Saúde

Aids e hepatite B, epidemias concomitantes

A Aids e a hepatite B caminham de mãos dadas pelo mundo. A coinfecção potencializa os malefícios de cada vírus

Alerta. Ao menos 3 milhões de pacientes estão infectados pelos dois tipos de vírus no mundo. Foto: Noah Seelam/AFP
Apoie Siga-nos no

Por Drauzio Varella

Aids e hepatite B caminham de mãos dadas. Tanto o HIV, vírus causador da Aids, quanto o HBV, causador da hepatite B, podem provocar doenças crônicas, câncer e morte precoce. A coinfecção pelos dois vírus potencializa os malefícios de cada um deles.

Mundialmente, a infecção crônica pelo HBV é a principal causa de hepatite crônica e uma das principais causas de morte. Ela é responsável por metade de todos os casos de cirrose hepática e de hepatocarcinoma, o câncer do fígado. Há cerca de 400 milhões de pessoas portadoras de hepatite B crônica, espalhadas pelos cinco continentes, a maioria das quais concentrada na Ásia e na África. Nessas regiões, os inquéritos mostram que até 70% dos adultos entraram em contato com o HBV, e que de 8% a 15% desenvolveram hepatite crônica. Há 100 milhões de pessoas com hepatite B crônica apenas na China continental.

Esses números refletem a incapacidade de conter a transmissão materno-fetal do vírus, uma vez que a maioria das infecções nas áreas de maior endemicidade é adquirida no período neonatal, através do contato da criança com os familiares ou por meio de procedimentos médicos, religiosos ou de cunho cultural que empregam agulhas e outros instrumentos contaminados. Enquanto menos de 5% dos adultos que entram em contato com o HBV, por meio do sexo ou da exposição a instrumentos perfurocortantes, desenvolvem a forma crônica da doença, a infecção perinatal está associada a um risco de 90%. A maior parte dos que adquiriram o vírus dessa forma chega às fases finais de cirrose e câncer de fígado ao redor dos 30 ou 40 anos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, existem 33 milhões de pessoas infectadas pelo HIV. Cerca de 10% dessa população é também portadora de infecção crônica pelo HBV. Em áreas endêmicas da Ásia e da África, a concomitância das duas infecções pode chegar a 25%. Nos países com prevalência mais baixa de ambas as viroses, nos quais o HBV e o HIV são adquiridos quase sempre na vida adulta por via sexual ou uso de agulhas contaminadas, a existência da infeção dupla costuma estar abaixo de 10%, número que pode subir para 50% entre os usuários de drogas injetáveis.

Mundialmente, o número de portadores da coinfecção crônica HIV/HBV é estimado entre 3 milhões e 6 milhões.

A coinfecção aumenta a morbidade e a mortalidade associada a cada um dos vírus isoladamente. Pessoas HIV positivas que adquirem o HBV evoluem para hepatite B crônica cinco vezes mais depressa do que as infectadas unicamente pelo HBV e correm risco mais alto de desenvolver cirrose e hepatocarcinoma. Mulheres infectadas pelos dois vírus correm mais risco de transmiti-los para seus filhos do que as portadoras de apenas um deles.

A vacinação dos bebês contra a hepatite B é eficaz: protege cerca de 70% dos vacinados. Se ao mesmo tempo a criança receber a imunoglobulina contra a hepatite B, a proteção chega perto dos 90%. A dificuldade está no custo da imunoglobulina. Em 2006, por exemplo, nos países de prevalência mais alta da hepatite B, a cobertura vacinal da primeira dose após o nascimento foi de apenas 36%.

Enquanto o tratamento antiviral em mulheres grávidas portadoras do HIV reduz a transmissão perinatal do vírus da Aids a níveis próximos de zero, o uso de antivirais contra a hepatite B na gravidez foi avaliado só em ensaios clínicos com um pequeno número de casos. Apesar dessa limitação, os resultados são promissores.

O ideal é que todas as mulheres façam os testes para Aids e hepatite no período pré-natal. As que apresentarem resultados positivos devem receber tratamento. A estratégia de usar dois medicamentos com atividade antiviral contra o HIV que também sejam ativos contra o HBV tem sido estudada com maior interesse.

No Brasil, a vacinação dos bebês contra a hepatite B é oferecida pelo SUS.

Por Drauzio Varella

Aids e hepatite B caminham de mãos dadas. Tanto o HIV, vírus causador da Aids, quanto o HBV, causador da hepatite B, podem provocar doenças crônicas, câncer e morte precoce. A coinfecção pelos dois vírus potencializa os malefícios de cada um deles.

Mundialmente, a infecção crônica pelo HBV é a principal causa de hepatite crônica e uma das principais causas de morte. Ela é responsável por metade de todos os casos de cirrose hepática e de hepatocarcinoma, o câncer do fígado. Há cerca de 400 milhões de pessoas portadoras de hepatite B crônica, espalhadas pelos cinco continentes, a maioria das quais concentrada na Ásia e na África. Nessas regiões, os inquéritos mostram que até 70% dos adultos entraram em contato com o HBV, e que de 8% a 15% desenvolveram hepatite crônica. Há 100 milhões de pessoas com hepatite B crônica apenas na China continental.

Esses números refletem a incapacidade de conter a transmissão materno-fetal do vírus, uma vez que a maioria das infecções nas áreas de maior endemicidade é adquirida no período neonatal, através do contato da criança com os familiares ou por meio de procedimentos médicos, religiosos ou de cunho cultural que empregam agulhas e outros instrumentos contaminados. Enquanto menos de 5% dos adultos que entram em contato com o HBV, por meio do sexo ou da exposição a instrumentos perfurocortantes, desenvolvem a forma crônica da doença, a infecção perinatal está associada a um risco de 90%. A maior parte dos que adquiriram o vírus dessa forma chega às fases finais de cirrose e câncer de fígado ao redor dos 30 ou 40 anos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, existem 33 milhões de pessoas infectadas pelo HIV. Cerca de 10% dessa população é também portadora de infecção crônica pelo HBV. Em áreas endêmicas da Ásia e da África, a concomitância das duas infecções pode chegar a 25%. Nos países com prevalência mais baixa de ambas as viroses, nos quais o HBV e o HIV são adquiridos quase sempre na vida adulta por via sexual ou uso de agulhas contaminadas, a existência da infeção dupla costuma estar abaixo de 10%, número que pode subir para 50% entre os usuários de drogas injetáveis.

Mundialmente, o número de portadores da coinfecção crônica HIV/HBV é estimado entre 3 milhões e 6 milhões.

A coinfecção aumenta a morbidade e a mortalidade associada a cada um dos vírus isoladamente. Pessoas HIV positivas que adquirem o HBV evoluem para hepatite B crônica cinco vezes mais depressa do que as infectadas unicamente pelo HBV e correm risco mais alto de desenvolver cirrose e hepatocarcinoma. Mulheres infectadas pelos dois vírus correm mais risco de transmiti-los para seus filhos do que as portadoras de apenas um deles.

A vacinação dos bebês contra a hepatite B é eficaz: protege cerca de 70% dos vacinados. Se ao mesmo tempo a criança receber a imunoglobulina contra a hepatite B, a proteção chega perto dos 90%. A dificuldade está no custo da imunoglobulina. Em 2006, por exemplo, nos países de prevalência mais alta da hepatite B, a cobertura vacinal da primeira dose após o nascimento foi de apenas 36%.

Enquanto o tratamento antiviral em mulheres grávidas portadoras do HIV reduz a transmissão perinatal do vírus da Aids a níveis próximos de zero, o uso de antivirais contra a hepatite B na gravidez foi avaliado só em ensaios clínicos com um pequeno número de casos. Apesar dessa limitação, os resultados são promissores.

O ideal é que todas as mulheres façam os testes para Aids e hepatite no período pré-natal. As que apresentarem resultados positivos devem receber tratamento. A estratégia de usar dois medicamentos com atividade antiviral contra o HIV que também sejam ativos contra o HBV tem sido estudada com maior interesse.

No Brasil, a vacinação dos bebês contra a hepatite B é oferecida pelo SUS.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.