Política

‘Não vou permitir que um tucano volte a ser presidente’

O ex-presidente aproveitou a entrevista para apresentar Haddad ao grande público e dar recado a opositores

Lula e Ratinho. Foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula
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Teve Corinthians, histórias sobre rabadas, troca de afagos, depoimento de Ronaldo Fenômeno, música de Geraldo Vandré e até brinde com cerveja oferecido por Zeca Pagodinho. Mas a entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Programa do Ratinho, do SBT, serviu basicamente para dois objetivos: tentar alavancar a candidatura de Fernando Haddad junto ao grande público e mandar recados (muitos) para a oposição.

Descontraído na maior parte do tempo, Lula subiu o tom, apesar da voz ainda debilitada, para dizer que não permitirá que “um tucano volte à Presidência do Brasil”. Disse que, para isso, aceitaria até  voltar a ser candidato.

“Xi, o Serra então está ferrado”, brincou Carlos Massa, o Ratinho – que se apresentou como “grande amigo” do ex-presidente.

E foi no último minuto da entrevista que o apresentador e amigo perguntou ao ex-presidente sobre a polêmica envolvendo o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que acusa Lula de oferecer apoio à CPI do Cachoeira em troca do adiamento do julgamento do mensalão (Mendes é suspeito de ter viajado a Berlim com dinheiro pago pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, o que ele nega).

“Vou perguntar apesar de saber que a população não está entendendo isso”, frisou Ratinho.

“Não tenho interesse em falar nesse assunto, porque já respondi em nota. Quem inventou que prove. Quem acreditou, que prove. O dado concreto é que o Brasil hoje é muito melhor, e vai melhorar ainda mais.” E completou: “Quero que o Brasil que teve ascensão nunca mais  retroceda.”

Fernando Haddad, que estava na primeira fileira da plateia, foi apresentado ao público logo na primeira pergunta feita por Ratinho. Sobre o Corinthians. “Esse seu defeito de ser corintiano continua, né, presidente?”

Na resposta, Lula lembrou que no Brasil existem os corintianos e os anti-corintianos, mas disse lidar bem com torcedores de outros times, como o são-paulino Haddad.

Não demorou e o ex-ministro da Educação, chamado de “galã” pelo apresentador, já estava do lado do ex-presidente numa cadeira à parte do palco. “Por que ele foi escolhido?”, perguntou Ratinho.

“Achava que era o momento de a gente apresentar uma coisa nova”, explicou o ex-presidente antes de apresentar as credenciais do afilhado: São Paulo, nas palavras do petista, precisa de um prefeito como o ministro da Educação que criou o Prouni e colocou um milhão de jovem da periferia na universidade.

Lula afirmou que Haddad, que patina nas pesquisas de intenção de voto, foi o ministro que mais criou escolas técnicas (214) e mais construiu universidades federais (14).

No mesmo instante, o apresentador chamou um VT sobre o Prouni, no qual uma beneficiária do programa dizia que, antes, a universidade não era lugar para pobre.

De terno cinza e camisa branca, sem gravata, Haddad ouviu o ex-presidente dizer que as mudanças na educação provocaram “a maior revolução já foi feita no País”.

O entrevistado, então, passou a ser Haddad. “O que um prefeito de São Paulo pode fazer para melhorar?”, levantou o apresentador.

“A saúde é problema número 1”, cortou o ex-ministro. Ele criticou a gestão municipal, falou do “drama das filas” dos hospitais e citou a desarticulação do SUS. “Foram injetados recursos novos, mas gestão de recursos não está tão boa.”

Por fim, citou os investimentos federais em educação (o orçamento, segundo ele, subiu de 20 bilhões para 80 bilhões de reais) e disse que os governos Lula e Dilma Rousseff melhoraram a vida econômica dos brasileiros da porta de casa para dentro, mas fora faltavam segurança e professores. “Isso é papel do prefeito”.

Foi uma jogada arriscada: Haddad e o PT podem ser punidos caso o Tribunal Regional Eleitoral entenda que a entrevista serviu como propaganda antecipada, embora o candidato não tenha pedido voto de forma direta. A campanha só começa oficialmente em julho.

De volta à cena, Lula fez elogios à presidenta Dilma e ironizou os que o criticam por manterem a amizade. “Não há possibilidade de divergência entre Dilma e eu. No dia que tiver, eu retiro o que pensei e ela fica.”

Lula disse também que será cabo eleitoral para reelegê-la, e que só voltaria a se candidatar se ela não quisesse – ainda assim, apenas para evitar a volta dos tucanos ao poder.

O ex-presidente aproveitou a entrevista para criticar o papel da oposição em seu governo. Lembrou a articulação para derrubar a CPMF, a maior derrota de seu governo no Congresso. “Me tiraram 40 bilhões pra aplicar na saúde, com a intenção de me prejudicar. Foram mais de 120 bilhões no último mandato. Tínhamos um programa de saúde, queríamos colocar oftalmologista, dentista e otorrino dentro da escola. A CPMF era imposto para rico e foi derrubada porque evitava a sonegação”, disse.

Recém-curado de um câncer na laringe, Lula disse que o ideal era que todos os brasileiros tivessem, como ele, a possibilidade de se tratar em hospitais como o Sirio-Libanês. E ironizou os brasileiros que reclamam de pagar planos de saúde privados e descontam os gastos no Imposto de Renda. “Universalizar a saúde não é brincadeira. Precisa ter dinheiro”.

Ele citou avanços como a queda da mortalidade e desnutrição e o aumento de atendimentos a pacientes de câncer pelo SUS. Ainda assim, garantiu que os avanços são menores que qualquer presidente gostaria de alcançar.

Na entrevista, houve tempo ainda pra falar sobre o tratamento contra o câncer, os primeiros dias em casa após deixar a Presidência e de pedir para o apresentador intermediar um encontro com um pastor evangélico que lhe mandara um abraço. “Quero conversar com ele”, disse Lula, já de olho na parcela do eleitorado religioso que pode ser decisiva na próxima eleição.

 

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Descontraído na maior parte do tempo, Lula subiu o tom, apesar da voz ainda debilitada, para dizer que não permitirá que “um tucano volte à Presidência do Brasil”. Disse que, para isso, aceitaria até  voltar a ser candidato.

“Xi, o Serra então está ferrado”, brincou Carlos Massa, o Ratinho – que se apresentou como “grande amigo” do ex-presidente.

E foi no último minuto da entrevista que o apresentador e amigo perguntou ao ex-presidente sobre a polêmica envolvendo o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que acusa Lula de oferecer apoio à CPI do Cachoeira em troca do adiamento do julgamento do mensalão (Mendes é suspeito de ter viajado a Berlim com dinheiro pago pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, o que ele nega).

“Vou perguntar apesar de saber que a população não está entendendo isso”, frisou Ratinho.

“Não tenho interesse em falar nesse assunto, porque já respondi em nota. Quem inventou que prove. Quem acreditou, que prove. O dado concreto é que o Brasil hoje é muito melhor, e vai melhorar ainda mais.” E completou: “Quero que o Brasil que teve ascensão nunca mais  retroceda.”

Fernando Haddad, que estava na primeira fileira da plateia, foi apresentado ao público logo na primeira pergunta feita por Ratinho. Sobre o Corinthians. “Esse seu defeito de ser corintiano continua, né, presidente?”

Na resposta, Lula lembrou que no Brasil existem os corintianos e os anti-corintianos, mas disse lidar bem com torcedores de outros times, como o são-paulino Haddad.

Não demorou e o ex-ministro da Educação, chamado de “galã” pelo apresentador, já estava do lado do ex-presidente numa cadeira à parte do palco. “Por que ele foi escolhido?”, perguntou Ratinho.

“Achava que era o momento de a gente apresentar uma coisa nova”, explicou o ex-presidente antes de apresentar as credenciais do afilhado: São Paulo, nas palavras do petista, precisa de um prefeito como o ministro da Educação que criou o Prouni e colocou um milhão de jovem da periferia na universidade.

Lula afirmou que Haddad, que patina nas pesquisas de intenção de voto, foi o ministro que mais criou escolas técnicas (214) e mais construiu universidades federais (14).

No mesmo instante, o apresentador chamou um VT sobre o Prouni, no qual uma beneficiária do programa dizia que, antes, a universidade não era lugar para pobre.

De terno cinza e camisa branca, sem gravata, Haddad ouviu o ex-presidente dizer que as mudanças na educação provocaram “a maior revolução já foi feita no País”.

O entrevistado, então, passou a ser Haddad. “O que um prefeito de São Paulo pode fazer para melhorar?”, levantou o apresentador.

“A saúde é problema número 1”, cortou o ex-ministro. Ele criticou a gestão municipal, falou do “drama das filas” dos hospitais e citou a desarticulação do SUS. “Foram injetados recursos novos, mas gestão de recursos não está tão boa.”

Por fim, citou os investimentos federais em educação (o orçamento, segundo ele, subiu de 20 bilhões para 80 bilhões de reais) e disse que os governos Lula e Dilma Rousseff melhoraram a vida econômica dos brasileiros da porta de casa para dentro, mas fora faltavam segurança e professores. “Isso é papel do prefeito”.

Foi uma jogada arriscada: Haddad e o PT podem ser punidos caso o Tribunal Regional Eleitoral entenda que a entrevista serviu como propaganda antecipada, embora o candidato não tenha pedido voto de forma direta. A campanha só começa oficialmente em julho.

De volta à cena, Lula fez elogios à presidenta Dilma e ironizou os que o criticam por manterem a amizade. “Não há possibilidade de divergência entre Dilma e eu. No dia que tiver, eu retiro o que pensei e ela fica.”

Lula disse também que será cabo eleitoral para reelegê-la, e que só voltaria a se candidatar se ela não quisesse – ainda assim, apenas para evitar a volta dos tucanos ao poder.

O ex-presidente aproveitou a entrevista para criticar o papel da oposição em seu governo. Lembrou a articulação para derrubar a CPMF, a maior derrota de seu governo no Congresso. “Me tiraram 40 bilhões pra aplicar na saúde, com a intenção de me prejudicar. Foram mais de 120 bilhões no último mandato. Tínhamos um programa de saúde, queríamos colocar oftalmologista, dentista e otorrino dentro da escola. A CPMF era imposto para rico e foi derrubada porque evitava a sonegação”, disse.

Recém-curado de um câncer na laringe, Lula disse que o ideal era que todos os brasileiros tivessem, como ele, a possibilidade de se tratar em hospitais como o Sirio-Libanês. E ironizou os brasileiros que reclamam de pagar planos de saúde privados e descontam os gastos no Imposto de Renda. “Universalizar a saúde não é brincadeira. Precisa ter dinheiro”.

Ele citou avanços como a queda da mortalidade e desnutrição e o aumento de atendimentos a pacientes de câncer pelo SUS. Ainda assim, garantiu que os avanços são menores que qualquer presidente gostaria de alcançar.

Na entrevista, houve tempo ainda pra falar sobre o tratamento contra o câncer, os primeiros dias em casa após deixar a Presidência e de pedir para o apresentador intermediar um encontro com um pastor evangélico que lhe mandara um abraço. “Quero conversar com ele”, disse Lula, já de olho na parcela do eleitorado religioso que pode ser decisiva na próxima eleição.

 

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