos no

A edição 2012 da Eurocopa foi um desafio colossal para Polônia e Ucrânia, os dois países-sede da mais importante competição de seleções de futebol depois da Copa do Mundo. Dos oito estádios utilizados (quatro em cada país), quatro foram totalmente reformados e outros quatro construídos especialmente para o evento. Enfim, um esforço que parece loucura aos olhos de duas economias não muito fortes de um continente ainda submerso em crise financeira, sobretudo se levado em conta os 553 milhões de reais gastos em média para cada arena — e algumas delas receberam apenas três partidas.


O próprio Michel Platini, presidente da Uefa (entidade que organiza o futebol europeu e, portanto, a Eurocopa) andou dando declarações culpadas sobre o tamanho do esforço polonês e ucraniano, comparado com a brevidade da competição. “Se você olhar para o investimento nos estádios para apenas três jogos, é muito caro”, disse.


Levar a Euro ao leste era uma meta de campanha de Platini quando virou candidato ao cargo que hoje ocupa. De olho nos votos dos vários países menores, ele também incentivou o aumento de seleções para a próxima Eurocopa, a ser disputada na França em 2016. Serão 24 países participantes. Um dos grandes chamarizes do atual formato, com 16 seleções, é o equilibrio que ocorre já na primeira fase, quando seleções favoritas correm risco de serem eliminadas ao mínimo vacilo. Foi o que ocorreu com a Holanda desta vez. Porém, com a presença de mais seleções inexpressivas, o nível técnico do torneio deve cair, como foi na Copa do Mundo em seus dois últimos inchaços, de 16 para 24 seleções em 1982, e de 24 para 32 em 1998.


Com 24 seleções, só as potências europeias teriam condições de receber a competição. Platini, então, já começou a bolar um formato de competição mais radical para a edição 2020, com várias sedes em vários países, o que tiraria um certo charme deste tipo de evento, que ganha a cara do país (ou países) que o sedia(m). A decisão sobre o novo formato deve sair a partir de 2014.


Dentro de campo, um dos personagens principais foi Mario Balotelli, o polêmico atacante negro que esteve entre os melhores jogadores da competição. De origem ganesa, Balotelli nasceu em Palermo, mas seus pais o abandonaram aos dois anos. Foi adotado por uma família de classe média. Sua avó, judia, esteve presa num campo de concentração durante a Segunda Guerra. Balotelli, que está acostumado a ouvir insultos racistas em campos italianos, virou símbolo contra o preconceito no torneio disputado em dois países cujo grosso da população ainda despreza negros. Manifestações racistas nas arquibancadas foram ouvidas em várias partidas. O atacante italiano foi um dos poucos a se manifestar contra elas.





A chegada da Itália à final não deixa de ser uma surpresa, visto os vários problemas que a seleção enfrentou durante o evento. Havia quem não a colocasse como favorita para chegar sequer a segunda fase. A vitória sobre a mais forte, porém “freguesa” histórica Alemanha nas semifinais deu esperanças de título. Mas a goleada sofrida para a Espanha colocou tudo nos devidos lugares.


A Espanha venceu as três grandes competições que disputou nos últimos quatro anos – duas Eurocopas e uma Copa do Mundo. Já é possível dizer trranquilamente que vivemos sob a era do futebol de toque de bola espanhol, que tem na base do Barcelona (Xavi Hernandez, Andrés Iniesta e Cesc Fábregas) a grande referência. O toque de bola total dos espanhóis às vezes fica chato quando enfrenta um time que consegue neutralizá-los – Portugal o fez na semifinal, perdendo apenas na decisão por pênaltis. No entanto, quando estão inspirados, como nos 4 a 0 contra a Itália na final, ficam próximos do futebol-arte, embora isso não aconteça sempre. É a seleção do século XXI até aqui, o time a ser batido na Copa do Brasil em 2014.

A edição 2012 da Eurocopa foi um desafio colossal para Polônia e Ucrânia, os dois países-sede da mais importante competição de seleções de futebol depois da Copa do Mundo. Dos oito estádios utilizados (quatro em cada país), quatro foram totalmente reformados e outros quatro construídos especialmente para o evento. Enfim, um esforço que parece loucura aos olhos de duas economias não muito fortes de um continente ainda submerso em crise financeira, sobretudo se levado em conta os 553 milhões de reais gastos em média para cada arena — e algumas delas receberam apenas três partidas.


O próprio Michel Platini, presidente da Uefa (entidade que organiza o futebol europeu e, portanto, a Eurocopa) andou dando declarações culpadas sobre o tamanho do esforço polonês e ucraniano, comparado com a brevidade da competição. “Se você olhar para o investimento nos estádios para apenas três jogos, é muito caro”, disse.


Levar a Euro ao leste era uma meta de campanha de Platini quando virou candidato ao cargo que hoje ocupa. De olho nos votos dos vários países menores, ele também incentivou o aumento de seleções para a próxima Eurocopa, a ser disputada na França em 2016. Serão 24 países participantes. Um dos grandes chamarizes do atual formato, com 16 seleções, é o equilibrio que ocorre já na primeira fase, quando seleções favoritas correm risco de serem eliminadas ao mínimo vacilo. Foi o que ocorreu com a Holanda desta vez. Porém, com a presença de mais seleções inexpressivas, o nível técnico do torneio deve cair, como foi na Copa do Mundo em seus dois últimos inchaços, de 16 para 24 seleções em 1982, e de 24 para 32 em 1998.


Com 24 seleções, só as potências europeias teriam condições de receber a competição. Platini, então, já começou a bolar um formato de competição mais radical para a edição 2020, com várias sedes em vários países, o que tiraria um certo charme deste tipo de evento, que ganha a cara do país (ou países) que o sedia(m). A decisão sobre o novo formato deve sair a partir de 2014.


Dentro de campo, um dos personagens principais foi Mario Balotelli, o polêmico atacante negro que esteve entre os melhores jogadores da competição. De origem ganesa, Balotelli nasceu em Palermo, mas seus pais o abandonaram aos dois anos. Foi adotado por uma família de classe média. Sua avó, judia, esteve presa num campo de concentração durante a Segunda Guerra. Balotelli, que está acostumado a ouvir insultos racistas em campos italianos, virou símbolo contra o preconceito no torneio disputado em dois países cujo grosso da população ainda despreza negros. Manifestações racistas nas arquibancadas foram ouvidas em várias partidas. O atacante italiano foi um dos poucos a se manifestar contra elas.





A chegada da Itália à final não deixa de ser uma surpresa, visto os vários problemas que a seleção enfrentou durante o evento. Havia quem não a colocasse como favorita para chegar sequer a segunda fase. A vitória sobre a mais forte, porém “freguesa” histórica Alemanha nas semifinais deu esperanças de título. Mas a goleada sofrida para a Espanha colocou tudo nos devidos lugares.


A Espanha venceu as três grandes competições que disputou nos últimos quatro anos – duas Eurocopas e uma Copa do Mundo. Já é possível dizer trranquilamente que vivemos sob a era do futebol de toque de bola espanhol, que tem na base do Barcelona (Xavi Hernandez, Andrés Iniesta e Cesc Fábregas) a grande referência. O toque de bola total dos espanhóis às vezes fica chato quando enfrenta um time que consegue neutralizá-los – Portugal o fez na semifinal, perdendo apenas na decisão por pênaltis. No entanto, quando estão inspirados, como nos 4 a 0 contra a Itália na final, ficam próximos do futebol-arte, embora isso não aconteça sempre. É a seleção do século XXI até aqui, o time a ser batido na Copa do Brasil em 2014.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo