Política

O que há de político no caso Celso Daniel

Depois de dez anos, a morte do prefeito de Santo André continua envolta em mistério e dúvidas

O prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel
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Na quinta-feira, o Ministério Público de São Paulo conseguiu, no Fórum de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, condenar mais três pessoas envolvidas no assassinato, ocorrido em 2002, de Celso Daniel (PT), então prefeito de Santo André. Ao condenar os três, o MP acredita ter reforçado a tese segundo a qual há conotações políticas por trás do crime. A existência, bem como a extensão e a profundidade deste pano de fundo político, entretanto, continuam envoltas em muito mistério e dúvidas.

Na acusação apresentada em Itapecerica, o promotor Márcio Augusto Friggi de Carvalho fez uma analogia sobre o crime que ajuda a explicar como foi organizado o plano de assassinar Celso Daniel. Segundo ele, o crime tinha uma “cabeça”, Sergio Gomes da Silva, o “Sombra”, segurança de Daniel que até hoje aguarda julgamento em liberdade. O “tronco” da organização era Dionísio Aquino Severo, ex-segurança do segurança Sombra e que foi resgatado (de helicóptero) de um presídio em Guarulhos antes do crime. Os “membros” eram uma quadrilha da favela Pantanal, em São Bernardo do Campo, também na Grande São Paulo. Um desses membros, Marcos Bispo dos Santos, foi condenado em 2010. Três, Ivan Rodrigues da Silva, José Edison da Silva e Rodolfo Rodrigo dos Santos, na quinta-feira. Outros dois, Itamar Messias da Silva e Elcyd Oliveira Brito, serão julgados dia 16.

A conexão política da morte de Celso Daniel se dá por meio de Sombra. Segundo o Ministério Público, Sombra participava de um esquema de corrupção no setor de transportes de Santo André que envolvia também o empresário Ronan Maria Pinto, diretor-presidente do jornal Diário do Grande ABC, e Klinger Luiz de Oliveira Sousa, secretário municipal em Santo André na gestão de Daniel. Os três eram conhecidos como “três mosqueteiros”. O dinheiro desviado tinha, segundo o MP, pelo menos duas destinações. Uma delas seria a criação de caixa 2 para partidos políticos, entre eles o PT, partido de Daniel. Outra seria o benefício pessoal dos “três mosqueteiros”. Para o MP, ao descobrir essa segunda vertente de arrecadação, Celso Daniel teria se tornado alvo da quadrilha. “Quando ele descobriu que o dinheiro do esquema estava engordando o bolso dos participantes, não concordou. Queria voltar ao esquema inicial de caixa dois do PT”, disse o promotor Márcio Friggi.

Na investigação inicial, a Polícia Civil concluiu que o assassinato fora um crime comum. A tese de crime político defendida pelo MP surgiu com base em depoimentos. A família de Daniel afirma ter ouvido de Gilberto Carvalho, então secretário na prefeitura de Santo André e atual secretário-geral da presidência, que malas de dinheiro (totalizando R$ 1,2 milhão) oriundo do esquema foram levadas para o então deputado federal José Dirceu (PT) para a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. Miriam Belchior, ex-mulher de Celso Daniel (e atual ministra do Planejamento), também teria confirmado a versão, segundo a família do prefeito. A cúpula do PT nega de forma veemente essa versão.

Nas investigações que fez para desvendar o crime, o MP não conseguiu descobrir a existência de algo acima da “cabeça” da organização, o Sombra. Se descobrisse algum envolvimento de gente do PT no esquema, esse fato abalaria a República. Não simplesmente por conta do esquema de corrupção – que atualmente é alvo de processo no Fórum de Santo André – mas porque ele teria gerado a morte de Celso Daniel e de sete outras pessoas relacionadas ao crime como testemunhas ou envolvidos. Foram assassinados, entre outros, Dionísio Severo, o “tronco” da organização; um garçom que dizia ter testemunhado encontros entre Daniel e “os três mosqueteiros”, nos quais Sombra, Ronan e Klinger trocavam grandes quantidades de dinheiro; e até o agente funerário que descobriu o corpo de Celso Daniel em uma estrada de terra em Juquitiba. O que comprometeu o PT é o que a família de Celso Daniel chama de tentativa de abafar o caso. Na quinta-feira, durante o julgamento de três dos acusados, Bruno, irmão de Celso Daniel, criticou o então deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT, e o então deputado estadual Jamil Murad, do PCdoB. Os dois, de acordo com Bruno, disseram à família que o prefeito não havia sido torturado. Laudos necroscópicos, entretanto, comprovam a tortura. O que livra partidos políticos de envolvimento direto no crime é uma constatação simples. No emaranhado de provas obtidas pela Polícia Civil e pelo MP, há um assassinato e um esquema de corrupção, interligados, segundo o MP, apenas por Sombra. Klinger e Ronan, este acusado de envolvimento no assassinato pelo advogado Calixto Antônio Júnior, não são réus no processo. Salvo um fato novo, as coisas ficarão desta forma.

Em fevereiro, durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Bruno, o irmão de Celso Daniel, afirmou que o esquema de caixa 2 para financiamento de campanhas não abastecia apenas o PT, mas também outros partidos. Na quinta-feira, durante o julgamento, Bruno disse que o objetivo de sua família não se restringia apenas a procurar justiça para os assassinos de Celso Daniel. Eles desejam, também, que o caso sirva de exemplo “para mudar a forma como se faz política no Brasil”. A cruzada da família do prefeito é contra um mal maior. É, sem dúvida, uma luta fundamental para o Brasil, mas uma para a qual há pouca esperança.

Na quinta-feira, o Ministério Público de São Paulo conseguiu, no Fórum de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, condenar mais três pessoas envolvidas no assassinato, ocorrido em 2002, de Celso Daniel (PT), então prefeito de Santo André. Ao condenar os três, o MP acredita ter reforçado a tese segundo a qual há conotações políticas por trás do crime. A existência, bem como a extensão e a profundidade deste pano de fundo político, entretanto, continuam envoltas em muito mistério e dúvidas.

Na acusação apresentada em Itapecerica, o promotor Márcio Augusto Friggi de Carvalho fez uma analogia sobre o crime que ajuda a explicar como foi organizado o plano de assassinar Celso Daniel. Segundo ele, o crime tinha uma “cabeça”, Sergio Gomes da Silva, o “Sombra”, segurança de Daniel que até hoje aguarda julgamento em liberdade. O “tronco” da organização era Dionísio Aquino Severo, ex-segurança do segurança Sombra e que foi resgatado (de helicóptero) de um presídio em Guarulhos antes do crime. Os “membros” eram uma quadrilha da favela Pantanal, em São Bernardo do Campo, também na Grande São Paulo. Um desses membros, Marcos Bispo dos Santos, foi condenado em 2010. Três, Ivan Rodrigues da Silva, José Edison da Silva e Rodolfo Rodrigo dos Santos, na quinta-feira. Outros dois, Itamar Messias da Silva e Elcyd Oliveira Brito, serão julgados dia 16.

A conexão política da morte de Celso Daniel se dá por meio de Sombra. Segundo o Ministério Público, Sombra participava de um esquema de corrupção no setor de transportes de Santo André que envolvia também o empresário Ronan Maria Pinto, diretor-presidente do jornal Diário do Grande ABC, e Klinger Luiz de Oliveira Sousa, secretário municipal em Santo André na gestão de Daniel. Os três eram conhecidos como “três mosqueteiros”. O dinheiro desviado tinha, segundo o MP, pelo menos duas destinações. Uma delas seria a criação de caixa 2 para partidos políticos, entre eles o PT, partido de Daniel. Outra seria o benefício pessoal dos “três mosqueteiros”. Para o MP, ao descobrir essa segunda vertente de arrecadação, Celso Daniel teria se tornado alvo da quadrilha. “Quando ele descobriu que o dinheiro do esquema estava engordando o bolso dos participantes, não concordou. Queria voltar ao esquema inicial de caixa dois do PT”, disse o promotor Márcio Friggi.

Na investigação inicial, a Polícia Civil concluiu que o assassinato fora um crime comum. A tese de crime político defendida pelo MP surgiu com base em depoimentos. A família de Daniel afirma ter ouvido de Gilberto Carvalho, então secretário na prefeitura de Santo André e atual secretário-geral da presidência, que malas de dinheiro (totalizando R$ 1,2 milhão) oriundo do esquema foram levadas para o então deputado federal José Dirceu (PT) para a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. Miriam Belchior, ex-mulher de Celso Daniel (e atual ministra do Planejamento), também teria confirmado a versão, segundo a família do prefeito. A cúpula do PT nega de forma veemente essa versão.

Nas investigações que fez para desvendar o crime, o MP não conseguiu descobrir a existência de algo acima da “cabeça” da organização, o Sombra. Se descobrisse algum envolvimento de gente do PT no esquema, esse fato abalaria a República. Não simplesmente por conta do esquema de corrupção – que atualmente é alvo de processo no Fórum de Santo André – mas porque ele teria gerado a morte de Celso Daniel e de sete outras pessoas relacionadas ao crime como testemunhas ou envolvidos. Foram assassinados, entre outros, Dionísio Severo, o “tronco” da organização; um garçom que dizia ter testemunhado encontros entre Daniel e “os três mosqueteiros”, nos quais Sombra, Ronan e Klinger trocavam grandes quantidades de dinheiro; e até o agente funerário que descobriu o corpo de Celso Daniel em uma estrada de terra em Juquitiba. O que comprometeu o PT é o que a família de Celso Daniel chama de tentativa de abafar o caso. Na quinta-feira, durante o julgamento de três dos acusados, Bruno, irmão de Celso Daniel, criticou o então deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT, e o então deputado estadual Jamil Murad, do PCdoB. Os dois, de acordo com Bruno, disseram à família que o prefeito não havia sido torturado. Laudos necroscópicos, entretanto, comprovam a tortura. O que livra partidos políticos de envolvimento direto no crime é uma constatação simples. No emaranhado de provas obtidas pela Polícia Civil e pelo MP, há um assassinato e um esquema de corrupção, interligados, segundo o MP, apenas por Sombra. Klinger e Ronan, este acusado de envolvimento no assassinato pelo advogado Calixto Antônio Júnior, não são réus no processo. Salvo um fato novo, as coisas ficarão desta forma.

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