Política

Morte de Teori Zavascki inspira teorias da conspiração

Relato do ministro a respeito de ameaças sofridas e áudio da Lava Jato sobre seu perfil “fechado” ampliam a imaginação do brasileiro

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A morte do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki se soma a um rol de episódios em que autoridades brasileiras morreram em circunstâncias não esclarecidas ou duvidosas. Zavascki morreu, junto com outras quatro pessoas, na quinta-feira 19 após a aeronave em que estava cair no mar de Paraty (RJ). As causas do acidente serão investigadas.

O ministro era relator da Operação Lava Jato no Supremo. Sua morte deve atrasar o andamento da investigação e pode até mesmo alterar o curso da operação. Para os próximos dias era aguardada a homologação, por Zavascki, de diversas delações da construtora Odebrecht.

A posição delicada em que Zavascki estava tem alimentado a imaginação dos brasileiros e não faltam o que aparentam ser teorias da conspiração para tentar explicar a morte do ministro.

Também foi assim com as mortes do ex-presidente Juscelino Kubitschek (1961), de Ulysses Guimarães (1992), do prefeito de Santo André Celso Daniel (2002) e do ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência Eduardo Campos (2014). O corpo de “Dr. Ulysses”, que sofreu um acidente de avião no mesmo local onde caiu o bimotor que levava Zavascki, nunca foi encontrado.

O delegado federal Marcio Adriano Anselmo, uma das principais figuras na força-tarefa da Lava Jato, pediu uma investigação “a fundo” do acidente, ocorrido “na véspera da homologação da colaboração premiada da Odebrecht”. 

“Esse ‘acidente’ deve ser investigado a fundo”, escreveu em sua página no Facebook, destacando a palavra “acidente” entre aspas, conforme noticiou o jornal Folha de S.Paulo. Depois, o delegado disse à reportagem que o post foi um “desabafo pessoal”.

As teorias que envolvem a morte do ministro ganham força com fatos recentes vividos por ele e sua família. Em março de 2016, antes do impeachment de Dilma Rousseff, Zavascki foi hostilizado por manifestantes anti-PT depois de contestar uma decisão do juiz federal Sergio Moro.

Na ocasião, o ministro decidiu que a investigação de escutas telefônicas que envolviam Dilma e o ex-presidente Lula deveria ser enviada ao Supremo. Na noite de 22 de março, um grupo foi à casa de Zavascki em Porto Alegre e pendurou na fachada do prédio uma faixa de “Teori traidor”.

Em maio, Francisco Prehn Zavascki, filho do ministro, escreveu no Facebook que sua família estava sofrendo ameaças.

“É obvio que há movimentos dos mais variados tipos para frear a Lava Jato. Penso que é até infantil imaginar que não há, isto é, que criminosos do pior tipo (conforme o MPF afirma) simplesmente resolveram se submeter à lei! Acredito que a lei e as instituições vão vencer. Porém, alerto: se algo acontecer com alguém da minha família, vocês já sabem onde procurar…! Fica o recado!”.

Nesta sexta-feira 20, contudo, o filho do ministro disse torcer para que seja um acidente. “Eu, sinceramente, torço para que tenha sido um acidente. Acho que seria muito ruim para o País saber que meu pai foi assassinado”, disse Francisco Zavascki à imprensa.

No mês seguinte ao post do filho no Facebook, o ministro confirmou a ameaça durante um evento no Rio de Janeiro, mas minimizou seu conteúdo. “Não tenho recebido nada sério.”

O perfil reservado do ministro, avesso a holofotes, foi tema de conversa entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

Nessa conversa, frequentemente lembrada em discussões conspiratórias nas redes sociais, gravada em março e divulgada em maio de 2016, Jucá sugere que apenas uma “mudança” no governo federal – que, segundo ele, seria resultado de “pacto” nacional, “com o Supremo, com tudo” – poderia “estancar essa sangria” provocada pela Operação Lava Jato. 

Em outro momento da conversa, Machado afirma que o ideal seria buscar um elo com Zavascki. “Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori, mas parece que não tem ninguém”, diz, ao que Jucá responde: Não tem. É um cara fechado, foi ela (Dilma) que botou. Um cara… burocrata. Da… ex-ministro do STJ.”

Com a morte de Zavascki, a relatoria da Lava Jato pode ser designada ao ministro que o substituirá na Corte, a ser escolhido por Michel Temer, citado nas investigações. A presidenta do STF, ministra Cármen Lúcia, porém, pode abrir uma exceção.

Acidente

No que pesem as teorias da conspiração em curso, é importante lembrar que pelo menos outros dois aviões bimotor já caíram na mesma região – conhecida como Costa Verde – em que se acidentou a aeronave que levava o ministro: o primeiro em 2013, que deixou três mortos; e o segundo em 2016, com duas vítimas.

O acidente aconteceu próximo à Ilha Rasa, a dois quilômetros da cabeceira da pista do aeroporto, no litoral de Paraty. O avião modelo Beechcraft C90GT decolou do aeroporto Campo de Marte, em São Paulo, e caiu no mar por volta das 13h30, momento em que chovia em Paraty. 

O aeroporto da cidade não está equipado para pousos por meio de instrumentos, o que pode dificultar aterrissagens de aeronaves em momentos de baixa visibilidade. Também não há torre de controle ou estação meteorológica no local. 

O avião, cuja capacidade é de oito passageiros, era de propriedade do hotel Emiliano, um luxuoso empreendimento com sedes em São Paulo e no Rio de Janeiro.

De acordo com informações da Folha de S.Paulo, as horas após a queda da aeronave foram “movimentadas” no hangar do Campo de Marte onde o bimotor era guardado. Por volta das 19h, diz o jornal, um funcionário chegou ao local dizendo ser o responsável pelas câmeras de segurança e recolheu computadores do hangar. Minutos depois, membros da Aeronáutica e da Polícia Federal também estiveram no local em busca das imagens do circuito interno.

O Ministério Público Federal de Angra dos Reis (RJ) abriu inquérito para apurar as causas do acidente. A Polícia Federal também vai investigar o caso.

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